direitos humanos

Crianças refugiadas discutem no Radinho BdF o direito de migrar

Ter que deixar às pressas a casa, a escola e partir para um país novo é a realidade de 26 milhões de pessoas no mundo

Ouça o áudio:

Crianças refugiadas têm os mesmos direitos das crianças brasileiras, além disso, têm garantia de não deportação - Arquivo/EBC
Eu gosto do Brasil e quero seguir uma vida nova com a minha família

As mudanças de escola, o empenho para aprender português, as boas experiências com a acolhida e os sonhos de um futuro com mais oportunidades para si e para a família. Essas foram algumas das experiências compartilhadas por crianças de diferentes nacionalidades refugiadas no Brasil, que foram ouvidas na edição de hoje (23) do Radinho BdF, em comemoração ao Dia Mundial do Refugiado, celebrado em 20 de junho.

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“Eu gosto do Brasil e quero seguir uma vida nova com a minha família, mas também tenho saudade da Venezuela. O idioma é muito diferente. E aqui no Brasil as mangas também são diferentes. Na Venezuela são mais doces e saborosas”, lembrou Juan Carlo, de 12 anos, que veio com a família da Venezuela e hoje vivem em Boa Vista (RR). “Nós tivemos que dormir na rua. Algumas vezes nos davam comida, outras não. Passamos por muita coisa, mas depois que nos mandaram para o abrigo ficamos bem.”

Ter que deixar às pressas a casa, a escola, os amigos e partir para um país novo e desconhecido é a realidade de ao menos 26 milhões de pessoas no mundo. E metade delas são crianças e adolescentes menores de 18 anos. Neste caso não se trata de uma viagem ou de uma mudança, mas sim de uma necessidade para preservar sua vida, fugindo de guerras, violência e violação dos direitos humanos.

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Em alguns casos, inclusive, é necessário se separar das famílias, como aconteceu com o venezuelano Yubriedy, de 7 anos, que hoje vive em Boa Vista, Roraima. “Minha mamãe estava aqui e eu tinha saudades dela. Vim de ônibus e caminhei muito na ‘trocha’, o caminho ilegal. Depois pegamos outro ônibus. Foi muito longe.”

Súper Panas

O Juan Carlos e o Yubriedy foram acolhidos em projetos implantados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Junto com parceiros, a agência da ONU criou os espaços "Súper Panas", ou em português, "Super Amigos", onde são oferecidas atividades de educação, de proteção e de apoio psicossocial às crianças e adolescentes que chegam da Venezuela.

Nesse projeto, as crianças podem brincar, estudar, fazer novos amigos, aprender português e conhecer mais sobre a cultura do Brasil. Hoje são 30 Súper Panas localizados em abrigos e áreas de passagens na região norte do Brasil, nos estados de Roraima, Amazonas e Pará.

Por conta da pandemia, o Unicef criou uma rádio para conseguir continuar a se comunicar com essas crianças durante o isolamento social: o Súper Panas no Rádio. Os programas são elaborados pelas próprias crianças e adolescentes e ele é oferecido gratuitamente para rádios e educadores.

De mãos dadas

E como podemos ajudar uma criança refugiada que chegou no Brasil a se sentir em casa? O padre Paolo Parise, coordenador da Missão Paz, uma obra da igreja católica para acolher imigrantes e refugiados, dá a dica: “A primeira coisa é respeitar essa criança e protegê-la do bullying e da discriminação. O próximo passo é valorizar a diferença, se interessando em conhecer sua cultura e língua. Você pode ensinar algo para ela e ela ensino algo para você. É importante vê-la como alguém que veio aqui para te enriquecer e você também enriquece ela criado uma troca saudável.”

Passado e futuro

Antes de chegar ao Brasil algumas crianças passaram por outros países, como o Kemal, de 13 anos. “Eu nasci na Rússia e agora moro no Brasil, em São Paulo, desde 2017. Mas como meus pais são turcos eu também sou turco. Nasci na Rússia porque meu pai trabalhava lá. Depois fui para o Marrocos e lá era muito diferente, porque a cultura era muçulmana”, disse.

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Mesmo chegando pequenos no Brasil, as crianças guardam diferentes memórias do seu país de origem, como Estrela de Dama Mabanza, de 9 anos, que nasceu em Luanda, em Angola e hoje vive em São Paulo: “A gente veio aqui para nossa vida ficar segura. Eu lembro que as ruas de lá tinham muita areia e algumas casas não tinha água. Aqui a gente tem boas condições na escola e tem muita diversão”.

E é importante saber que todas as crianças refugiadas têm os mesmos direitos das crianças brasileiras, além disso, elas têm um direito especial a proteção, de não serem deportadas ao seu país de origem onde tinham a vida ameaçada de alguma maneira.

“Eu não tinha família que morava aqui. Meu papai chegou primeiro, depois eu cheguei com minha mamãe e minha irmãzinha e depois veio minha vovó, meus tios e meu vovô. Agora eu tenho mais tio que vai vir para o Brasil e eu vou ajudar ele a aprender português”, diz a haitiana Cindy, que hoje vive com a família em Santo André, no ABC paulista,

Ser refugiado e partir para outro país desconhecido é muito diferente de fazer uma viagem de férias ou se mudar para outra parte do mundo por vontade. Os refugiados saem de seus países não por que querem, mas por falta de outra opção. E muitas vezes deixam tudo que tem para trás com a esperança de construir algo melhor no lugar onde chegam. E assim como todas as outras crianças e adolescentes, eles planejam e sonham com um novo futuro, cada um à sua maneira.

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“O que eu penso para meu futuro é em fazer uma faculdade, trabalhar e continuar morando aqui no Brasil, com a minha família. Se voltar para Síria vai ser só para viajar”, diz Mohammed, de 13 anos, que hoje também mora em Santo André, no ABC paulista.

Histórias e músicas

Na voz da pedagoga Bruna Melauro, os ouvintes conhecem “A menina que abraça o vento – a história de uma refugiada congolesa”, de Fernanda Paraguassu. Nela a personagem Merceni encontra um jeito especial de lidar com a saudade do pai, que precisou ficar em sua terra natal. O que será que ela fez?

Além disso, as crianças ouvem da integrante do Instituto Alana, Ana Claudia Leite, dicas de como se divertir com crianças que chegaram de outros países no Brasil. “Uma boa ideia é fazer fazer casinhas com lençóis, folhas, tocos de madeira e restos de tecidos. Outra é preparar comidinhas do seu país, de verdade ou de mentirinha. Como a gente aprende quando conhece outras sabores, a gente viaja através da comida porque ela traz as memórias dos lugares e dos povos.”

Para completar, a Vitrolinha BdF põe a criançada para dançar ao som de Arnaldo Antunes, com “A casa é Sua”, Caetano Veloso, com “Amanhã” e da Orquestra Mundana Refugi, composta por músicos de mais de 10 nacionalidades que se refugiaram no Brasil.


Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].

Edição: Sarah Fernandes