No Dia Mundial Sem Carro, nesta segunda-feira (22), o geógrafo e pesquisador do BR Cidades Rafael Calabria defende que o poder público reverta a lógica de priorização do automóvel nas cidades brasileiras. “A ideia não é proibir, restringir. O governo, o poder público, até as empresas, a sociedade têm que trabalhar para que seja mais vantajoso a pessoa se deslocar de outros modos do que de carro”, afirma, ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo ele, o congestionamento não é um acidente e, sim, consequência de escolhas urbanas. “O que gera congestionamento é o fracasso desse modelo de cidade que construímos. O trânsito não é um erro do planejamento da cidade, é um resultado do planejamento da cidade”, analisa.
Calabria aponta o fenômeno da demanda induzida por obras viárias e cita projetos em São Paulo como exemplo do equívoco. “Está tendo um debate na Vila Mariana de um novo túnel para resolver o trânsito. Até o estudo sabe que vai saturar porque existe um estímulo ao uso do carro”, cita. Para ele, a saída passa por transporte coletivo de alta capacidade e mobilidade ativa. “Um corredor de ônibus, ou um trem, como deveria ter, pode ter uma demanda mais de 100 vezes maior do que a faixa de carro”, aponta.
Segundo o geógrafo, medidas de gestão do espaço viário apresentam resultados positivos. “O [ex-prefeito de São Paulo, hoje ministro da Fazenda, Fernando] Haddad fez as faixas de ônibus, as ciclovias, abaixou a velocidade e a cidade ficou quase dez anos sem recorde de congestionamento porque o impacto foi positivo”, avalia. “As faixas exclusivas se consolidaram, elas têm até hoje apoio”, complementa.
O pesquisador também atribui a persistência do modelo rodoviarista a lobby, cultura e formação técnica. “A propaganda é muito pesada. Tem técnicos formados nessa lógica de achar que tem que resolver o trânsito do carro”, pontua.
Durante a entrevista, Calabria mostra também como o impacto de uma ampla política de tarifa zero pode beneficiar trabalhadores, a população em geral e os próprios municípios em campos diversos como a própria mobilidade, a qualidade de vida e as finanças. “Precisa ter um apoio maior do governo federal e dos governos estaduais”, defende.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.