A fome tem sido usada como arma de guerra em Gaza de forma deliberada e devastadora, com impactos profundos no tecido social palestino, avalia o professor de Relações Internacionais Alexandre Leite. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, Leite analisou os efeitos da destruição promovida por Israel, especialmente desde o ataque de 7 de outubro de 2023, e o papel dos Estados Unidos no agravamento da crise.
“Não estamos falando mais simplesmente de Israel desmontar a estrutura do Hamas, mas de Israel dizimando toda a população palestina, infelizmente”, relata. Segundo dados do Ministério da Saúde local, 175 pessoas já morreram por má nutrição na Faixa de Gaza. Mais de 1,4 mil foram mortas por militares israelenses enquanto tentavam acessar alimentos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Para o professor, cenas de crianças e adultos disputando sacos de farinha expõem o colapso total da estrutura social e familiar. “São pessoas que estão disputando um elemento de sobrevivência. Uma parcela significativa dessas crianças, por exemplo, já não tem familiares”, conta. Apesar de haver registros de solidariedade entre os palestinos, “esse mínimo é tão pouco que até a divisão desse mínimo torna-se insuficiente para saciar a fome dessas pessoas”, lamenta.
Leal destaca que há precedentes históricos do uso político da fome, inclusive no Brasil, mas que a dimensão do que ocorre em Gaza é incomparável. “Eu não me recordo de um evento com essa envergadura e com esse requinte de crueldade, porque não dá para poder poupar, existe um requinte de crueldade gigantesco”, declara.
‘Compadrio’ dos EUA com Israel
Além da fome, a perda de vínculos familiares, o colapso dos serviços e a imposição de doações alimentares sem respeito à cultura do lugar contribuem para a descaracterização da identidade palestina. “As pessoas são obrigadas a comer aquilo que estão recebendo na forma de doação. Elas vão perdendo gradualmente suas características culturais, inclusive”, aponta.
Questionado sobre o papel dos Estados Unidos, Leite ressalta que “é, historicamente, um país que apoia Israel”. “O que observamos é um alinhamento dos Estados Unidos, até mesmo um compadrio, com os objetivos de Israel”, afirma.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.