“É um projeto de cidade plastificada, em que a nossa área de lazer tem que ser enfiada dentro de shoppings. Um projeto do qual a gente não concorda.” A crítica é do ator e produtor Marcos Felipe, integrante da Companhia Mungunzá, ao comentar a pressão da Prefeitura de São Paulo pela remoção do Teatro de Contêiner, na região da Luz, no centro da cidade.
Para ele, a iniciativa reflete uma política urbana que privilegia espaços privados e elitizados, em detrimento da ocupação cultural e popular do centro. “Se quer chegar num território completamente embranquecido e elitizado, cuja terra vale muito. Determinados corpos não cabem nessa terra, precisam ser despencados para as periferias da cidade. É basicamente um processo de gentrificação”, denunciou, ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato.
Mais de um mês após a ação violenta da Guarda Civil Metropolitana (GCM) contra o teatro, o grupo segue sem uma resposta concreta sobre a contraproposta apresentada para aceitar a transferência para um terreno na Rua Helvétia, também no centro da cidade. “Nós fizemos uma contraproposta e, desde então, não obtivemos nenhum tipo de retorno”, revelou o produtor.
A Companhia reivindica ampliar em 400 m² a área oferecida para manter o conceito de “teatro-praça”, com árvores e playground. “Estamos pedindo uma ampliação exclusivamente para plantar árvore, para ter um playground para as crianças, para continuarmos com o que é o Teatro de Contêiner hoje”, disse Felipe.
O ator ressaltou que a retirada ignora a história construída no território. “O Teatro de Contêiner é o que é por causa da sua vizinhança. Não tem como tirar ele de um lugar e pôr em outro. Ele cria vínculos, cria afetos onde está”, apontou. Na sua avaliação, o espaço se consolidou como um polo de resistência cultural na capital paulista. “No último ano, 83% dos corpos que ocuparam o palco eram pretos, trans, dissidentes. O Teatro de Contêiner é um quilombo urbano”, afirmou.
Apesar de decisão judicial que garante 180 dias para permanência no local, a prefeitura tem pressionado pela saída já em outubro, segundo o integrante da Companhia Mungunzá. “Podem até agir dentro da lei, mas certamente estão muito distantes da justiça”, lamentou.
Em nota enviada ao Brasil de Fato, a Prefeitura de São Paulo alegou que o Teatro de Contêiner “invadiu e ocupa irregularmente área pública” e que o edifício será demolido para construção de unidades habitacionais. A gestão Ricardo Nunes (MDB-SP) chamou de “caluniosas” as declarações, por parte da companhia teatral, de que a Prefeitura teria abandonado as negociações. O posicionamento do governo municipal pode ser conferido na íntegra aqui.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.