O mais recente livro de Jeferson Tenório começou a alçar seus primeiros lançamentos internacionais. Recentemente, De Onde Eles Vêm foi publicada em Portugal, repetindo a trajetória das últimas obras do autor que também chegaram ao país europeu.
O romance tem como pano de fundo a introdução do sistema de cotas dentro das universidades brasileiras.
“Eu defendo que a gente tem que ter cotas em todos os setores que a gente puder ter. A gente já entendeu a importância da representação”, afirma o escritor, autor do premiado O Avesso da Pele, em entrevista ao Conversa Bem Viver desta quinta-feira (29).
No entanto, o escritor vai além. Para ele já está na hora do país avançar no debate: “A ideia de representação, ao meu ver, está ultrapassada, porque ela já foi cooptada pelo capital.”
“Ela já foi cooptada no sentido que se entendeu que a representatividade também gera lucro. Eu tô dizendo que pega bem para uma empresa pensar um representante negro, uma representante mulher, um representante gay, um representante indígena”.
“Aí é só dizer, ‘bom, o problema aqui na nossa empresa está resolvido’. Na verdade, o que a gente está falando não é mais de representatividade, a gente está falando de proporção, proporcionalidade”.
“A gente precisa ter mais pessoas negras ocupando esses espaços, porque as pessoas negras são diferentes.”
Confira a entrevista na íntegra
Seu livro mais recente acabou de ser lançado em Portugal. O senhor acredita que a obra pode fortalecer o debate contra a xenofobia que atinge brasileiros no país?
Eu acho que sim. Em termos de debates, o Brasil está muito mais avançado do que qualquer país da Europa.
Lá, ainda há uma negação cultural, de olhar para as origens, de olhar para o estrangeiro. E as discussões que a gente tem tido no Brasil, embora a gente também tenha problemas com racismo, com preconceito, a gente já tem uma certa gramática que faz parte já da vida social do brasileiro, embora estejamos falando de bolhas.
Eu vejo que em Portugal, especialmente, [o debate] ainda é visto como uma novidade. Quando o Avesso da Pele foi lançado em 2021, por exemplo, o debate da violência policial era uma novidade para os portugueses ou os outros tipos de racismos que vem acontecendo.
A que o senhor atribui essa sua constatação que o Brasil está mais avançado em debates como a questão racial?
Eu acho que a gente está mais avançado na questão racial porque é uma questão cotidiana no Brasil. E no caso da Europa, não tem a ver necessariamente com a cor da pele, né?
Tem mais a ver da onde vem esse estrangeiro. A qual país ele pertence. Então mesmo que você seja uma pessoa branca, sei lá, loira, de olhos azuis, mas for da América Latina, não faz diferença. No sentido de que você vai sofrer uma discriminação pela sua origem, não necessariamente pela sua cor.
Sei lá, daqui a pouco você vai ter londrinos negros, que nasceram em Londres, e que não vão sofrer uma discriminação por serem londrinos. Então tem uma complexidade diferente da complexidade do Brasil, em que há o valor epidérmico, ou seja, quanto mais escuro é a cor da pele, mais propensa é a discriminação.
No Brasil sim. No Brasil a gente tem um debate que vem desde a década de 1970, com os movimentos negros, com os coletivos negros, com os escritores negros também. Então acho que isso facilita que a gente tenha uma discussão muito mais avançada do que a Europa.
Foi recentemente aprovada uma lei que garante cotas no sistema público. Como o senhor viu a medida?
Eu defendo que a gente tem que ter cotas em todos os setores que a gente puder ter. A gente já entendeu a importância da representação, e a ideia de representação ao meu ver está ultrapassada, porque ela já foi cooptada pelo capital.
Ela já foi cooptada no sentido que se entendeu que a representatividade também gera lucro. Eu tô dizendo que pega bem para uma empresa pensar um representante negro, uma representante mulher, um representante gay, um representante indígena.
Aí é só dizer, “bom, o problema aqui na nossa empresa está resolvido”. Na verdade, do que a gente está falando, não é mais representatividade, a gente está falando de proporção, proporcionalidade.
