O Último Azul, novo filme de Gabriel Mascaro, ganhador do Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, estreia no dia 28 de agosto nas salas de cinema de todo o Brasil. O filme se passa em um cenário amazônico distópico e narra as experiências de Teresa, uma mulher de 77 anos que vai em busca da realização de um último desejo antes de ser exilada em uma colônia para idosos a mando do governo.
Nesta edição do Conversa Bem Viver, programa do Brasil de Fato, conversamos com Gabriel Mascaro sobre a estreia do longa. Segundo ele, a escolha da Amazônia como cenário reflete algumas contradições do capitalismo que se conecta com a história da personagem. “O filme mostra uma Amazônia no lugar das contradições da produtividade. É a Amazônia resistindo e contraditória em meio a uma sociedade produtiva”, explica o cineasta.
Sobre a história de Teresa, a protagonista, Mascaro destaca o corpo idoso como um corpo dissidente que possui desejos, em meio à lógica produtivista dessa sociedade distópica. “A gente quase não vê o corpo idoso no cinema, na literatura, protagonista da sua própria descoberta. É como se a gente não olhasse para esse corpo nesse lugar, com essa possibilidade”.
Com grandes nomes no elenco, como Rodrigo Santoro e Denise Weinberg, a obra também agrega um leque diverso de atores e atrizes nortistas. “Foi muito especial misturar todos esses talentos num filme muito singular, que se permite ser livre, se permite ter uma diversidade de sotaques”, diz Mascaro.
Confira a entrevista na íntegra.
A trama se passa em uma cidade na periferia ribeirinha da Amazônia e conta sobre a protagonista, Teresa, que começa a ser perseguida, monitorada pelo Estado, porque chegou em uma idade em que ela não vale mais nada para o sistema produtivo em que a gente vive. Conta um pouquinho se podemos resumir o filme por aí.
Ela parte numa jornada, porque ela tem um último desejo antes de ser levada para uma colônia de idosos, onde o governo deposita todos esses corpos velhos. Antes de chegar a esse momento crucial, ela parte numa jornada rio adentro e aí tem uma série de aventuras e encontros muito especiais e termina sendo uma experiência de vida muito nova, quase que acidental.
Ela não estava esperando por isso, então quando ela é convidada para ir para a colônia, ela termina nessa fuga e começa a ter uma nova experiência de vida, novos encontros e a criar novos sonhos. Então, acho que é um filme sobre desejo e sobre o corpo idoso que deseja porque a gente quase não vê o corpo idoso no cinema, na literatura, protagonista da sua própria descoberta. É como se a gente não olhasse para esse corpo idoso nesse lugar, com essa possibilidade.
É sempre sobre o idoso lidando com o passado ou com a proximidade da morte. Não é o caso desse filme. Esse filme olha para esse corpo idoso que deseja. Teresa vai descobrir uma série de novas experiências e encontrar, inclusive, uma mulher ainda mais velha que ela que vai ser a fortaleza dela. Então é muito especial ver no filme como esse corpo idoso vai pulsando e vai mostrando que está vivo. É um filme sobre desejar.
Porque você decidiu filmar na Amazônia e ainda mais com uma perspectiva que, de alguma forma, rompe um pouquinho com os estereótipos?
Na verdade, quando a gente fala que o filme é uma quase distopia, é importante lembrar que não é sobre carros voadores, sobre essa tecnologia muito avançada. Estamos falando sobre uma sociedade alterada, minimamente diferente que eu criei, no sentido de observar esse corpo numa mudança de comportamento.
Então é um país que em nome do desenvolvimento, isola os corpos idosos e também modifica alguns setores produtivos. O filme mostra de maneira muito inusitada uma linha de produção de jacarés como se fosse uma fábrica, um frigorífico.
Em vez de carne bovina, vemos a carne do jacaré, esse animal que é muito presente no nosso imaginário como uma coisa de preservação da natureza, mas no filme ele está numa linha de produção, enfileirado com várias carnes sem couro para o abate. Então o filme mostra também uma Amazônia no lugar das contradições da produtividade, porque o filme é um pouco sobre isso.
É um corpo idoso dissidente em meio uma sociedade produtiva. É a Amazônia resistindo e contraditória em meio a uma sociedade produtiva. Então, como é que o meio ambiente lida com essa sociedade do mundo do filme?
Ele vai pouco a pouco desconstruindo algumas ideias da Amazônia, pensando na Amazônia, não na idealização da preservação, mas também na Amazônia inscrita nas contradições do contemporâneo, desafio que qualquer cidade do mundo também vai enfrentar. Então, acho que o filme mostra e confronta a gente com esse debate muito importante, muito urgente de pensar, como a própria Amazônia vai lidando com essas contradições do capitalismo no Brasil.
Como foi a tratativa do filme de ir filmar na Amazônia?
A recepção foi muito feliz. Na verdade, vi o filme como uma troca do cinema pernambucano, do cinema nordestino com o cinema do Norte. Foi mais um acolhimento e uma alegria porque é um encontro de duas cinematografias muito, muito singulares. Então acho que foi muito especial.
