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Escrevo para acabar com a ideia de que livros são para a elite, diz autor de ‘Bom Dia, Verônica’

Roteirista responsável por sucessos nacionais de suspense, Raphael Montes já atingiu 1 milhão de livros vendidos

Autor de grandes sucessos nacionais, como Bom Dia, Verônica, o escritor e roteirista brasileiro de literatura policial Raphael Montes atingiu a marca de 1 milhão de livros vendidos. 

As obras do escritor também já foram traduzidas para 25 países diferentes, reunindo suspense, crimes, thriller e muito mais, em um arranjo que mistura boas narrativas com aspectos do cotidiano da sociedade. 

“Ou seja, tem um cuidado narrativo de contar boas histórias e que prendam ao leitor. Mas, além disso, é o exercício de discutir assuntos que são muito quentes e importantes para os leitores. Para isso, cabe ao autor ter uma espécie de antena para o que está ao redor”, afirmou em entrevista ao Conversa Bem Viver, ao refletir sobre os elementos que compõem as suas histórias. 

Montes também é o criador da telenovela Beleza Fatal, do romance Dias Perfeitos, do livro Suicidas, entre outras obras. No dia 14 de agosto, a série Dias Perfeitos, adaptada do livro best-seller do escritor, estreia na Globoplay.

Confira a entrevista completa.

Brasil de Fato – A que você atribui a marca de 1 milhão de livros vendidos? Isso indica que a população brasileira tem gosto pela leitura?

Raphael Montes – Depende da amostra que você olha, porque, infelizmente, no Brasil, ainda temos muitas pessoas que não têm acesso a livros e acham que são produtos caros. Há algum tempo, comecei a perguntar para as pessoas com quem eu convivo, como o porteiro do prédio, se já foram a alguma livraria.  

As pessoas não entram nas livrarias, elas têm medo das livrarias, como se as livrarias e os livros fossem algo que não é feito para elas. Tirar essa ideia de que livro é algo da elite ou para poucos é um desafio de todos nós, escritores, jornalistas, professores, etc. 

Eu percebo, como um movimento dos últimos anos, uma valorização do leitor brasileiro pelo trabalho do autor brasileiro contemporâneo. Temos, felizmente, vários exemplos de autores que estão chegando para o público e emocionando esse público e, justamente por isso, alcançando a lista de mais vendidos. Não sou só eu. Tem também o Itamar Vieira Júnior,  a Socorro Acioli, a Carla Madeira, entre outros nomes. Isso não existia 10 anos atrás. 

Há 10 anos, quando falávamos, por exemplo, de literatura de suspense no Brasil, as pessoas viravam a cara e diziam que “se é brasileiro, não é bom”. E, hoje, graças a vários fenômenos, como as discussões sobre livros na internet, os autores brasileiros foram encontrando o seu público, as pessoas foram ficando curiosas e passaram a valorizar mais as obras do país. Por isso, temos atingido esses números. 

Há também uma discussão sobre os leitores se sentirem representados com as histórias narradas na literatura. Como você lida com esse processo?

O segredo é ter uma literatura conectada com a sociedade. Ou seja, o escritor precisa ser  alguém atento ao mundo e ao que acontece no cenário em que vivemos. As narrativas e histórias que contamos refletem esse mundo e a sociedade. Então, quando eu vou escrever, me interessa muito contar histórias que numa primeira camada entretenham, mas que também vão além. 

Entreter também é muito importante, com histórias as quais quando você começa a ler não consegue parar. Sobre os meus livros, eu escuto com muita frequência “ você me fez passar a gostar de ler”, e isso me emociona. É fruto de um trabalho de narrativa, de carpintaria da narrativa da história, de contar uma história com muitas viradas, muitas surpresas que te pegam e te fisgam logo nas primeiras páginas.

Ou seja, tem um cuidado narrativo de contar boas histórias e que prendam ao leitor. Mas, além disso, é o exercício de discutir assuntos que são muito quentes e importantes para os leitores. Para isso, cabe ao autor ter uma espécie de antena para o que está ao redor.

Eu já fiz livros sobre cultura do cancelamento, família feliz, porque comemos o que comemos, a polarização da sociedade, etc.  Também tratei sobre violência contra a mulher em Bom Dia, Verônica, sobre machismo em Deus Perfeito, suicídio entre os jovens em Suicidas, e por aí vai.

São assuntos que estão no nosso cotidiano e que batem fundo nos leitores. Por isso, eles leem, mas também indicam, comentam, recomendam.

A violência perpassa várias narrativas construídas por você. O público brasileiro se interessa por histórias que abordam situações violentas?

Eu não acho que seja o público brasileiro apenas, mas o ser humano que é interessado pela violência. Se você olhar os países em que a literatura policial floresceu primeiro, foi em países nórdicos, como a Inglaterra, onde a taxa de criminalidade e violência é muito menor.

Ou seja, a literatura policial, por muitos anos, funcionou muito bem em países em que há menos violência, e o leitor busca então isso na literatura. Eu cheguei a ler artigos sobre literatura policial, que diziam que a literatura policial na América Latina não funciona porque nós temos a violência na realidade. Havia teóricos que tinham essa tese sobre a literatura não só policial, mas também de terror.

Quando eu fui escrever, foi um desafio sobre como contar histórias de ficção que tratam de violência, crime e mistério em um país em que há uma espécie de banalização da violência. É comum dizermos, por exemplo, “não pegue aquela rua, porque teve tiroteio ontem”. E é isso, a pessoa apenas pega outra rua. A ideia de acontecer um crime na esquina não é tão chocante para quem mora no Rio de Janeiro ou em São Paulo.

