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Poesia que ‘salta na cara’: curadora da Flip vê Leminski como porta de entrada para novos leitores

Ana Cecílio aposta na prosa popular do autor homenageado para reconquistar público; evento começa nesta quarta (30)

Para Ana Lima Cecílio, curadora da 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o Brasil vive um paradoxo: apesar do sucesso de eventos como a própria Flip e as Bienais do Livro, a leitura tem perdido espaço no cotidiano das pessoas. “É difícil para nós, que trabalhamos com livro, entendermos o que está acontecendo”, assume. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, revela que 53% da população brasileira se declarava como não leitora em 2024. Foi a primeira vez, desde 2007, que esse grupo superou o número de leitores no país.

Em resposta a esse cenário, Cecílio aposta em Paulo Leminski como homenageado da edição de 2025. O autor curitibano foi escolhido porque, na sua avaliação, “a poesia pensada desse jeito do Leminski realmente é uma porta de entrada para a literatura”. “A poesia é mais leve, pode ter um humor, uma coisa que te toca muito no imediato. Ela conta com o leitor participando para dar sentido para aqueles versos”, explica ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato. O evento acontece entre quarta-feira (30) e domingo (3), em Paraty (RJ).

A curadora indica que a escolha se conecta também com o momento atual da produção poética no país, que se espalha em redes sociais e publicações independentes. “O Brasil vive um momento de efervescência poética. Com a facilidade de autopublicação, tem poeta de tudo quanto é tipo no Brasil: poeta que escreve soneto, de verso livre, social, de amor…”, cita Ana. Para ela, a curadoria da Flip precisa mirar além do público já consolidado. “Não podemos fazer uma festa para os nossos pares, para quem já é leitor. Acho que sempre temos que estender a mão”, analisa.

Leminski, diz a curadora, entendia a poesia como algo que devia “saltar na cara das pessoas”, e não se limitar a espaços eruditos. “Ele achava que a poesia tinha que estar pichada no muro, nas canções populares, escrita na camiseta”, conta. Essa postura também marcou a relação pessoal de Cecílio com o autor. “Foi o primeiro poeta que eu li e que eu falei: ‘Então poesia é isso’. […] E aí, através dele, fui procurando outros poetas”, relata.

Décadas depois, ao reler os mesmos versos durante a preparação da Flip, ela se surpreendeu. “Li poemas que sabia de cor, só que eles estão falando outras coisas para mim. […] Clássico é o livro que nunca parou de dizer o que ele tinha que dizer. Nesse sentido, o Leminski é muito um clássico também”, diz, reproduzindo um conceito retirado do livro Por que ler os clássicos, do italiano Ítalo Calvino.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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