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‘Ser pastora evangélica progressista me fecha portas nos ambientes político e religioso’, diz pastora Odja Barros

Líder denuncia religião como instrumento político e comenta dados do Censo 2022

A pastora batista Odja Barros afirmou, ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, que sofre rejeição tanto no meio religioso quanto em espaços políticos por se identificar como evangélica progressista. Para ela, ainda há uma visão estigmatizada sobre o que significa ser evangélico no Brasil, alimentada pela ascensão de líderes fundamentalistas.

“Isso [posição política] me fechou portas no ambiente religioso da minha tradição de fé, e me fecha portas nos movimentos políticos, partidários e sociais, que olham de forma muito suspeita e arrogante para as pessoas que vêm do ambiente religioso”, relata. “Entende-se que pastores são aqueles relacionados a essas figuras públicas de líderes fundamentalistas que usam a sua imagem para manipular ideologicamente usando a fé. No entanto, acho que não se justifica mais esse tipo de preconceito”, argumenta.

Ao comentar os dados sobre religião do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no começo de junho, Barros defendeu a pluralidade das expressões de fé, inclusive fora das instituições tradicionais. “Se eu fosse entrevistada no Censo, eu teria dificuldade de me situar como evangélica porque hoje eu represento um grupo que tem cada vez mais assumido uma fé cristã progressista e não se alinha a esse grupo majoritário evangélico no Brasil”, explica.

Segundo a pastora, há uma crescente desinstitucionalização religiosa, com comunidades pequenas e movimentos que articulam espiritualidade com pautas sociais, como o movimento negro evangélico e coletivos LGBTQIA+ cristãos. “Apesar de estarem ligados a uma tradição de fé evangélica, não se rotulam mais a partir dessa nomenclatura”, sugere. De acordo com ela, isso pode ter influenciado os índices do último Censo.

‘Religião é veículo de disputa política’

A pastora também criticou a instrumentalização da religião por parte da extrema direita. “Existe hoje uma cooptação religiosa de uma disputa política. Sobretudo a extrema direita tem usado muito o veículo da religião como caminho para divulgar e disseminar os seus valores, uma cultura política, ideológica”, diz.

Ela ressalta que a relação entre religião e política sempre existiu, mas que agora há um novo cenário de disputa de hegemonia, com a perda de exclusividade do catolicismo no espaço público. “Nunca tivemos um Brasil realmente laico”, avalia.

Para Barros, é preciso disputar esse campo com ética e compromisso social. “Continuo me afirmando uma pastora evangélica progressista […] porque sei do tanto de gente de boa fé que está hoje nas igrejas, nas comunidades religiosas, e algumas delas, infelizmente, muito ludibriadas por um discurso ideológico religioso. Sei que a maioria poderia viver uma outra fé se conseguíssemos chegar mais próximos e de forma mais sensível à vida dessas pessoas”, observa.

“Vamos contribuir com a nossa fé de forma ética, amorosa, e que respeite o direito do outro, para construirmos uma sociedade melhor”, convoca.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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