As últimas ações públicas do médico e sanitarista Oswaldo Cruz, antes de se afastar do trabalho por questões de saúde, revelam princípios que, já em 1916, ressoavam desafios do Sistema Único de Saúde (SUS). Embora a política tenha sido criada mais de 70 anos após o falecimento do cientista, sua atuação é uma referência para o processo que levou o Brasil a ter a maior estrutura de saúde pública do mundo.
Essa influência levou a descobertas científicas e ações sociais que causam até hoje impactos positivos e motivou o Brasil a estabelecer a data de nascimento de Oswaldo Cruz, em 5 de agosto, como Dia Nacional da Saúde.
Ele morreu em fevereiro de 1917. Meses antes, foi nomeado prefeito de Petrópolis. No curto período em que exerceu a função, o sanitarista deixou um plano de governo que explicitava a ideia de que a saúde vai além da ausência de doenças e exige condições de vida dignas.
Além do saneamento básico em toda a cidade, o planejamento abrangia a organização dos serviços sanitários, melhorias na educação, que previa, inclusive, um censo de alfabetização, mais transporte público, estrutura e embelezamento urbano.
Não foi só na atuação como prefeito da cidade fluminense que Oswaldo Cruz mostrou alinhamento de valores com a defesa da saúde como um bem público e que precisa ser universal. Esse foco esteve presente em toda a sua trajetória.
Em entrevista ao podcast Repórter SUS, do Brasil de Fato, a professora Ana Lúcia Girão Soares de Lima, historiadora da Casa de Oswaldo Cruz, respondeu ao convite para refletir sobre como as lutas dessa figura histórica essencial ainda estariam presentes no SUS.
“Eu acho que se o Osvaldo Cruz fosse vivo hoje, ele iria admirar muito o fato de termos um Sistema Único de Saúde, que é um dos maiores do mundo, porque uma das grandes lutas dele foi justamente a melhoria das condições do atendimento à saúde da população”, diz.
Os desafios enfrentados por Oswaldo Cruz no combate à febre amarela, varíola e peste bubônica, guardam semelhanças com algumas das batalhas atuais do SUS. Nessa lista, estão, por exemplo, a desinformação, a falta de financiamento e a desigualdade.
“O interessante é pensar também a ideia de saúde não apenas como uma ausência de doença, mas também uma série de elementos que compõem esse quadro sanitário. As condições de vida, as condições de moradia, as condições de trabalho, o acesso que as pessoas têm ou não têm aos serviços de saúde, o que é muito importante”, pontua a professora.
O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Novos programas são lançados toda semana. Ouça aqui os episódios anteriores.