Com as movimentações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para promover um encontro entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o mandatário ucraniano, Volodymyr Zelensky, o conflito pode estar se aproximado do fim. Na esteira das condições que impossibilitam um cessar-fogo, no entanto, está a vantagem russa no campo de batalha, defende o historiador e analista Marco Fernandes.
“Hoje, o exército ucraniano, literalmente, anda nas ruas sequestrando homens para levar ao campo de batalha. Isso mostra o desgaste moral da população ucraniana e a falta de interesse em continuar a guerra. Você não ganha uma guerra se você tem que obrigar os soldados a ir. Não tem por que a Rússia concordar com o cessar-fogo sem resolver a situação, até porque é ela que está com a vantagem”, afirmou, durante o Bdf Entrevista desta quarta-feira (20), da Rádio Brasil de Fato.
Para Fernandes, o conflito entrou em uma fase de esgotamento interno para Kiev, ao mesmo tempo em que fortalece o papel da Rússia nas negociações internacionais e nos arranjos econômicos globais. Enquanto Moscou busca ampliar seus territórios para aumentar seu poder de barganha nas futuras negociações. “A Rússia quer avançar e conquistar mais territórios para sentar na mesa e negociar. É a lógica de chegar com fichas adicionais para trocar.”
Em relação aos EUA e à dinâmica de Trump, o analista enxerga um impasse interno sobre a continuidade do apoio à Ucrânia. “Para o grupo político do presidente, não faz sentido queimar cartuchos com a Rússia quando a grande ameaça existencial é a China. Esse teria sido o equívoco de Biden e dos ‘neocons’, que sonhavam até com a possibilidade inviável de enfrentar os dois ao mesmo tempo”, explica.
Já para a União Europeia, Fernandes aponta que a “russofobia” foi incorporada como instrumento político interno para justificar o aumento dos gastos militares. “É uma tentativa meio desesperada de uma reindustrialização via indústria bélica e, ao mesmo tempo, tem o sonho dos neoliberais há, pelo menos, 30, 40 anos na Europa, que era o desmonte do Estado de bem-estar social europeu. Essa narrativa não deve recuar mesmo após o fim da guerra, pois tornou-se funcional à elite europeia.”
Apesar das sanções econômicas sofridas, a Rússia encontrou caminhos alternativos e fortaleceu suas parcerias estratégicas, especialmente com China, Índia e Brasil. “Foram vários tiros no pé do Ocidente. Hoje, mais de 90% do comércio entre Rússia e China e entre Rússia e Índia já ocorre sem o uso do dólar”, observa.
O governo brasileiro também tem papel nesse reposicionamento, considera o analista. A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Moscou, em maio, foi interpretada como “um marco de reaproximação”. “Essa reaproximação está acontecendo e precisa acontecer. Acho que tem um potencial gigantesco, econômico, político, diplomático, da relação entre o Brasil e a Rússia. E, claro, para o Brics, isso é fundamental”, pontua.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.