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Taxação de Trump é ‘declaração de guerra’ e reacende luta anti-imperialista no Brasil, dizem analistas

Especialistas afirmam que medida tem objetivo político e pode fortalecer discurso de soberania do governo Lula

A decisão do presidente dos Estados Unidos Donald Trump de impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros gerou forte indignação política no país e pode fortalecer a pauta da luta anti-imperialista no campo progressista. A medida é vista por especialistas como gesto político, e não econômico, que visa enfraquecer o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e favorecer a extrema direita no Brasil. Mas resultou no contrário.

“O governo Trump não adotou uma medida econômica; é uma medida política, cujo objetivo é agora, no ano que vem, derrubar o governo brasileiro”, afirma o historiador Valter Pomar, em entrevista ao podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato. Para ele, trata-se de uma “ação imperialista clássica” e uma “declaração de guerra” que deve ser tratada com seriedade pelo governo Lula. “Precisamos tomar medidas imediatas, garantir a nossa efetiva soberania alimentar, energética, digital, produtiva e militar”, defende.

Trump enviou uma carta oficial ao governo brasileiro anunciando a nova taxação. Entre as justificativas apresentadas, está o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado em 2023. Em resposta, Lula divulgou uma nota afirmando que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que o governo responderá “à luz da lei brasileira de Reciprocidade Econômica”. Diversos políticos e entidades se manifestaram contra a ofensiva norte-americana, inclusive os mais conservadores e a mídia hegemônica.

O cientista político Paulo Roberto de Sousa avalia que a administração Lula pode transformar a ofensiva estadunidense em vantagem política interna. “O governo, na verdade, ganhou um presente. […] Você tem uma extrema direita que monopolizou o nacionalismo nos últimos anos e que agora é colocada em xeque. […] Isso gera um novo paradigma da disputa sobre o sentido nacional”, analisa. Para ele, a retórica do inimigo externo pode ajudar a unir setores da sociedade em torno do governo, como já ocorreu em outros momentos da história. “Os EUA, inclusive, são especialistas em salvar candidaturas com o discurso de união nacional contra um inimigo externo”, pontua.

Na avaliação da economista Juliane Furno, a medida pode abrir caminho para um reposicionamento estratégico do Brasil. “Acho que ele [Trump] nos deu de bandeja a oportunidade de reunir aquele sentimento de compromisso nacional com uma pauta verdadeiramente nacionalista, que falta para a esquerda se apropriar ou reapropriar. […] Defender a pátria significa bradar soberania; a não interferência; relações menos unilaterais com os países, sobretudo os imperialistas”, diz. Ela defende a ampliação das relações comerciais com países do Sul Global, diante do desgaste com os EUA.

Já o economista Daniel da Conceição acredita que o impacto econômico imediato das tarifas deve ser limitado, já que os produtos brasileiros devem encontrar novos mercados. No entanto, ele aponta que o gesto de Trump pode deixar em alerta setores bolsonaristas ligados ao agronegócio. “Eles foram entregues como os principais reféns da ação de Bolsonaro para que haja algum tipo de sofrimento econômico para que ele possa para sair da sua da sua situação de dificuldade política”, avalia.

O videocast Três Por Quatro vai ao ar toda quinta-feira, às 11h ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.

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