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‘Israel quer manter o Irã debilitado para evitar concorrência regional’, diz coordenadora da AIP

Para Stephanie Brito, ataques israelenses fazem parte de plano de dominação dos EUA e ignoram tratados internacionais

A coordenadora da Secretaria da Assembleia Internacional dos Povos (AIP), Stephanie Weatherbee Brito, diz que os ataques recentes de Israel ao Irã não configuram uma guerra de 12 dias, como têm sido chamados por parte da mídia, mas sim uma continuidade de uma estratégia mais ampla de dominação na região do Oriente Médio.

“Não é uma guerra de 12 dias, temos que rejeitar essa nomeação porque ela é falsa e só serve para sublinhar um papel suposto do [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump como grande mediador dos conflitos mundiais, coisa que ele não é”, diz Brito em entrevista ao podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato. Segundo ela, os bombardeios das últimas semanas são parte de uma campanha agressiva permanente de Israel e não podem ser separados do genocídio em curso na Palestina.

Stephanie Brito acredita que o objetivo real de Israel não é conter o desenvolvimento de armas nucleares – que, segundo ela, o Irã não possui nem pretende desenvolver –, mas sim impedir o fortalecimento do país como potência regional. “O objetivo do Israel é manter o Irã submetido, debilitado, fragilizado para evitar que ele se torne um concorrente, uma força que possa disputar hegemonia com o Israel na região”, afirma.

Ela diz que o Irã tem potencial político, econômico e territorial para se tornar uma liderança regional. “O Irã tem uma população de em torno de 92 milhões de pessoas, é um país com depósitos de petróleo muito importantes, mas também de outros minérios, […] o que indica que, em algum momento, se o Irã pudesse se desenvolver, seria uma grande potência regional muito maior do que Israel, e Israel não pode permitir isso”, completa.

Rússia condena, mas com cautela

Para o correspondente do Brasil de Fato na Rússia, Serguei Monin, a Rússia mantém uma postura crítica ao projeto de hegemonia ocidental, do qual Israel seria um representante estratégico no Oriente Médio. “A Rússia vê no Irã […] um importante contrapeso de influência da Rússia, mas não só da Rússia, como contrapeso de uma hegemonia ocidental no mundo.” Segundo ele, o Kremlin se posiciona com firmeza contra as agressões de Israel, mas sem romper totalmente os laços diplomáticos e econômicos. “A Rússia tem alguma cautela, tem uma relação um pouco ambígua com Israel […] principalmente porque Israel não aderiu ao bloco ocidental de maneira tão enfática quanto ao caso da Ucrânia”, explica.

O correspondente avalia também que a Rússia tentou atuar como mediadora no recente conflito entre Irã e Israel, mas teve pouco protagonismo. “De certa forma, quem deu as cartas foram os Estados Unidos, como aliados de Israel”, indica. Segundo ele, o envolvimento militar direto do país seria improvável, embora Moscou tenha sinalizado apoio em caso de escalada mais grave.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11 horas no Spotify e YouTube.

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