Remoções

Museu das Remoções expõe memória de resistência da Vila Autódromo, no Rio

Desde 2014, o prefeito Eduardo Paes iniciou as demolições das casas para dar espaço às obras das Olimpíadas

Rio de Janeiro |
No final de abril, a comunidade e a prefeitura acordaram um projeto de urbanização
No final de abril, a comunidade e a prefeitura acordaram um projeto de urbanização - Daniel de Andrade

Após anos de luta contra remoção forçada submetida pela Prefeitura do Rio, parte da Vila Autódromo conseguiu permanecer ao lado do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. Para não deixar morrer as memórias de resistência da comunidade, foi inaugurado na última quarta-feira (18), o Museu das Remoções. Pensado em parceria com museólogos e estudantes do curso de arquitetura da Faculdade Anhaguera de Niterói, o museu exposto a céu aberto traz as histórias dos espaços que existiam na comunidade antes de serem removidos.

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As esculturas que compõem o museu foram construídas através de oficinas com estudantes e moradores, em que foram resgatados os entulhos dos imóveis que existiam no local, além de registros em fotos e vídeos.  Os objetos são formados pelo o que restou da comunidade para homenagear os locais e as pessoas que formavam a Vila Autódromo antes da intervenção da Prefeitura do Rio. 

“Tivemos várias reuniões para pensar em como representar o mercado, a associação de moradores, as casas, as pessoas importantes para nós em forma de símbolos. O museu é um resgate da nossa história, que estará sempre em exposição. Ao longo da nossa luta recebemos apoio de muitas pessoas da cultura, então vejo como um marco muito importante a criação do nosso museu”, explica a moradora Natália Silva, 29 anos, estudante de Artes.

A comunidade que antes era formada por aproximadamente 550 famílias, hoje tem apenas 20. Desde 2014, o prefeito Eduardo Paes autorizou as demolições das casas para dar espaço às obras das Olimpíadas, em troca ofereceu aos moradores apartamentos no conjunto habitacional Parque Carioca, em Jacarepaguá. 

As famílias que decidiram permanecer na Vila Autódromo lutaram contra ameaças, demolições, violência policial, cortes frequentes de água e situações de risco geradas pelos entulhos e circulação de maquinário. No final de abril desse ano, a prefeitura e a comunidade acordaram um projeto de urbanização e construção de novas habitações no local.  A entrega das casas e das obras está agendada para o próximo 22 de julho.

“Apesar do projeto não atender a todas as nossas demandas, estamos orgulhosos do resultados da nossa luta. A Vila Autódromo entra para a história como a primeira comunidade que consegue resistir às Olimpíadas, mas isso não anula o fato de ser a maior remoção para o megaevento. Quando um governo remove, não resolve o problema social, mas sim multiplica as favelas porque as pessoas que saem dali vão para outras comunidades. O que deve ser feito é a urbanização de todas as favelas para que a classe trabalhadora tenha uma condição digna de moradia ”, afirma Sandra de Souza, 48 anos, moradora da Vila Autódromo há 25 anos.

O acordo entre os moradores e a prefeitura só aconteceu após a repercussão da demolição da casa de Maria da Penha Macena, 51 anos, que vive há 23 anos na comunidade. A remoção aconteceu no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, mesma data em que a moradora foi homenageada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

“Foi muito difícil. Eu me senti criminalizada nesse dia. Coloquei minha mudança para o lado de fora da casa com ajuda de amigos e apoiadores, porque eu falei para o prefeito que abriria mão da minha casa, mas não do direito de permanecer nessa comunidade. Você constrói sua casa para morar, nunca imagina que sua casa vai ser demolida. Tem toda a sua história. Eu vou ter uma nova casa aqui dentro, mas a casa que eu construí não vou ter mais” conclui Maria da Penha.

 

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