O anúncio da Organização das Nações Unidas (ONU), em 28 de julho, de que o Brasil saiu novamente do mapa da fome foi antecipado em relação à meta do governo Lula (PT), prevista para 2026. O indicador global considera em situação de fome crônica países onde mais de 2,5% da população está subnutrida. Foi a segunda vez que o Brasil saiu da lista sob a gestão do PT.
Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, o ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) Francisco Menezes destaca que os dados usados pela ONU para calcular o índice ainda consideram 2022, ou seja, um ano fortemente afetado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pela pandemia do coronavírus, o que torna a saída do mapa da fome ainda mais significativa, na avaliação dele.
“Para ter uma dimensão dessa boa notícia, é preciso lembrar que nesse índice ainda entrou o ano de 2022 e todo o período do governo anterior foi uma catástrofe em relação não só ao enfrentamento da questão da fome, da insegurança alimentar, mas em termos também de políticas de renda para a população”, aponta.
O país saiu do mapa da fome em 2014 e retornou em 2021, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Naquele momento, o mundo enfrentava a pandemia do coronavírus e diversas políticas sociais foram desmontadas. A ONU indicava 4,1% dos brasileiros na linha extrema de falta de alimento.
Apesar do resultado rápido, o especialista considera que a divulgação da saída do mapa da fome pelo governo Lula foi tímida. “Acho que tem que divulgar mais, sobretudo no sentido educativo, para que estejamos alertas, para não permitir que isso se repita”, diz.
Retomada de programas sociais
Segundo Menezes, a recuperação envolve a retomada e ampliação de programas sociais. Ele cita o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), voltado para o fortalecimento da agricultura familiar; o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que recebeu reajuste de 36% em 2023; e o Bolsa Família, que além de manter o valor de R$ 600, incorporou adicionais para crianças, adolescentes e mães solo.
A queda no desemprego para cerca de 6,2% e a geração de 1,7 milhão de vagas formais em 2024 também contribuíram, aponta o especialista. O ex-presidente do Consea lembra que 98,8% das 1,7 milhão de vagas formais de emprego criadas em 2024 foram ocupadas por pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico), sendo 75,5% beneficiárias do Bolsa Família.
“Essa possibilidade de retomada do emprego está se dando para a população que mais precisa dele”, analisa, destacando que cerca de 1 milhão de famílias devem deixar o Bolsa Família por estarem empregadas, mas com a possibilidade de retorno prioritário em caso de perda de renda.
Estoques reguladores e qualidade interna
Menezes celebra também a retomada da formação de estoques reguladores de alimentos, interrompida nos governos dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Bolsonaro, mas pede que ela seja feita de maneira mais acelerada. “Não está sendo feito à velocidade que se precisa. Grande parte dessas dificuldades está também ainda em orçamentos insuficientes”, avalia.
Menezes também sugere que, diante de situações como o tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, eventuais compras governamentais dos alimentos que tiveram a taxa mantida priorizem a qualidade para o consumo interno. Ele ressalta que, muitas vezes, os alimentos exportados são de qualidade superior ao que fica para consumo doméstico.
“Nós não queremos alimentos ultraprocessados sendo despejados na alimentação escolar ou outras modalidades. Interessa, sim, alimentos de boa qualidade que estavam exportados”, protesta.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.