A gente precisa ter mais pessoas negras ocupando esses espaços, porque as pessoas negras são diferentes, e aí você não cria um totem. É impossível que você tenha apenas um escritor negro, ou dois ou três escritores negros representativos.
Acho que a gente precisa ter mais espaço e fugir dessa ideia de representação, porque é uma ideia pobre, uma ideia superficial e que já foi cooptada.
Tivemos muitas pessoas insatisfeitas com o resultado do Concurso Nacional Unificado, o Enem dos Concursos, a respeito da avaliação das pessoas cotistas. O senhor acompanhou o caso? O que ele nos incita a refletir sobre as bancas de heteroidentificação?
Eu costumo dizer que toda avaliação é injusta. A gente tem uma forma de avaliar, de categorizar, e toda a categorização é injusta.
Principalmente, quando a gente vai para uma questão que é mais sensível, que é você avaliar se a pessoa é negra ou não é, que é o exemplo das cotas, né?
No caso das cotas, pelo menos até onde eu sei, quando há dúvidas, a pessoa passa por uma banca.
É claro que a gente não tem 100% de acerto. Até porque chega um momento que algumas pessoas que se dizem negras, talvez aos olhos dessa banca, ou com todo o formulário e com a entrevista, não pareça que seja uma pessoa que precisa dessas vagas.
Mas que eu quero dizer com isso é que mesmo com as falhas ainda é melhor que tenha o cotas
Essas injustiças vão continuar acontecendo, talvez em menor grau, é uma questão de afinar o modo como essas entrevistas são feitas, o modo como essa banca é constituída, para que aí, sim, a gente consiga chegar aí num aperfeiçoamento melhor da entrada dessas pessoas.
Na última semana saiu uma lista elaborada pela Folha de São Paulo ouvindo cem pessoas para formar os melhores livros brasileiros do século 21, ou seja de 2001 para cá. Como você avalia essa classificação?
Como eu tinha dito, uma lista é uma lista, com todos os seus acertos e erros, exclusão e inclusão, a gente não pode culpar a lista, acho que também não dá para culpar a Folha.
Foram 100 jurados, obviamente escolhidos pelo jornal. O que me pareceu jurados bastante diversos, tanto de gênero quanto de raça e de classe e de vários setores, o que dá também uma amplitude e uma diversidade, uma pluralidade também para a formatação dessa lista e mostra também o sentimento do nosso tempo.
Acho que reflete o sentimento do nosso tempo, que é, primeiro, um reconhecimento das literaturas feitas por pessoas negras, de autoria negra, um reconhecimento estético, um reconhecimento histórico, um reconhecimento político, ou seja, tem uma série de reconhecimentos que tem a ver com essa lista.
De qualquer forma, olhando para essa lista, a gente vê também que é uma lista majoritariamente de homens, brancos e que ainda são vistos como boa literatura.
E eu digo isso ainda, não tirando mérito dessas obras, mas mostrando que eles têm a força que tem. O fato de um homem branco escrever um livro não significa que a sua literatura é ruim.
O que a gente está colocando é que há outras formas, outros pontos de vista, ficcionais, que são importantes também. E eu acho que essa lista acabou mostrando isso.
E eu espero que daqui a dez anos uma outra lista se faça e que apareça outros nomes. Eu acho que é assim que funciona a literatura. Se essa lista fosse a dez anos atrás, seria outra também.
E tem uma última questão sobre esse assunto ainda, que é essa desconfiança da literatura produzida por pessoas negras, como se nós estivéssemos mais preocupados com o conteúdo, e sem a preocupação com a forma, ou seja, com a estética.
Como se nós estivéssemos fazendo uma literatura extremamente política em que o tema da negritude é o que impera. E, na verdade, o que a gente está escrevendo são experiências humanas, relações humanas, que acontece no livro da Ana Maria Gonçalves, no livro do Itamar, da Conceição Evaristo, ou seja, a gente está fazendo literatura.
E as literaturas sempre são identitárias. Não existe literatura que não seja identitária, todas são. Mas quando aparece uma literatura de autoria negra, aí se coloca como um defeito, ou um defeito de cor, né?

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