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Pesquisadora alerta para impactos das redes para crianças: ‘Crescer em meio a anúncios’

Para Brenda Guedes, plataformas estimulam limitação da socialização e do aprendizado em ambiente comercial

A doutora em comunicação Brenda Guedes, da Universidade Federal do Ceará (UFC), fez um alerta sobre os impactos da hiperconectividade na infância. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ela defende que o debate sobre regulação precisa ir além da publicidade dirigida às crianças e abranger também os conteúdos “acessíveis” a elas, mesmo quando destinados a adultos.

“Precisamos falar de medidas de segurança que valham para toda publicidade veiculada em algum espaço ou ação, estratégia mercadológica acionada, inclusive para adultos, que não seja danosa às experiências de crianças e adolescentes”, diz. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, 93% das pessoas de 9 a 17 anos no país estão online, e seis em cada dez crianças de 9 e 10 anos já têm perfil próprio em redes sociais. As mais novas preferem o YouTube; as mais velhas estão no WhatsApp e no Instagram.

Para Guedes, as plataformas digitais se tornaram um espaço de socialização e aprendizado mediado por interesses comerciais. “O modelo de negócios de muitas dessas experiências no digital é essencialmente comercial, pautado na entrega de anúncios”, afirma. “E precisamos nos questionar sobre isso e entender, parar para pensar quais são as contrapartidas de crescer brincando exclusivamente em espaços comerciais, com experiências que são atravessadas por marcas também”, fala.

Regulação, exemplo e cuidado compartilhado

Ela cita o Comentário Geral nº 25 da Organização das Nações Unidas (ONU), que adapta os direitos da infância ao ambiente digital, como uma base para pensar políticas de proteção. Também ressalta que, no Brasil, o Ministério da Justiça indica que plataformas como o Instagram não são recomendadas para menores de 16 anos, mesmo que as empresas estabeleçam limites mais brandos, como os 13 anos.

Além da regulação, a pesquisadora destaca o papel das famílias, educadores e da sociedade civil na mediação do uso das telas. “Essa mediação parte por entender o que está acontecendo dos dois lados. […] Precisamos ser ponte”, afirma. Ela acrescenta que “parte desse processo tem a ver com ampliar o repertório dos adultos. A educação digital e mediática para os adultos das crianças é fundamental.”

Guedes lembra, no entanto, que a responsabilidade não é exclusiva de quem cuida diretamente das crianças. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que a responsabilidade pela proteção e cuidado de todas as crianças e adolescentes é um dever compartilhado entre a família, a sociedade e o Estado. “Cada um de nós tem respostas para dar a partir do lugar que ocupa, do papel que desempenha nessa questão, que é uma responsabilidade de todos nós”, indica.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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