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‘Educados por Hollywood’: por que não se fala dos 20 milhões de chineses mortos na 2ª Guerra

China celebra 80 anos da vitória contra agressão japonesa e lembra papel de sua resistência na derrota do fascismo

A participação chinesa na Segunda Guerra Mundial permanece pouco conhecida no Ocidente, apesar do número alto de mortos. Foram cerca de 20 milhões de vidas perdidas durante a ocupação japonesa, entre 1931 e 1945, período em que o país resistiu ao avanço do fascismo na Ásia. Em 2025, a China celebra os 80 anos da vitória da resistência contra essa agressão.

Em entrevista ao podcast O Estrangeiro, da Rádio Brasil de Fato, o analista geopolítico Marco Fernandes aponta duas razões para esse apagamento. “Primeiro porque vidas chinesas não importam para o Ocidente. E segundo, porque não teve filmes de Hollywood contando a história da resistência chinesa ao fascismo japonês. Simples assim. Fomos educado por Hollywood, são gerações e gerações”, afirma.

Fernandes lembra que o primeiro filme de Hollywood sobre a Segunda Guerra Mundial foi lançado em 1946, logo após o fim do conflito: Os Melhores Anos das Nossas Vidas, vencedor de sete Oscars. Desde então, dezenas de produções abordaram a guerra sob a ótica estadunidense.

Ele ressalta, no entanto, que os Estados Unidos só entraram na guerra em 1941, quando a China já enfrentava há uma década a invasão japonesa. “Enquanto a China estava sendo invadida pelo Japão, desde 1931 e depois com avanço em 1937, quem eram os grandes fornecedores de petróleo, de ferro, de commodities básicas para o Japão? Era o Ocidente, Estados Unidos. Então, é evidente que vidas chinesas não importam”, aponta.

Segundo Fernandes, a resistência chinesa foi decisiva para evitar que o Japão abrisse uma frente de batalha no leste, o que teria obrigado a União Soviética a dividir forças entre o nazismo e o império japonês. “A Segunda Guerra Mundial foi vencida também pelos chineses, mas não levamos isso em conta jamais nas nossas análises”, critica.

Também em conversa com O Estrangeiro, o jornalista Mauro Ramos, correspondente do BdF na China, destaca que o aniversário da vitória de 1945 tem um peso simbólico ainda maior para o povo chinês. “Eu acho, talvez, que a primeira razão da importância dessa data contra a agressão japonesa seja o começo do fim do século da humilhação”, analisa.

Esse período, que se estendeu do século 19 até a fundação da República Popular da China, em 1949, inclui episódios de dominação estrangeira e perda de territórios, como as Guerras do Ópio, a cessão de Hong Kong ao Reino Unido e de Taiwan ao Japão, além da pilhagem de relíquias culturais.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11h no Spotify e YouTube.

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