O compositor, cantor, produtor e guitarrista paraense Felipe Cordeiro destaca, em entrevista ao podcast Sabe som?, do Brasil de Fato, a força da coletividade e da “tecnologia social” que move a música popular na América Latina, especialmente na Amazônia. Para ele, a cena musical da região nasce da necessidade de autonomia frente ao centralismo cultural do Brasil, com um protagonismo que reflete a diversidade e a riqueza dos territórios amazônicos.
“Eu penso sempre em música popular como uma grande tecnologia social, tem sempre alguma coisa acontecendo coletivamente que dá um resultado”, afirma Cordeiro. Segundo ele, não se trata apenas de um ou outro artista: “Esses fenômenos são profundamente coletivos, todos eles […] aprendemos muito mais quando olhamos para o contexto”, acrescenta.
O músico ressalta que as festas populares, como o tecnobrega em Belém (PA), comparado ao funk no Rio de Janeiro (RJ) ou ao pagodão em Salvador (BA), são “festas de afirmação de comunidade”, expressões culturais que afirmam identidades e laços sociais em territórios historicamente marginalizados. “O cara vai ouvir uma música gringa que faz sucesso no mundo inteiro, pegar e transformar naquela batida, naquela dança, naquela onda ali”, explica.
Além disso, Cordeiro destaca o diálogo cultural da Amazônia com a América Latina e o Caribe. “Ali na costa norte do Brasil, nos lemos totalmente sendo da cultura latino-americana”, diz. Ele ressalta a influência de ritmos como a salsa, rumba, mambo e o bolero na música local, assim como a prática popular de criar novos nomes para os ritmos na Amazônia.
Para o cantor, é essencial que essa riqueza cultural não fique restrita à região, mas seja reconhecida como parte da identidade nacional. “Isso não deveria ser um assunto só meu, paraense […], deveria ser um assunto de mineiros, cariocas, paulistas, nordestinos porque, ou entendemos que o Brasil é um país multicultural, e torcemos e lutamos para que isso seja o nosso grande ativo, a nossa grande força de coesão, ou abandonamos essa coisa autocêntrica, que acaba acontecendo”, defende.
“Eu acredito em um Brasil mais democrático, em que o território é importante nessa democracia, um olhar para as pessoas que estão falando pelo território legitimamente, reivindicando esse território”, reforça o músico, sobre a importância de dar voz às próprias regiões e comunidades.
O podcast Sabe Som? vai ao ar toda sexta-feira, às 10h, nas principais plataformas de áudio, como Spotify e YouTube Music.