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‘O cinema nacional veio para ficar, mas precisamos de mais incentivo’, diz Mariana Ximenes

Ximenes recebeu troféu Eusélio Oliveira, honraria concedida a pessoas de destaque no audiovisual brasileiro

Com participação em mais de 30 filmes ao longo de sua carreira, a atriz Mariana Ximenes é a homenageada do 35° Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, que acontece até o dia 26 de setembro, em Fortaleza (CE). 

Além da exibição de produções locais e nacionais, o evento também conta com mostras e debates. Ximenes recebeu troféu Eusélio Oliveira, honraria concedida a pessoas de destaque no audiovisual brasileiro. 

Em entrevista ao Conversa Bem Viver, do Brasil de Fato, a atriz destaca que o cinema nacional passa por um momento de reconhecimento e que essa onda não deve ser passageira, mas que é necessário investir mais recursos no setor. 

“É importante que a gente tenha cada vez mais recursos para produzir cada vez mais, porque se a gente faz mais, conseguimos nos aperfeiçoar e alcançar mais corações. É assim que a gente vai tentando fomentar para que vire uma indústria”, avalia.

Ximenes também afirma a importância da realização de festivais para o fortalecimento da arte regionalizada e também para permitir que produções nacionais cheguem a todas as regiões do Brasil. 

“O Brasil é muito multifacetado e plural. A pluralidade e a diversidade são fundamentais de serem mostradas, porque é um reflexo da nossa sociedade. Os festivais são sempre uma concentração de talentos, de novas vozes. É uma oportunidade maravilhosa de bons encontros, de troca entre as pessoas do cinema e também com o público”, explica. 

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato – Qual o papel da sua geração na construção do entendimento de que o cinema e a novela brasileiros não são feitos apenas no Rio de Janeiro, mas vêm das várias regiões do país?

É muito importante, inclusive, eu já marquei alguns encontros para conhecer mais da cena cinematográfica do Ceará. Estou querendo conhecer os roteiristas, produtores, diretores e cineastas. Acho que é super importante e fundamental ter esses diferentes sotaques e olhares, porque o Brasil é muito multifacetado e plural. 

A pluralidade e a diversidade são fundamentais de serem mostradas, porque é um reflexo da nossa sociedade. Eu fiz A Máquina, por exemplo, dirigido por João Falcão, há muitos anos atrás, que tinha uma raiz pernambucana.

Fiz também um filme do Sérgio Machado, Quincas Berro d’Água, e a gente passou quatro meses em Salvador para sentir esse espírito baiano e poder dar vida a essa personagem nordestina. É legal porque não tem muitos, faltam ainda muitas expressões artísticas, mas a gente tem o cinema pernambucano, cearense, baiano, etc, e precisamos  abrir cada vez mais espaço para todo o Nordeste, para todo o Brasil.

Agora estamos vendo o Kleber Mendonça, de novo, com êxito com O Agente Secreto. Ele já vem lá do O Som ao Redor e tem uma expressão artística impressionante. É legal ter sempre mais. Sou uma entusiasta dos diferentes sotaques. Eu acho lindo e já convivo desde pequenininha com o sotaque cearense e, para mim, é muito familiar.

Pra você, qual é a importância da consolidação dos festivais em todo o Brasil para a difusão da arte e da cultura?

Os festivais são sempre uma concentração de talentos, de novas vozes. É uma oportunidade maravilhosa de bons encontros, de troca entre as pessoas do cinema e também com o público, com quem realiza e faz cinema. Realmente é muito bom o clima de festival, de mostras.

É sempre importante estimularmos esse tipo de iniciativa. Eu estou muito feliz e transbordando de alegria por poder comparecer e respirar um pouco de cinema. 

Essa curadoria é realmente impressionante e é muito bacana ter, por exemplo, a exibição de O Agente Secreto aqui. É um prestígio Fortaleza abraçar o cinema dessa maneira e vamos celebrar isso, celebrar os bons encontros e as boas trocas entre todos.

O cinema brasileiro vive um momento especial, sendo internacionalmente premiado. Você acha que essa tendência deve permanecer?

Claro que veio para ficar. Ficará muito bem, porque é vida longa total e a gente tem que estimular mesmo cada vez mais criadores, pensadores e realizadores. Também precisamos estimular os patrocínios, as leis de incentivo, e ter cada vez mais vozes. Tem que ficar e tem que ficar de uma maneira amplificada, ampliada e consistente.

É assim que a gente forma público também, formando novos realizadores. E eu estou  querendo realmente ter bons encontros por aí, conhecer as pessoas e me colocar à disposição também.

Quando entra um filme nacional é importante que as pessoas compareçam logo nas primeiras semanas, porque isso contribui para que a sala de cinema deixe o filme em cartaz por mais tempo. Cinema faz parte da identidade cultural de um país. É o espelho de uma sociedade. Então precisamos nos ver e ter identificação nas telas.

Você acha que o atual momento do cinema brasileiro tem relação com a retomada do Ministério da Cultura após o desmonte provocado pela gestão bolsonarista?

Vemos muitas produções brasileiras dialogando com o mundo. Por exemplo, o filme Manas, com o apoio do Sean Penn e da Julia Roberts, foi maravilhoso. Um filme que trata uma realidade tão cruel da Amazônia. É impressionante como a gente tem um cinema muito político e muito engajado, com histórias muito relevantes.

