Em entrevista ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, o jornalista Breno Altman, judeu de esquerda e autor do livro Contra o sionismo, afirmou que Israel e os Estados Unidos sofreram uma “derrota tática importante” na recente escalada de ataques contra o Irã. Segundo ele, o conflito, que durou cerca de 12 dias, expôs a incapacidade dos dois países em atingir seus objetivos, entre eles a destruição das instalações nucleares iranianas e a queda da República Islâmica.
“Nenhum dos dois objetivos foi atingido. A República Islâmica continua existindo, inclusive tudo indica que cresceu, porque mesmo os setores oposicionistas à República Islâmica se unificaram diante do ataque sionista e do ataque norte-americano. E as instalações nucleares foram claramente afetadas, mas elas não foram destruídas. Por outro lado, o Irã mostrou capacidade de atingir duramente Israel”, analisa. Altman lembra que é a primeira vez que Israel é golpeado no interior das suas fronteiras desde a guerra de Yom Kippur, em 1973.
Para o jornalista, o atual governo israelense, liderado por Benjamin Netanyahu, depende da guerra para se manter no poder. “O que sedimenta essa coalizão liderada por Netanyahu é a guerra expansionista. É a lógica político-religiosa da reconstrução da Israel bíblica. Ou seja, tem que expandir mais ainda. Esse movimento de guerra é que dá a Netanyahu as condições políticas de continuar no governo”, avalia. O recrudescimento dos ataques na Faixa de Gaza após o cessar-fogo entre Irã e Israel é um exemplo disso. “É como andar de bicicleta. Se ele parar, vai cair”, afirma.
Altman contextualiza que, na véspera do ataque israelense ao Irã, o parlamento de Israel votaria uma moção de desconfiança contra o premiê. Para evitar a queda do governo, Netanyahu teria feito acordos internos, como o abrandamento das regras de recrutamento militar para grupos religiosos, em troca de apoio político. Na avaliação do jornalista, os ataques contra o Irã foram uma forma de consolidar sua base no parlamento. “Netanyahu fez um acordo: ‘Me apoiem, continuem no meu governo que eu vou expandir a guerra. Eu vou atacar o inimigo maior’”, indica.
Altman acredita que a violência não é apenas uma escolha política de Netanyahu, mas parte estrutural do Estado israelense. “A guerra expansionista está no código genético do Estado de Israel. A derivada do racismo e do colonialismo só pode ser a guerra, a violência, o genocídio. Isso não é um problema do Netanyahu, mas da estrutura do Estado de Israel. É igual o nazismo”, compara.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.