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Cirurgias em crianças intersexo violam direitos e precisam acabar, defende ativista

Pan Herrera, da Associação Brasileira Intersexo, alerta para práticas médicas realizadas sem consentimento

“A nossa luta é para que corpos de crianças intersexo parem de ser violados simplesmente porque eles não se encaixam dentro da norma.” A denúncia é de Pâm Herrera, coordenador de projetos sociais da Associação Brasileira Intersexo (Abrai), em conversa com o BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, muitos bebês ainda são submetidos a cirurgias estéticas para se adequar aos padrões dos gêneros masculino ou feminino, o que pode gerar sequelas físicas e psicológicas.

Herrera explica que as intervenções geralmente são feitas sem necessidade de saúde, apenas por motivos estéticos. “Vai fazer uma, duas, três, quatro, cinco cirurgias numa criança porque diz que lá na frente ela vai precisar ter uma vida sexual ativa. Mas criança não faz sexo. Criança tem que ser preservada. Não é colocando aquele corpo dentro de uma norma que você vai oferecer saúde. Pelo contrário, psiquicamente, você pode estar destruindo essa criança para o resto da vida”, defende.

“Nós não somos contra cirurgias de saúde. A nossa luta é para que cirurgias estéticas não sejam feitas em crianças, mas quando essa pessoa crescer e tiver condições de optar”, complementa.

Ele lembra que a intersexualidade é uma condição biológica, inata, que pode se manifestar de diferentes formas e nem sempre é identificada ao nascimento. Muitas pessoas descobrem apenas na puberdade ou na vida adulta. “Pra mim, foi como receber a peça central do quebra-cabeça da minha vida. Tudo que eu vivenciei teve um porquê, e o meu corpo não é monstruoso, não é uma aberração, existem outras pessoas como eu”, conta, sobre a própria experiência.

O termo “hermafrodita”, ressalta Herrera, ainda usado por pessoas mais velhas, carrega estigmas e não dá conta da diversidade de corpos intersexo, que pode envolver variações cromossômicas, hormonais ou de genitália. De acordo com o coordenador da Abrai, movimento prefere o termo intersexo, mas respeita quem reivindica a nomenclatura antiga.

Para Herrera, a instituição médica brasileira ainda é “extremamente conservadora”, mas cresce o número de profissionais interessados em compreender a diversidade intersexo. “Esses profissionais estão entendendo que é preciso avançar no conhecimento e que só isso vai poder nos levar até uma situação de tentar garantir o direito humano”, observa.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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