Regulação das plataformas digitais, estratégias de atuação nas redes e os desafios de assumir uma cadeira no parlamento são alguns dos assuntos tratados por Léo Suricate, membro da página Suricate — que reúne milhões de seguidores — e recém empossado deputado estadual do Ceará pelo Psol, em entrevista ao Conversa Bem Viver.
Ele assumiu uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) após Renato Roseno, do mesmo partido, pedir licença do cargo temporariamente. Léo destaca que suas principais pautas na política institucional serão a defesa da vida da juventude periférica e a soberania digital.
O artista, diretor e criador de conteúdo para a internet já tem histórico de atuação política, foi membro do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) e faz do meio digital também uma frente de resistência. Para ele, um dos principais desafios da esquerda é “dominar a ferramenta”.
“E, quando eu digo dominar a ferramenta, não é saber editar um vídeo ou fazer um programa. Não é sobre técnica, é sobre linguagem. Temos que entender que existe uma linguagem e ela tem que ser respeitada no ambiente digital”, chama a atenção.
Ele também comenta sobre a atuação da extrema direita nas plataformas, a disseminação de notícias falsas e a relação amistosa entre os donos das big techs e políticos da extrema direita, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Eu acho que a mudança tem que ser política. Agora, nós não podemos ficar fora do ambiente digital e achar que perdemos por isso. Sabemos que as ferramentas não são feitas para privilegiar ou facilitar nosso caminho, mas temos coisas que elas não têm. É, como diria o poeta: eles são muitos, mas não sabem voar”, enfatiza.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato – Como foram os primeiros dias de estreia na política institucional?
Leo Suricate – A data da posse, 12 de agosto, já foi simbólica, por ser o Dia Internacional da Juventude. Apesar de eu ter já 33 anos, quando eu fui candidato em 2022, ainda era jovem e defendi muito a questão da vida da juventude em Fortaleza e no Ceará. Aqui tem uma taxa de letalidade de jovens muito alta, principalmente os periféricos.
Minha primeira fala, na posse, foi muito emocionada, porque eu não esperava estar ali dentro, mesmo tendo sido o primeiro suplente do Renato. Não era uma coisa para a qual eu tinha me preparado. Eu voltei a minha atuação muito mais para a internet após as eleições.
Está sendo também uma experiência entender o funcionamento da Casa. Recentemente, teve uma crise lá com os agentes de saúde e o governo e teve a discussão na Alece para ajudar nas negociações. Mas ainda é o início, não vi o negócio pegar lá dentro direito. Estamos nos preparando para isso. Na semana que vem, inclusive, vamos fazer a nossa primeira fala no plenário e levar nossas questões.
Nossas principais pautas serão juventude, cultura, geração de renda e segurança, na perspectiva do direito de o jovem poder andar no próprio bairro. Isso depende de o bairro estar bem iluminado e seguro, além de ter aparelhos culturais. Queremos levar esse debate para dentro do legislativo.
Outro tema é a questão da soberania digital, por conta inclusive da minha trajetória na internet. Eu trabalho com isso e minha fonte de renda é fazer conteúdo para a internet, produzir vídeos, dirigir vídeos, etc.
Então eu tenho alguma propriedade para falar sobre o assunto, não só sobre a perspectiva da regulação das big techs, mas também discutindo emprego e geração de renda nesse campo, por exemplo. Vamos começar a discutir pautas que são muito caras hoje para o Brasil, como as questões das bets e dos jogos do Tigrinho. Não é à toa que essas plataformas hoje faturam o mesmo tanto que bancos.
Como a esquerda deve utilizar as redes sociais para fazer embate à extrema direita, aos preconceitos e às injustiças?
Eu administro a página Suricate que, no Instagram, tem 2 milhões de seguidores, no Facebook quase 6 milhões, no X (antigo Twitter) quase 1 milhão, e 900 mil inscritos no YouTube. É uma página consolidada, que transformamos em produtor e agência. Começamos a produzir conteúdos e outros tipos de materiais. Por isso, entramos no assunto de emprego e renda do micro influenciador.
O Suricate não começou comigo, mas com o Diego, um amigo, em dezembro de 2012. Depois, eu entrei para começar a gravar os vídeos, porque estava crescendo e viralizando muito rápido.
Fomos entrando para criar um negócio. Depois da eleição do Bolsonaro (PL), fomos perseguidos e perdemos patrocínio na época. Nós sobrevivemos da rentabilidade que o nosso trabalho na internet dá. Fazemos propaganda e também produzimos outras marcas. A plataforma não tem uma rentabilidade que pague bem três pessoas, que é o tamanho da nossa equipe, e tem que performar muito bem, em termos de acesso.
Estou dizendo tudo isso, porque quando falamos da comunicação no nosso campo da esquerda, muitas vezes esquecemos de fazer a disputa cultural. E o Suricate nada mais é que um reflexo da nossa cultura cotidiana transformado em meme, em brincadeira, de forma humorada e jocosa. Mas, muitas vezes, estamos falando de problemas sociais.
Após o tarifaço dos EUA, o presidente Lula (PT) e a equipe do governo estão jogando com uma linguagem mais popular, próxima, memética e engraçada, sem um tom muito institucionalizado. Mas isso estava fazendo falta.
