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Lula eclipsa Trump na ONU com ‘discurso histórico e irretocável’, avalia historiador

Para Miguel Stedile, presidente brasileiro saiu 'gigantesco' do embate com estadunidense na Assembleia Geral da ONU

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu politicamente o embate com o presidente estadunidense Donald Trump na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada nesta terça-feira (23). A avaliação é do historiador Miguel Stedile, em entrevista ao O Estrangeiro, podcast do Brasil de Fato.

“Indiscutivelmente, o presidente Lula ganhou. O discurso de ontem zerou o jogo. Um discurso histórico e irretocável, de uma força política impressionante”, disse Stedile. No pronunciamento de 15 minutos, Lula defendeu a soberania brasileira, pediu o fim do genocídio em Gaza, criticou a tentativa de intromissão estrangeira nas instituições nacionais, argumentou a favor de regras para o comércio mundial e para as plataformas digitais, além de citar a necessidade de um diálogo sobre a Venezuela. Foi aplaudido em diversos momentos e elogiado pela imprensa internacional.

Trump, que discursou logo em seguida por quase uma hora, destoou. O republicano multiplicou bravatas, contou feitos militares desmentidos pela imprensa internacional e chegou a fazer piada com o teleprompter e a escada rolante da ONU que travou quando o mandatário tentou usá-la. “O discurso do Trump, por outro lado, foi exatamente o contrário [ao de Lula], foi ruim de cabo a rabo. Ficou muito desproporcional a comparação”, avaliou o historiador.

Apesar das tensões diplomáticas recentes, como o tarifaço e sanções a autoridades brasileiras, Trump surpreendeu ao adular Lula. Disse que os dois tiveram uma “química excelente”, que conversava apenas com “gente legal” e chamou o presidente brasileiro de “um homem muito legal”. Para Stedile, a tentativa de aproximação reforçou ainda mais a vitória política de Lula, “eclipsando” a participação de Trump na assembleia. “No conjunto da obra, é indiscutível porque Lula foi gigantesco na sua participação, e Trump, novamente, foi minúsculo”, afirmou.

Próximos passos: reunião em discussão

O repórter do BdF em Brasília, Lorenzo Santiago, acrescentou que, apesar do anúncio feito por Trump durante seu discurso, o encontro entre os dois líderes ainda não está marcado. “Esse encontro não está agendado, não tem dia nem hora e não deve acontecer presencialmente”, explicou.

Segundo ele, o Itamaraty e a Casa Branca trabalham para viabilizar uma conversa por telefone ou videoconferência já na próxima semana. A preferência da diplomacia brasileira é por uma reunião virtual, para evitar constrangimentos como os sofridos por outros chefes de Estado em encontros com Trump no Salão Oval, a exemplo do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e do sul-africano Cyril Ramaphosa.

Entre os principais temas que devem entrar na pauta estão a revisão das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, a necessidade de reformar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a situação da Venezuela, alvo de novas ameaças militares norte-americanas.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11h no Spotify e YouTube.