Reaproximação

'Assim como nunca foi anti-EUA, Cuba seguirá sendo anti-imperialista', diz diplomata

Relação dos países se normalizará se 'EUA renunciarem a pretensão de controlar destino de Cuba", afirma diplomata"

OperaMundi |
Josefina Vidal afirmou que Cuba 'é e seguirá sendo profundamente anti-imperialista' mesmo com reaproximação com EUA
Josefina Vidal afirmou que Cuba 'é e seguirá sendo profundamente anti-imperialista' mesmo com reaproximação com EUA - Ismael Francisco/Cubadebate

Em entrevista exclusiva ao Granma, jornal oficial do Partido Comunista de Cuba, publicada na terça-feira (19), a diplomata e diretora para questões dos EUA do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, Josefina Vidal, afirmou que a ilha caribenha “é e seguirá sendo profundamente antimperialista” mesmo com sua reaproximação com o país norte-americano.  

Ao ser questionada se a busca de novas relações com Washington implica abandonar o anti-imperialismo da Revolução Cubana, Vidal respondeu que "absolutamente não". "Assim como nunca foi anti-EUA, Cuba é e seguirá sendo profundamente anti-imperialista. O fato de que estejamos tratando de construir uma relação de um novo tipo com os EUA não implica que Cuba renuncie sua política exterior comprometida com as causas justas do mundo, a defesa da autodeterminação dos povos e o apoio aos países irmãos, sem renunciar a nenhum de seus princípios”, respondeu a diplomata.

Vidal ressaltou, entretanto, que o país e a população cubana não podem “se descuidar” e deixar de defender os “valores e símbolos consolidados nos quase 60 anos de revolução socialista” e devem “seguir transmitindo-os de geração em geração”.

A diplomata também abordou algumas questões que ainda devem ser resolvidas entre ambas as nações, que anunciaram o restabelecimento de relações diplomáticas em dezembro de 2014 e formalizaram a reaproximação em julho de 2015 quando reabriram suas respectivas embaixadas em Washington e Havana. Especificamente, ela citou o bloqueio econômico imposto pelos EUA em 1962.

“O bloqueio é uma política do passado e deve acabar”, afirmou Vidal, argumentando que esta política gera uma série de “consequências negativas para Cuba” do ponto de vista econômico e social. Para que a ilha caribenha deixe de ser prejudicada nesse sentido, Vidal disse que, além de levantar o bloqueio, os EUA precisam emitir uma declaração oficial afirmando que operações financeiras com Cuba “são legítimas e não serão sancionadas”.

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Até o restabelecimento das relações, o governo do atual presidente dos EUA, Barack Obama, aplicou um total de 49 multas a bancos norte-americanos e estrangeiros por tentar formar relações com a ilha. Segundo Vidal, apesar de os EUA terem parado com estas ações, elas ainda têm um efeito intimidatório sobre as instituições.

Entre outros pontos para normalizar as relações com o país, a diplomata cubana citou a “devolução do território ilegalmente ocupado em Guantánamo”, o fim da política migratória que exclui cubanos e compensações ao povo pelos danos humanos e econômicos causados.

Além disso, “ainda que um dia sejam resolvidas todas as questões pendentes, incluindo o bloqueio e a devolução do território ocupado ilegalmente em Guantánamo, para que existam relações normais, os EUA também deveriam renunciar sua pretensão histórica de decidir e controlar o destino de Cuba. Do contrário, não será possível existirem relações normais”, afirmou Vidal.

A diplomata cubana, porém, não deixou de mencionar os avanços já conseguidos, como a visita de Obama à ilha. “Foi um passo importante no processo em direção à melhoria das relações. É importante ressaltar que Obama veio à Cuba revolucionária e socialista, soberana e independente, para se reunir com a liderança da Revolução; e não como o único outro presidente dos EUA [que foi à ilha], Calvin Coolidge, que 88 anos atrás visitou a Cuba neocolonial e plattista sob a ditadura de Gerardo Machado”, disse.

Ela também mencionou os acordos bilaterais assinados entre ambos os países nos últimos 19 meses, quando teve início a reaproximação, classificando-os como relevantes, principalmente ao considerar que Cuba e EUA não tiveram relações de nenhum tipo durante meio século.

“Mas são suficientes estes avanços? Não. Ainda há muito por fazer”, afirmou Vidal.

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