Ainda Estou Aqui também fez uma carreira brilhante e conta uma história fundamental do nosso Brasil, que infelizmente aconteceu e estava esquecida, adormecida. A história de Eunice Paiva veio com tudo e arrebatou o coração dos brasileiros e o coração de todo mundo.

Essas vozes brasileiras, de todas as regiões do país, são muito importantes que sejam faladas, que sejam amplificadas, que sejam retratadas pelo cinema, e que cada vez tenham mais recursos para conseguirmos chegar mais longe. 

O cinema também precisa de prática. Ele tem todo um conhecimento teórico, mas precisa gerar cada vez mais filmes, porque a gente aprende na prática. Eu me lembro do primeiro filme que eu fiz. Eu era tão crua e sem referências, mas você vai convivendo com as pessoas no set e vai entendendo os desafios. Toda vez que você entra num set é pela primeira vez. É tudo novo. São linguagens diferentes, trabalhadores diferentes.

É importante que a gente tenha cada vez mais recursos para produzir cada vez mais, porque se a gente faz mais, conseguimos nos aperfeiçoar e alcançar mais corações. É assim que a gente vai tentando fomentar para que vire uma indústria.

Eu estava pesquisando sobre a Vera Cruz, que foi uma chegada aqui no Brasil que durou muito pouco tempo mas conseguiu produzir muitos filmes. Era um modelo de produção diferente, que não deu muito certo naquela época do Brasil, mas que produziu mais de 50 filmes em mais ou menos sete anos.

Como é que a gente chega nisso? Como é que a gente consegue uma relevância também no cinema? Olha só quantos filmes importantes, quantos prêmios internacionais a gente alcançou. Manas, Ainda Estou Aqui, O Agente Secreto, etc, temos um alcance. Mesmo lá atrás, tivemos muita importância com Central do Brasil, Tropa de Elite, Cidade de Deus, e outros. 

A gente tem capacidade de ter uma linguagem muito única, muito brasileira e que faz transbordar no coração do mundo todo. 

Existe uma mobilização em São Paulo pela manutenção do Teatro de Contêiner, em resposta à tentativa da prefeitura de tirá-lo do centro da cidade. Qual é a relevância de termos espaços como esse em áreas centrais?

Teatro é vida. O teatro também é a nossa nossa arte-mãe e a minha formação é do Teatro Escola Célia Helena, que hoje em dia virou faculdade. A Célia Helena foi uma grande atriz em São Paulo e quem toca o teatro hoje em dia agora é a Lígia Cortez, que estava em cartaz inclusive com o Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, no Teatro Oficina. 

Eu tive a honra de fazer um curso com Zé Celso Martinez Correia e pude vivenciar um pouco da atmosfera do Teatro Oficina com o Zé. Foi um privilégio.

Eu não tinha assistido Os Sertões, a peça que ele montou em quatro atos. Cada ato tinha mais ou menos cinco horas de duração e eu perdi tanto em São Paulo quanto no Rio. Fiquei sabendo que ia ter Os Sertões em Canudos, onde Euclides da Cunha escreveu a obra.

Eu quis ir e não era uma missão muito fácil, não era um local de muito turismo, mas eu me organizei e fui. Assisti, acabei participando e pude conhecer Canudos.

Foi uma mega aventura, uma experiência inesquecível, e muito interessante também ver a obra de Euclides da Cunha ser reproduzida com a magnitude da encenação do Zé Celso.

O teatro tem esse poder. Ele dialoga, ele comunica, ele entra em um canal muito subjetivo, porque é a arte do momento. Você está ali agora e é só aquele momento. É efêmero e só vai estar presente para aquela pessoa que está ali. Depois acabou, não tem nenhum registro palpável, a não ser no seu coração e na sua memória.

O teatro é vivo, é uma troca imediata. Eu sou uma entusiasta do teatro também e sempre me programo para assistir. As expressões artísticas me atravessam e me transformam como cidadã, como ser humano. Eu estou sempre a postos para aprender, trocar, ouvir e ser provocada. Às vezes até para não gostar e está tudo bem, assim você vai formando a sua opinião, abrindo a sua imaginação. 

Vá ao teatro, vá ao cinema, leia um livro, vá uma exposição, veja um quadro, sinta o quadro. Não é sobre entender tecnicamente, intelectualmente, e sim sentir. Então, às vezes, a gente fica com receio e fala: “ah, eu não entendi”. Tudo bem. Às vezes não é para entender totalmente, é só sentir. 

A gente tem que se mobilizar sim para sempre ter os teatros nas cidades, para sempre ter produções artísticas e mais fomento, mais recursos e  dar mais acesso para toda a população mesmo.

Você está participando de uma produção em homenagem a Cacilda Becker, um dos maiores nomes do teatro? Quais são as suas expectativas?

Cacilda Becker é um ícone do teatro brasileiro, mas ela fez Floradas na Serra, um filme lindíssimo, produzido pela Vera Cruz. Eu interpreto a Tônia Carrero que também fez bons papéis em filmes na Vera Cruz. Já já chega aos cinemas e vocês vão saber, mas eu estou muito feliz de participar dessa produção.

Conversa Bem Viver

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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