Tem mais de 20 atores e atrizes de Manaus que atuam no filme. Acho que foi um dos primeiros filmes a incorporar tanta gente no elenco. Então é muito legal ver isso, tanto talento no cinema de Manaus, que pode contribuir para que o filme acontecesse à sua maneira, com brilho, com sabor do sotaque local e misturando esse elenco todo ainda tinha pessoas maravilhosas, como Rodrigo Santoro e Denise Weinberg.
Foi muito especial misturar todos esses talentos num filme muito singular, que se permite ser livre, se permite ter uma diversidade de sotaques. A gente tem no elenco, inclusive, uma atriz cubana no filme.
Acho que o filme constrói uma Amazônia muito livre, muito cosmopolita, muito contemporânea, que permite essa diversidade, e acho que por ser tão honesto no seu olhar, no sentido da diversidade, ele foi muito abraçado e muito festejado pelo elenco. É um filme que consegue juntar com tanta energia, uma pulsão e termina fazendo uma celebração mesmo do encontro entre o cinema nordestino, do pernambucano, com o cinema do Norte.
‘O último azul’, embora não esteja na mostra competitiva, simplesmente vai ser o filme de abertura do Festival de Gramado, no dia 13 de agosto. Conta um pouquinho como foi essa recepção da tua parte e de todo o elenco do filme quando vocês foram convocados para estender o tapete vermelho de Gramado.
Foi uma alegria muito grande e uma espera muito difícil porque queremos muito mostrar no Brasil o filme, por sorte tem o festival de Gramado agora em agosto e a gente tá com muita alegria de poder, finalmente, entregar o filme para que o Brasil possa se conectar com ele.
É um festival muito bonito, que tem muita história, que muitos filmes já passaram naquela tela, então, abrir o festival vai ser uma alegria muito grande e espero que o filme possa, em breve, circular por todos os cinemas do Brasil.
Estamos vivendo um momento ímpar no cinema nacional. Esse é um momento único e emblemático ou você consideraria apenas como uma fase?
Na verdade é um somatório muito especial de uma política pública que foi construída há mais de 15 anos. Ou seja, em algum momento o Lula lá na primeira gestão dele, há 15 anos, com sua visão de um Brasil diverso e plural, já criou uma descentralização da produção, criou os regionais, o cinema nordestino pulsa, o cinema de outras regiões do Brasil começam a existir.
Então, termina que essa construção histórica de uma política pública, misturada com o talento dos realizadores, da cadeia produtiva, termina confirmando esse sucesso. Eu Ainda Estou Aqui, O Agente Secreto, tem O Último Azul, ou seja, filmes que circularam em todos os grandes festivais do mundo no ano passado e neste ano. Acho que é a culminância de uma construção histórica muito bonita, que mistura talento e política pública.
Agora, se queremos perpetuar isso, fazer com que esse sucesso continue, que a gente está colhendo hoje continue acontecendo, temos que olhar para o presente. Acho que a gente tem uma demanda muito concreta que é a regulamentação dos VODs [sigla em inglês para “vídeo sob demanda”, sistema que permite ao usuário assistir a vídeos a qualquer momento], a regulamentação dos streamings que hoje operam no Brasil como se fosse uma terra sem lei.
Então acho que temos que olhar para isso de maneira muito séria. Se a gente está feliz com o que está acontecendo hoje, se a gente quer continuar feliz, temos que olhar para esse problema que é uma pauta número um para garantir diversidade, garantir que tenha os filmes independentes brasileiros nas plataformas.
Que debates a gente precisa pautar para manter o cinema nacional nesse bom momento que a gente está vivendo? Parece que uma lei que regulamente os streamings no Brasil é fundamental. Explica um pouquinho melhor de que maneira ela precisa atuar para a gente poder garantir esse avanço.
Veja, vários países do mundo que estão olhando para o audiovisual de maneira estratégica, estão regulando. A regulamentação de streaming envolve uma taxação, não é muito, estamos falando de pouca coisa, vamos dizer 12%, 10% dessa margem de lucro das empresas no Brasil deveriam ser reinvestidas na produção nacional que garanta diversidade, que hoje é o problema de diferentes regiões que o Brasil possa continuar se afirmando como um país plural, diverso, audiovisual, que dê conta da diversidade, que garanta também não só a produção, mas o espaço, uma cota dentro das plataformas. Porque senão, qual é o acesso que o público vai ter? Qual é a forma que as pessoas vão ter de assistir esses filmes? São nas plataformas.
É preciso entender ali uns passos que possam dar visibilidade à produção nacional dentro das plataformas. Não estamos falando de deixar de ter conteúdo internacional ou americano, mas é que tem o brasileiro também.
A gente está quase falando em migalhas, 10%, quase nada. Mas isso pode ser substancial para garantir a mínima existência de uma produção nacional. E no mundo que a gente tá vendo essa essa taxação, a força dos Estados Unidos querendo taxar geral, quando falamos em 10%, eles ficam com medo.
Olhar para a regulamentação do streaming de maneira muito séria, para consolidarmos uma política pública, porque se a gente quer colher no futuro o que a gente está colhendo hoje, temos que começar com essa pauta, para que daqui a 15 anos a gente possa colher de novo.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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