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Resistência dos povos indígenas: Sueli Maxakali fala sobre novo filme e reencontro com o pai

Documentário Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá chega às salas de cinema nesta quinta-feira (10)

Está no ar, em salas de cinema de todo o Brasil, o filme Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá, com direção de Sueli Maxakali, cineasta indígena que vem conquistando cada vez mais respeito na cena artística brasileira. 

O documentário, lançado nesta quinta-feira (10), conta a trajetória de Sueli e Maiza, sua irmã mais velha, na busca pelo reencontro com o seu pai Luís Kaiowá, que, na época da ditadura militar, foi sequestrado para trabalhar escravizado em uma fazenda. Eles foram separados quando as irmãs ainda eram crianças. 

“Meu povo foi muito judiado na época da ditadura militar”, enfatiza a diretora do filme, em entrevista ao Conversa Bem Viver,. 

A produção também é a realização de dois sonhos de Sueli: o reencontro com o pai e a divulgação, por meio da arte, da resistência e força do povo Maxakali, que, mesmo já tendo sido vítima de sucessivas tentativas de genocídio, deslocamento forçado e massacres, mantém suas tradições até os dias de hoje. 

Além de cineasta, ela também é considerada uma liderança indígena e tem rodado o mundo levando as potencialidades dos povos originários brasileiros.

“Também visitei várias escolas e isso foi muito importante. Esse filme eu queria desde pequena, porque tinha dois sonhos: encontrar o meu pai e divulgar o meu povo”, comenta. 

Leia a entrevista completa:

Brasil de Fato – A realização do filme é motivada para retratar o seu reencontro com o seu pai, Luiz Kaiowá, que, durante o período da ditadura militar, foi sequestrado com outros indígenas para trabalhar para o governo em uma fazenda dirigindo um trator. Como se deu esse processo?

Sueli Maxakali –  Eu sou da Aldeia Escola Floresta. Vai completar quatro anos em setembro que saímos de um território que se chama Aldeia Verde, que fica no município de Ladainha. Fomos para um território provisório na época da epidemia, quando o antigo governo era contra os povos indígena.

Nós já tínhamos esse projeto, que era o meu sonho, de realizar o filme. Quando meu pai foi trazido, tinha mais ou menos 11 anos de idade. Veio pequeno, jovem. Mas não era só o meu pai, foram vários indígenas trazidos na época da ditadura militar para serem escravizados. 

Meu pai tinha vários tratores e arava a terra para nós, Maxacalis de Santa Helena de Minas, em Água Boa. Lá também tem duas reservas. 

Alguns pajés saíram também na época da ditadura e fizeram filmagens e eu acompanhei.  Quando começaram a ver os tratores, eu comecei a ver os tratores, e cada pajé revelou também, eu me emocionei muito e pensava que “antes de ficar velha, que ver meu pai”. 

Eu tinha um ritual no qual pedia muito que eu encontrasse meu pai, porque eu via que meu pai tinha histórias profundas. Ao ver o trator eu me sentia muito mal, porque sabia que aquilo não era coisa boa. 

Meu povo foi muito judiado na época da ditadura militar. Também cortaram nossas madeiras. Nós também tínhamos o sonho de reflorestar cinco aldeias Maxakali.  E hoje estamos realizando esse sonho. 

Houve alguma dificuldade na gravação do filme?

Meu pai falou que tinha um segredo para me contar. Disse que eles tinham muito medo, porque os Guarani Kaiowá também são muito mortos e violentados. Meu pai teve medo de me contar as coisas na frente da câmera e ser perseguido.

Ele passou pela Fazenda Guarani, Diamantina, Belo Horizonte, e vários outros lugares. Ele trabalhava a troco de comida. Ele dizia que comia bem rápido para poder voltar para o trabalho, mas não recebia nada. Era escravizado. Meu pai sente dor na coluna até hoje. 

Sempre que eu vejo o filme, também choro muito, porque vejo a força do meu pai. Ele é um grande pai também, mas é bem difícil porque mudava sempre de aldeia. Então, tivemos que adiar umas três vezes a gravação do filme. Eu pensava: “será que vai dar certo?”Na época, também houve a retomada. Cada vez que adiou a gravação eu chorava. 

Cada pessoa tem o seu jeito de pensar e a minha irmã mais velha não pensava muito nisso. Éramos só nós duas. Quando meu pai foi embora eu tinha seis meses de idade e ela cinco anos. Ela não tinha as mesmas vontades que eu, mas eu pensava muito profundo sobre o que tinha acontecido, porque eu sabia que eles estavam sofrendo e era um povo parecido com os Maxacalis, que lutava pela sobrevivência. 

Depois de vir para Minas Gerais e ter contato com os Maxacalis, meu pai conta que foi enganado para ser levado, por isso não continuou na região.  Eu perguntei-lhe: “por que você veio embora?”. E ele falou que estava sem documento, não tinha nenhum registro, e foi enganado. Disseram que o levariam para pegar o documento, mas pegaram ele. 

A ditadura já estava terminando, dispensaram todos os policiais e enganaram meu pai e levaram ele de volta. Foram 20 anos até nos encontrarmos novamente e ele ainda fala a língua Maxakali, além do Guarani, e o canto também. Ele lembra de tudo. Agora, ele tem mais ou menos 70 anos.

Como foi a sua decisão de participar do movimento de arte indígena contemporânea, desenvolvido por Jaider Esbell?

Quando chegamos na Aldeia Verde, eu fiz um livro que se chama Imagem-corpo-verdade. Fiz vários filmes também, com a equipe Filme de Quintal. Comecei a aprender a mexer com a câmera.

Aí, fui convidada pela Mara Correia para ir para o Xingu e eu disse que iria. Fiquei lá 15 dias com a Mara e comecei  a ensinar as meninas e também trocamos experiências. Eu ainda sabia pouco como filmar e lá também tinha outras meninas que estavam aprendendo.  E eu fui aprendendo também.

Um dos nossos parceiros, Israel, ganhou um prêmio e o recurso veio para que nós continuássemos desenvolvendo a arte. Mas sofremos um golpe que nos impediu de pagar o aluguel do nosso espaço. Recebemos duas medidas de reintegração de posse e recorremos na Justiça. Na época, não tínhamos muito apoio.

Criamos uma mesa de diálogo e conseguimos vir para essa terra. Nessa época o Jaider nos deu muito apoio e toda a força. Eu me emociono quando lembro dele. É uma pessoa que ajudou muito a gente. Ele fez algumas pinturas para nós. Em Belo Horizonte, também fizemos a pintura de um prédio perto do Mercado Central. 

Aí, eu fui para Portugal porque eu tinha esse sonho. Eu visitei vários lugares, porque queria ver o lugar onde os portugueses embarcaram. Também fui para o México passar o filme Essa Terra É Nossa. Fui aos Estados Unidos com o filme também. 

Também visitei várias escolas e isso foi muito importante. Esse filme eu queria desde pequena, porque tinha dois sonhos: encontrar o meu pai e divulgar o meu povo. 

O povo Maxakali, mesmo com todo o massacre, preservou sua língua e seus costumes.  Deixaram tudo para nós. E o filme é uma memória viva. 

Conversa Bem Viver

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