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‘O agro vai colar em Lula’, prevê sociólogo após tarifas de Trump contra o Brasil

Para Lejeune Mirhan, presidente se fortalece ao colocar a luta anti‑imperialista no centro do debate

A sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump sobre produtos brasileiros tem menos a ver com o processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais com o avanço do Brics, presidido pelo Brasil, avalia o sociólogo e escritor Lejeune Mirhan. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ele classifica a medida como “um ataque à soberania nacional” e acredita que “o agronegócio vai colar em Lula”. “O baque é muito grande, então eles estão em uma revolta muito grande”, explica.

Mirhan sustenta que o verdadeiro alvo de Trump é a consolidação de um mundo multipolar liderado pelo bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, agora, com mais seis países. Para o autor do livro Reflexões sobre a multipolaridade do mundo, essa expansão, somada ao teste de um sistema financeiro paralelo ao Swift, que é controlado por países ocidentais, “afronta o sistema de pagamentos internacionais” dominado pelo dólar.

O sociólogo vê espaço para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) amplie alianças internas a partir da crise criada por Washington. “Lula tem condições hoje de agregar a maior parte das forças vivas da nação brasileira”, diz, incluindo setores da centro‑direita “verdadeiramente patriótica”. A taxação também pode beneficiar o governo brasileiro, pois “o agricultor brasileiro vai vender esse produto no mercado interno, vai ter uma fartura, e os preços podem abaixar aqui”, indica.

Segundo ele, a reação do agronegócio, principal exportador para os EUA, tende a isolar pré‑candidatos ligados à extrema direita, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Ele não tem como esconder: apoiou Trump, que está acabando com o Brasil. […] Tarcísio tem que escolher entre o Brasil e Donald Trump”, declara. Para ele, a direita está “órfã” de um candidato forte para a eleição de 2026.

Anti-imperialismo na ordem do dia

Mirhan também destaca que Lula “avançou muito na compreensão da questão anti‑imperialista” desde o período em que esteve preso. Ao comentar a mudança de postura do presidente, que tem enfrentado o ataque dos EUA, ele afirma que “o Lula que entrou na cadeia não é o Lula que saiu. É muito mais consciente. […] Ele está entre os três maiores estadistas no mundo vivo hoje”, classifica.

O escritor observa que o anti‑imperialismo “está na ordem do dia” não só para partidos de esquerda, mas para todo o espectro político comprometido com a soberania nacional. “Lutar contra a ingerência dos Estados Unidos ao Brasil é anti‑imperialismo na prática”, afirma, prevendo que o tema será central no pleito do próximo ano.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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