Ouça a Rádio BdF

‘Redução da jornada de trabalho é luta de classes’, diz pesquisadora da Unicamp Marilane Teixeira

Para a pesquisadora da Unicamp, debate sobre escala 6x1 e salário mínimo passa pela disputa entre capital e trabalho

A proposta de redução da jornada de trabalho no Brasil, especialmente pelo fim da escala 6×1 (seis dias de trabalho para um de descanso), precisa ser compreendida como parte da luta histórica por direitos da classe trabalhadora, avalia a professora Marilane Teixeira. A declaração da pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi dada ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, nesta quarta-feira (11).

“A redução da jornada de trabalho é, sim, uma luta de classes”, afirma Teixeira. “A discussão da redução da jornada de trabalho implica numa disputa entre capital e trabalho, sobre apropriação dos ganhos de produtividade decorrente do trabalho”, indica.

Ela lembra que a jornada de trabalho foi reduzida pela última vez em 1988. “Hoje somos capazes de produzir muito mais pelo mesmo, ou menor, número de horas. Os avanços tecnológicos foram incorporados pelos empregadores, pelo capital, para aumentar as suas margens de lucro. Mas isso não foi compartilhado com os trabalhadores e a sociedade, melhorando a questão salarial ou reduzindo a jornada [de trabalho] e os custos dos bens, mercadorias e serviços”, explica.

A professora ressalta que a maioria das conquistas trabalhistas, como o salário mínimo e a sua valorização, resultaram de mobilização social. “Foram conquistas obtidas através de muita luta, organização, mobilização da sociedade, especialmente do movimento sindical”, destaca.

Jornada longa, baixo salário

Segundo a pesquisadora, o debate atual sobre jornada de trabalho tem respaldo, além das mudanças tecnológicas, nos impactos no cotidiano dos trabalhadores precarizados, principalmente os mais jovens. “Temos uma insatisfação real de uma parcela da juventude, das mulheres que entram no mercado de trabalho para ganhar R$ 1.518 [valor atual do salário mínimo], trabalham seis dias da semana, gastam horas por dia para o deslocamento entre casa e trabalho. Ou seja, decorrente das condições de trabalho e dos salários”, diz.

Teixeira destaca a disparidade entre o salário mínimo real e o valor necessário para garantir o sustento básico de uma família. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o valor ideal atualmente seria de mais de R$ 7.500. “As pessoas buscam formas de trabalho complementar, […] têm que fazer malabarismos, […] buscando estratégias de sobrevivência diante de um salário que é cada vez mais insuficiente frente às necessidades concretas e reais”, relata.

Ela defende que é preciso retomar uma política de valorização do salário mínimo mais ousada e enfrentar o debate sobre financiamento das políticas públicas. “Temos que ampliar a receita, o que implica tributar os super ricos. Isso é, volto a dizer, luta de classes. […] É a sociedade organizada que tem capacidade de incidir sobre esse processo”, conclui.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

Veja mais