“Nosso amigo trancou a gente lá [no estúdio] e vazou com a chave. Ficamos a madrugada inteira presos e fizemos música”, relembra Thalin, um dos criadores do disco Maria Esmeralda no episódio 68 do Sabe Som?. Gravado em uma única madrugada, o álbum foi o ponto de partida para que o coletivo formado por ele, Gustavo Cravinhos, Pirlo, Lângelo e Leo VCSR Slim conquistasse o prêmio de Artista Revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Um feito que, segundo Cravinhos, reforça o potencial criativo que emerge da soma de vivências e da liberdade estética. Para ele, o álbum sintetiza, sobretudo, uma virada no fazer musical ao afirmar “uma simplicidade que eu acho que eu consigo às vezes trabalhar mais em prol da música e menos em prol do meu instrumento”.
Com dezesseis faixas e participações de nomes como Rubi e DonCesão, Maria Esmeralda soa como uma colcha de retalhos musical. Thalin ironiza ao definir o trabalho como tendo uma “estética de casa de vó”, mas é justamente essa atmosfera afetiva que dá liga ao disco. Ele ainda reforça que Maria Esmeralda é capaz de costurar cenas fictícias e compor uma narrativa única, encerrada na décima sexta música do álbum.
Apesar de flertar com elementos tradicionais do rap, como os beats e samples, o disco se distancia da abordagem mais direta das pautas sociais que historicamente marcam o gênero no Brasil. Isso gerou resistência. “Teve uma galera que ficou com vários pés atrás”, admite Thalin. Ainda assim, o projeto foi acolhido por artistas como BNegão e integrantes do Planet Hemp.
Rimas finas com suas influências e referências
Um dos principais combustíveis para a produção do disco – além da mente criativa de todos os envolvidos, já que “todo mundo produziu, todo mundo pôs a mão”, como relembra Pirlo –, foi a bagagem musical de cada integrante do grupo, suas experiências de vida particulares.
O cartão de visitas do álbum, por exemplo, conta com a ilustre participação de Marília Medalha, que fez sucesso no cenário musical brasileiro nos anos 1970 em parceria com outros nomes do MPB, como Vinícius de Moraes e Toquinho.
Na faixa Lúdica, Medalha, que para Thalin “é uma lenda”, recita um poema ao longo dos pouco mais de dois minutos da música. “Fez eu me apaixonar pela voz dela”, declara Lângelo.
Além desta da ilustre participação, Thalin também destaca a importância da imagem de seu avô Waldomiro em seu processo criativo. Ele é homenageado na nona e décima canção, intitulada com seu nome. “É um áudio do meu avô Waldomiro, que, inclusive, na faixa ‘Todo Tempo Do Mundo’ fiz como se fosse ele falando com a minha avó em seu leito de morte”, explica o compositor.
Em agosto, o grupo volta aos palcos com a nova turnê do disco. A primeira apresentação acontece no dia 2, no Teatro Paiol, em Curitiba (PR), e promete recriar a atmosfera intimista que marca o projeto. “Um cenário parecido com uma sala de casa de vó, com um sofázinho de vovó, tapetinho de vovó, cabideiro de casaco e chapéu de vovó, e tem uma poltrona de vovó também”, ilustra Cravinhos.
O podcast Sabe Som? vai ao ar toda sexta-feira, às 10h da manhã, e está disponível nas principais plataformas de podcast como Spotify e YouTube Music.