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Banco de grãos dos Brics é um caminho possível para desdolarização global, diz analista geopolítico

Programa discutiu saídas possíveis para a desdolarização e papel dos Brics na corrida anti-hegemônica

Quais as soluções Sul-Sul para as crises econômicas vindas do Norte Global? A implantação de medidas que beneficiem os países da região e quebrem a hegemonia de potências do Norte foram o tema do episódio desta semana de O Estrangeiro, podcast de política internacional do Brasil de Fato.

A partir de discussões iniciadas no Dilemas da Humanidade, conferência que reuniu alguns dos maiores pensadores do campo progressista mundial, o apresentador Rodrigo Durão dividiu bancada com o analista geopolítico Marco Fernandes, e o correspondente do Brasil de Fato em Caracas, Lorenzo Santiago, e, juntos, os três discutiram saídas para as crises do neoliberalismo que se apresentam atualmente.

Para Marco Fernandes, a ideia do russo Vladimir Putin de criar um banco dos grãos produzidos pelos países dos Brics parte da ideia de que “os preços dos grãos produzidos [pelos países do bloco] devem ser negociados pelas próprias nações produtoras”.

Dessa forma, “a gente vai ter mais influência nos preços, mais influência nas negociações, vamos poder manter a estabilidade dos preços. Porque os mecanismos de preços [dentro das bolsas do Norte global] de commodities não seguem apenas as leis de oferta e demanda, eles são alvos de especulação o tempo inteiro. E essa especulação nós não sabemos como se forma, é um mistério do mercado financeiro mundial”.

Além disso, a desdolarização do mercado Sul-Sul também está no horizonte da bolsa de grãos proposta pela Rússia: . “Um dos pilares da hegemonia é o fato de que as commodities no mundo são negociadas, somente, em dólar. Isso faz com que todos os países tenham que correr atrás de dólar, e os que não têm, se ferram.”

No entanto, se os grãos e outras commodities começam a ser negociados em outras moedas, “você diversifica o acesso dos grãos [para as nações globais] e diminui a necessidade de correr atrás de dólar. Ou seja, é um golpe no poder do dólar”.

“Só que os Brics continuam com uma dificuldade muito grande de chegar a consensos sobre medidas que gerem benefícios para os países. […] Acredito que vai ser impossível implementar decisões a partir de consensos. Como você cria uma série de iniciativas complexas, como uma bolsa de grãos, o fortalecimento do banco dos Brics, uma moeda reserva por consenso? É inviável”, pontuou Marco.

Alternativas, na prática

O correspondente do Brasil de Fato em Caracas, na Venezuela, Lorenzo Santiago trouxe para o diálogo algumas soluções práticas que o país latinoamericano – altamente sancionado pelos EUA – vem adotando. “Por esses aspectos [das sanções], a Venezuela depende de alianças regionais e intra-regionais para ter alguma forma de subsistência, como, por exemplo, colocar os seus próprios produtos no mercado, como o petróleo.”

Dentro dessa bolsa de alternativas está o projeto venezuelano Patria Grande del Sur, cujo objetivo é reforçar a produção de alimentos local no país, baratear os produtos para a população e aumentar a soberania alimentar. “A ideia é ter como base dessa produção a agroecologia e a agrofloresta. E nenhuma organização é melhor para isso do que o próprio MST”, esclareceu Lorenzo.

O correspondente explicou que o governo venezuelano pediu o apoio do MST para desenvolver este projeto. Ele reforçou que “o MST não recebeu terras do governo da Venezuela. Ele apenas vai encabeçar e ser o reitor desse projeto. O que é muito diferente de ter as terras”. Ou seja, diferente do que jornais brasileiros disseram nas últimas semanas, o movimento será responsável somente pela administração e apoio logístico ao programa.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quinta-feira às 10 horas no Spotify e YouTube.

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