O secretário nacional de Periferias, Guilherme Simões, defende que as políticas públicas voltadas às periferias brasileiras sejam permanentes e reparatórias, e não apenas pontuais ou assistencialistas. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, nesta quinta-feira (12), ele destaca que há uma dívida histórica do Estado com a população periférica, especialmente com as mulheres, a juventude e a população negra, que têm muito a oferecer à sociedade.
“As periferias são a chave para o futuro do desenvolvimento do nosso país, para o futuro criativo, para as inovações e para resolver os problemas econômicos que temos hoje”, afirma. “O Estado brasileiro tem uma dívida grande com a população periférica. […] Precisamos encontrar formas de pagar essa dívida. Não pode ser uma relação assistencialista. Tem que passar por um processo de reparação, […] tratar as periferias como cidade, como parte da sociedade”, defende.
Entre as principais necessidades para receber investimentos, ele cita a promoção de uma infraestrutura urbana adequada e a construção da tradição de manutenção e zeladoria nas comunidades. O secretário também indica como prioridades levar tecnologia e ciência aos territórios: “o que há de inovação e novidade”, explica.
Na visão do secretário, a gestão pública “precisa se aproximar, conversar, admitir o que tem de erro e avançar nas agendas”. Ele destaca que “é preciso escutar a voz das periferias”. “Se temos um projeto de país democrático, de um Brasil inclusivo, é preciso começar pelas periferias”, declara.
Simões, que é morador do Grajaú (SP), reforça que as favelas e periferias devem ser tratadas com o mesmo comprometimento que bairros nobres recebem do poder público. “Muita gente que diz que o povo da periferia está revoltado com o governo. Eu digo o seguinte: o povo da periferia sente falta do Estado”, retruca.
Investimento estruturante e articulação com outros ministérios
A Secretaria Nacional de Periferias foi criada em 2023, durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dentro da estrutura do Ministério das Cidades. Segundo Simões, a pasta nasce a partir da articulação entre movimentos populares periféricos e setores acadêmicos que há décadas denunciam a desigualdade urbana no Brasil.
Uma das principais frentes da secretaria é o Programa Periferia Viva, que retoma e atualiza políticas de urbanização de favelas. A proposta prevê investimentos em infraestrutura, regularização fundiária, prevenção de riscos e ações integradas com outros 16 ministérios, como os da Cultura, da Saúde e do Meio Ambiente.
“Já são mais de R$ 7 bilhões investidos em periferias, em favelas brasileiras. […] O Periferia Viva visa ancorar os investimentos em infraestrutura urbana, de urbanização de favelas nesses territórios, mas contar também com a articulação e a integração de outras políticas públicas”, esclarece.
De acordo com o secretário, os ministérios atuam de forma intersetorial em quatro eixos: infraestrutura urbana; equipamentos sociais; inovação, tecnologia e oportunidades; e fortalecimento social e comunitário. A fase inicial do programa abrange 59 territórios em todo o país.
Durante a conversa com o BdF Entrevista, o secretário também comentou o racismo ambiental e a questão habitacional sendo tratada como caso de polícia em São Paulo.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.