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Aprovado na Câmara, reajuste do IPTU de SP penaliza a periferia e reduz imposto dos mais ricos

Na edição desta terça (30), do Jornal Brasil Atual, MST ocupa sede do Incra contra despejo do acampamento Marielle Vive

Os vereadores paulistanos aprovaram, na última sexta-feira (26), o Projeto de Lei (PL) 685/2021, do governo Ricardo Nunes (MDB), que reajusta a Planta Genérica de Valores da cidade de São Paulo, base do IPTU. A legislação propõe reajuste de quase 90% no valor do metro quadrado dos imóveis das famílias mais pobres, geralmente com até 80 metros quadrados e no máximo dois quartos. Casas de apenas um pavimento, com acabamento interno simples e sem acabamento externo, na periferia, vão passar de R$ 612 para R$ 1.159 o metro quadrado. 

Valores um pouco menores, mas igualmente exorbitantes, serão aplicados para casas térreas e sobrados no centro expandido e na região central da capital. Um sobrado simples, na região de Santo Amaro, zona sul, por exemplo, terá o valor do metro quadrado reajustado em 57%. Ao mesmo tempo, o prefeito propõe a redução de pouco mais de 5% do valor para imóveis com mais de 300 metros quadrados, vários quartos, escritórios, salão de festas e piscina. 

O professor de Planejamento Urbano da Universidade de São Paulo (USP), Nabil Bonduki, avalia que o projeto tem um caráter injusto. O urbanista destaca que a base do governo Nunes não apoiou a cobrança de um IPTU maior sobre os mais ricos. “Ele acentua o caráter regressivo que já existe (do imposto)”, contesta.

Reajuste limitado a 10%

Apesar dos aumentos nos valores do metro quadrado terem sido mantidos, a pressão da oposição conseguiu algumas modificações no projeto. Uma delas é que o reajuste do IPTU terá de ser atrelado à inflação do ano anterior. A cobrança também ficará limitada a, no máximo, 10% com relação ao exercício anterior, nos anos de 2022, 2023 e 2024. Com isso, o valor total do reajuste será diluído ao longo dos anos. A oposição também conseguiu garantir que fosse mantida a isenção do IPTU para imóveis com valor venal até R$ 230 mil, com a aplicação de descontos para propriedades de até R$ 360 mil. 

Bonduki alerta, no entanto, que as travas criadas vão segurar em parte o impacto do reajuste nos próximos anos. A avaliação é que com a expiração delas em 2024, a população mais pobre vai ter um grande aumento no IPTU. Para ele, o ideal seria que o imposto também tivesse uma cobrança específica pelo acúmulo de propriedades. O que levaria a cobrar mais dos mais ricos.

“A valorização dos imóveis de uma forma geral, periferia e centro, foi muito maior do que se expressou no IPTU. Só que a renda das pessoas, com exceção daqueles 1% mais ricos, não acompanhou essa valorização. Então seja a classe média ou setor mais popular, eles não têm hoje condições de pagar um IPTU se ele for atualizado de acordo com o valor do mercado imobiliário”, observa o urbanista. 

Inversão da progressividade

“Por isso que é necessário haver travas e fatores de desconto para se chegar a um valor que, de um lado não reduza, a capacidade de investimentos da prefeitura, e de outro, que as pessoas possam pagar. Nesse sentido, a possibilidade de se cobrar do 1% mais rico me parece o mais adequado. E isso só se consegue através da cobrança do acúmulo. Porque quando a pessoa acumula muitas propriedades é porque ela tem sim uma renda e uma capacidade de construção mais alta”, justifica. 

A planta genérica é atualizada a cada quatro anos e define os valores do metro quadrado dos imóveis. A medida é usada como referência para determinar o valor do IPTU em São Paulo. O projeto atual inverte a dinâmica da progressividade, na qual quem mora em imóveis maiores e em bairros com melhores condições de infraestrutura paga um valor maior para auxiliar no desenvolvimento de outras regiões. 

IPTU progressivo foi proposto na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). A medida previa a redução do tributo em áreas periféricas e aumento em bairros ricos, mas sofreu forte oposição de grupos empresariais e associações.

Confira todos os destaques desta terça-feira e o jornal completo no áudio acima. 

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