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‘Lei anti-Oruam’ é criminalização da cultura negra e periférica, diz pesquisadora de rap

Para Nerie Bento, medida é “novo rosto” de perseguição histórica e amplia aparato de repressão do Estado

A chamada lei anti-Oruam, que proíbe a contratação de artistas pelo poder público acusados de apologia ao crime, é “um novo rosto para as criminalizações das culturas que já existem há muitos anos”. A avaliação é da comunicadora e pesquisadora de rap Nerie Bento, em entrevista ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato.

Segundo ela, a medida, que tramita na Câmara de São Paulo, “já começa sendo desnecessária” porque a administração pública dispõe de mecanismos para definir a programação adequada a crianças e adolescentes, como a classificação indicativa. “Não há necessidade dessa preocupação, precisamos então entender de onde ela parte”, afirma.

Para Bento, a proposta tem caráter seletivo e mira principalmente o funk e o rap. “O sertanejo é um dos principais [gêneros] e não há nenhuma perseguição no momento contra músicas sertanejas. Então o que significa exatamente essa lei? É de fato a criminalização da cultura negra e periférica”, diz.

Ela vê o cenário atual como uma “segunda onda de criminalização” semelhante à dos anos 1990, quando artistas como Racionais MC’s e Nelson Triunfo enfrentaram perseguição policial e buscaram apoio do Instituto Geledés, organização que atua contra o racismo.

A diferença, aponta, é que hoje “o Estado tem muito mais aparato”, como drones para vigiar bailes e repressão policial com autorização de autoridades. “O aparato maior é você ter um batalhão que encurrala nove jovens no baile Paraisópolis e mata nove jovens. Então precisamos estar atentos e mobilizados, porque o sangue dos nossos jovens está escorrendo”, alerta.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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