Falta dominar a ferramenta. E, quando eu digo dominar a ferramenta, não é saber editar um vídeo ou fazer um programa. Não é sobre técnica, é sobre linguagem. Temos que entender que existe uma linguagem e ela tem que ser respeitada no ambiente digital, porque funciona assim.
Não é à toa que o Felca segura um bolo com oito velas e fica ali dando um texto de seis minutos, as velas apagam, ele acende oito velas e para no meio do vídeo. As pessoas estão olhando para as velas, não para ele, mas aquilo ali está entrando na cabeça do público.
Ninguém vai para a internet para se inteirar de alguma coisa ou para estudar política, vão para se entreter, é puro entretenimento. Então, a política tem que saber usar alguma linguagem de comunicação e eu acho que a esquerda é muito dura às vezes.
Podemos fazer uma brincadeira. Quando você leva um tombo, até você ri do próprio tombo. Falta a gente dominar esse tipo de ferramenta e a nossa experiência de vida. Nós não aprendemos a fazer isso na faculdade, mas nos desenvolvemos no próprio ambiente digital.
Quando olhamos para a extrema direita, vemos muito mais domínio da ferramenta. Eu pego como exemplo a eleição do Bolsonaro, mas posso dizer também que no Ceará o deputado federal mais votado é o André Fernandes (PL). Eles dominam essas ferramentas.
Antes não tínhamos ninguém, agora temos a Erika Hilton, que vai muito bem, fala bem, tem uma linguagem e uma equipe muito boa. Ela consegue ser, ao mesmo tempo, institucional e séria, defendendo as ideias, mas continua sendo também a Erika Hilton, uma mulher trans, que gosta de moda e de Beyoncé.
Os conteúdos falsos da extrema direita viralizam com mais facilidade? Como lidar com esse cenário?
Eu acredito muito que temos que discutir a regulamentação das redes sociais. A discussão que o Felca fez pautou o país. A extrema direita conseguiu tirar da discussão do congresso um projeto de regulamentação precioso, do Orlando Silva (PCdoB), que era muito bom e tinha uma boa relatoria. Era para discutirmos proteção de dados.
Nós driblamos as redes por meio da linguagem. É o povo que vai pautar. Não é à toa que o Jonas Manoel perdeu as redes sociais [em 6 de agosto, a Meta baniu as contas de Jones sem aviso prévio ou justificativa; ele recuperou os acessos no dia 8 de agosto]. Foi porque ele começou a usar um tipo de linguagem de sentar com um liberal e mostrar que os caras não têm conteúdo. De certa forma, ele até dá uma humilhada na galera. Para a internet isso funciona, então, ele acabou furando a bolha. A Érica é outro exemplo. Ela fura não só a bolha, mas também o algoritmo, porque as pessoas vão procurar.
Não existe só a extrema direita no Brasil. Eles têm algo em torno de 30%, mas bateram no teto. Ao mesmo tempo, toda a população está na internet. O Facebook e a Meta não vão abrir caminho e nem ser legais com a gente. Isso se resolve só na política mesmo.
Eles estavam na posse do Trump, o Mark Zuckerberg e o Elon Musk. É uma luta contra os bilionários. O que acontece nesse modelo neoliberal é que você tira todos os deveres do Estado na proteção do indivíduo no ambiente digital e coloca todo mundo para trabalhar. Todo mundo é proletário e o meio de produção é a plataforma.
Quem ganha mais dinheiro nessa história não é um influenciador, é uma plataforma digital. Ganha também com fake news, com todo tipo de violência postada na internet, crimes, etc. Não tem muito filtro. Eu não acredito que vá ter benevolência dos donos de plataformas digitais.
Eu acho que a mudança tem que ser política. Agora, nós não podemos ficar fora do ambiente digital e achar que perdemos por isso. Eu usei o exemplo do Jones Manuel porque derrubaram a conta dele e o fato político de todo mundo falar que ele perdeu a conta fez com que a Meta devolvesse a conta.
Quando começa o barulho na sociedade, eu aprendi com o movimento social, que a vontade política só vem com pressão. Sabemos que as ferramentas não são feitas para privilegiar ou facilitar nosso caminho, mas temos coisas que elas não têm. É, como diria o poeta: eles são muitos, mas não sabem voar.
Temos que entender que somos criativos. Como é que pode? Eu sou um pivete de uma favela, de um beco, não tinha nem computador. Faço um negócio junto com meus amigos e conseguimos chegar onde chegamos.
E quando conseguimos, pautamos a sociedade. Temos que usar as armas que temos, que é a criatividade. Condição existe. O Lula foi eleito contra o cara que dominava a plataforma, porque ele simboliza muito mais, dialoga muito mais e ganha.
Tem que lembrar da massa de influenciadores progressistas que entraram na campanha e teve importância para diminuir a sensação pública de disparidade, porque parecia que só eles ganhavam nas redes.
Com a história do Trump, a guinada nas redes do governo, já fez ele subir nas pesquisas, que estão mostrando o Lula na frente dos bolsonaristas no primeiro e no segundo turno. Então, temos que olhar para o lado de lá, mas pensar também no que podemos fazer.
Conversa Bem Viver
Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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