O início dos trabalhos no Congresso Nacional após o recesso foi marcado por uma ofensiva da extrema direita, com protestos, invasão dos plenários e paralisação das atividades. A principal pauta dos parlamentares bolsonaristas é a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A movimentação também mira no fim do foro privilegiado e no impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Para o cientista político Igor Felippe Santos, o episódio representa um avanço tático do bolsonarismo. “Eles conseguiram, a partir de ontem, avançar com a sua agenda política no Congresso Nacional”, avalia, em entrevista ao podcast Três Por Quatro, do Brasil de Fato. Segundo ele, a extrema direita pressionou até conquistar compromissos com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), mesmo que suas pautas “não sejam de interesse do país, mas de interesse desse setor e quase com caráter sindical”.
Também entrevistado no podcast, o historiador Valério Arcary classifica a ocupação da mesa da Câmara como uma “sublevação motim” e um “movimento doido de insurreição parlamentar”. Para ele, o objetivo da extrema direita foi dar um recado de que “o PT, à frente do governo, não governa mais até 2026”.
A mobilização, segundo Santos, serve para reforçar a narrativa de vitimização do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que atualmente cumpre prisão domiciliar. “Ele vai conseguindo criar uma narrativa que vai fazer com que, quando ele for preso e condenado, se coloque como uma vítima e […] consiga ganhar uma sobrevida política”, avalia.
Ocupar as ruas para virar o jogo
Ambos os analistas apontam que, apesar da gravidade da ofensiva, ela pode ser revertida. Para isso, seria necessário repetir a articulação entre governo, sociedade civil e redes sociais ocorrida em julho, durante as mobilizações contra a taxação imposta pelos Estados Unidos e em defesa da isenção do imposto de renda.
“A esquerda tem que retomar a ofensiva, e é uma ofensiva no sentido de retomar o debate sobre temas que possam colocar em jogo as agendas da classe trabalhadora”, defende Santos. Segundo ele, “as ruas são fundamentais” para barrar retrocessos no Congresso.
Arcary completa que “o maior risco neste momento é o medo de correr riscos”. “Nós vamos ter que correr riscos, […] voltar para a ofensiva, começar a fazer a disputa da consciência dos trabalhadores, do povo, das mulheres, dos negros, da juventude, dos LGBTs, dos ambientalistas”, afirma.
O historiador alerta, no entanto, que a pauta bolsonarista ainda pode ganhar espaço. “Não está descartado que a situação que já é muito ruim fique pior. […] O Congresso Nacional Brasileiro é uma expressão retrógrada, anacrônica, obsoleta do que é a sociedade brasileira”, lamenta.
O videocast Três Por Quatro vai ao ar toda quinta-feira, às 11h ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.