Isso é muito perigoso. Como você faz literatura em um país em que a violência é banalizada? Eu acho que é criticando e jogando luz sobre esse fato, sobre como a violência virou parte do cotidiano. É uma espécie de provocação.

Eu faço isso tratando nas minhas histórias os temas de violência com um certo exagero, uma certa hipérbole, quase como se fosse um tom acima da realidade brasileira. Então, livros como O Jantar Secreto e a própria violência que tem em Bom Dia,Verônica ou em Beleza Fatal, vão nesse lugar de um tom acima da dura realidade brasileira.

Quanto a sua formação acadêmica em Direito influência no seu trabalho como escritor e roteirista?

A faculdade de Direito, na verdade, foi uma escolha feita justamente porque eu queria ser escritor de histórias de suspense e de crime. Eu precisava ter uma profissão certa e não sabia se a carreira de escritor ia dar certo. A minha escolha foi fazer Direito justamente pensando “vou entender o Código Penal, processo penal, questões de casamento e divórcio, como funciona a nossa sociedade, etc”. Mas, curiosamente, eu percebo hoje que me é muito pouco útil tudo isso.

O que eu acho que ainda trago do Direito são os debates sobre limites éticos e as questões de moralidade. Isso está em toda a minha obra e são assuntos que discutimos e estudamos as teorias na faculdade, especialmente nos primeiros semestres. 

Outra coisa que eu também levo dessa formação é a visão do trabalho do escritor como um trabalho. Eu tento não criar a imagem do escritor como alguém superior e inacessível que escreve quando está inspirado. Para mim, ser escritor é um trabalho, como qualquer outro trabalho. Eu me sento e escrevo, assim como o médico vai à mesa de cirurgia e opera ou como o advogado vai ao tribunal e defende ou acusa. Ou seja, acho que a faculdade de Direito me deu essa característica de ser um artista um pouco com os pés no chão. Sou um artista trabalhador brasileiro.

Determinados grupos sociais sofrem violências sistemáticas de ações do próprio Estado, como negros e negras. O quanto você se sente responsável por ser também um educador social sobre esses temas?

Eu vou evocar uma frase da Rosa Monteiro, que eu conheci na Flip [Festa Literária Internacional de Paraty], que disse “a gente escreve não é para ensinar, é para aprender”.

Eu acho que, especialmente na literatura, quando você se propõe didático e moralista você faz uma literatura ruim. Sem dúvida, na medida em que a literatura traz personagens vivendo situações e tendo pensamentos, você amplia o seu leque de possibilidades. Você aprende a escrever melhor, a falar melhor, a se portar melhor. Você vivencia situações que você não precisa vivenciar na vida real. 

Então, por exemplo, foi a literatura que me fez sentir como uma mãe que perdeu o filho, mesmo que eu não seja mãe e nunca tenha perdido meu filho. A literatura me coloca nesse lugar.

Ou seja, sem dúvida, a literatura tem sim um papel de enriquecer quem gosta da literatura e a televisão também, as séries, os filmes e a arte em geral. Mas ela não pode ser feita para ensinar. Quando ela é feita para ensinar, em geral, é didática e ruim.

Sendo escritor, como você lida com os avanços tecnológicos e a inteligência artificial, por exemplo?

Eu acho que a inteligência artificial é perigosa e inevitável. No início, quando começou o assunto de inteligência artificial, eu tentei negar. Mas logo percebi que era uma postura errada e até ignorante da minha parte. 

Ao buscar entender como funciona, percebi que as possibilidades da inteligência artificial são enormes e, nesse sentido, também são muito perigosas, porque, infelizmente, muitos empregos podem deixar de existir por causa da IA.

Nós, como sociedade, temos que pensar o que queremos usar da máquina, porque é perigoso que a gente siga por esse caminho, mas, ao mesmo tempo, me parece inevitável. Entre as profissões que vão acabar, acho que há muitas outras que vão acabar antes da profissão de escritor.

A inteligência artificial não substitui o escritor. Eu pelo menos, para escrever, não uso IA. Mas vou dar um exemplo banal. Eu gosto muito de comer bem e tenho uma pessoa que vem à minha casa para cozinhar durante a semana. Eu já coloquei três cardápios de três semanas anteriores e a inteligência artificial sugere o quarto, o quinto e o sexto cardápio, a partir do que eu já gostei antes.

Então, é realmente muito impressionante os vários usos que você pode ter para inteligência artificial. Precisamos reconhecer que existe. Não dá para negar ou fechar os olhos. Cabe a nós pensarmos o que faremos com isso.

Você se inspira na obra do escritor e jornalista Nelson Rodrigues?

Com Nelson Rodrigues, eu tenho uma relação muito interessante, porque é um autor que eu, até pouco tempo, não havia lido. Eu escrevi vários dos meus livros sem ter lido nada do Nelson Rodrigues. É claro que, provavelmente, vi adaptações, mas não era um autor que eu conhecia claramente a obra.

Só há alguns anos, já após a pandemia, eu descobri o Nelson Rodrigues. E foi um autor que, conforme eu lia, percebia como o pensamento e a lógica dele de contar histórias, além do interesse pelo mundo de aparência e as pequenezas da família burguesa, eram muito comuns às minhas obras. 

Então, foi como um encontro de almas. Quando você encontra e fala “nossa, essa pessoa pensava parecido comigo”. Sem dúvida, se tornou um dos meus autores favoritos e alguém que eu admiro e acho que tem bastante ressonância com o meu trabalho. 

O Nelson mistura melodrama com doença, segredo, mistério, surpresa, escândalo e grandes coisas que eu gosto de fazer também.

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