Circo da Democracia

Para Requião, Temer é apenas um agente do governo dos EUA

Roberto Requião (PMDB) e Vanessa Graziottin (PCdoB) estiveram no centro do picadeiro do Circo da Democracia.

Curitiba (PR) |
“O capital usou o Temer, mas o capital não quer mais o Temer, quer a precarização absoluta da classe política brasileira”, afirma Requião
“O capital usou o Temer, mas o capital não quer mais o Temer, quer a precarização absoluta da classe política brasileira”, afirma Requião - Camilla Hoshino

No mês em que o senado define o futuro do país, os senadores Roberto Requião (PMDB) e Vanessa Graziottin (PCdoB) estiveram no centro do picadeiro do Circo da Democracia, em Curitiba. O debate ocorreu neste domingo (7), com plateia lotada. Em ambas as falas foram apresentados os interesses por trás do impeachment.

Senador pelo Paraná, o ex-governador Roberto Requião fez, ao longo da sua intervenção, várias críticas ao capital financeiro. De acordo com ele, o presidente interino Michel Temer (PMDB) é apenas um agente desse setor e do governo dos EUA.

“O capital usou o Temer, mas o capital não quer mais o Temer, quer a precarização absoluta da classe política brasileira”, afirma. Requião analisou o movimento do capital financeiro, no plano internacional e no Brasil.

Na avaliação dele, a adoção do neoliberalismo no início do segundo mandato de Dilma, aprofundado por Temer, leva à crise social. De acordo com Requião, “o neoliberalismo fracassou na Europa, em Portugal, Espanha e outros países. (…) O capital financeiro, o capital vadio, se reorganiza num tripé de posições tomadas. O primeiro é a precarização do [poder] Executivo, com o banco central independente”, critica.

O segundo ponto de precarização, de acordo com o senador, é a do parlamento, financiado atualmente pela iniciativa das empresas privadas. “Você não tem mais o parlamentar do PT, do PPS, etc. Você tem o parlamentar mandado pelo capital", afirma.

Vanessa Graziottin, senadora pelo Amazonas, complementa também que a conjugação entre fragilidades econômicas e crise ética na política serviu de caldo de cultura para o golpe. "É algo que dói no coração, porque é o pior tipo de golpe que pode haver. Golpe não necessariamente se faz com tanques na rua, mas é golpe quando você não respeita o ordenamento jurídico do país", lamenta.

Erros e acertos do governo PT

Requião afirmou ainda que foi crítico às medidas iniciais do segundo mandato de Dilma.

“Desde que tomei posse no Senado, fui o único a fazer persistentes críticas à política econômica do governo federal. Eu não podia acreditar, pois esperava uma continuidade melhorada e não o embarque na canoa furada. Afundada na crise da recessão, ela [Dilma] achou que por um ano pelo menos podia embarcar na política da banca [financeira]. Não deu certo mesmo”, analisa.

"Há muitos erros do nosso lado. Cometemos muito erros para a situação chegar como chegou", lamenta Vanessa Graziottin. Como exemplo, cita a falta de avanço no campo da democratização dos meios de comunicação, e também ao não impulsionamento dos veículos alternativos e comunitários. "Não é que não avançou. É pior. Durante estes 13 anos, mais rádios comunitárias foram fechadas do que abertas”, disse.

Apesar de todas as críticas, a senadora garante que é preciso reconhecer os avanços e diferenças com relação ao projeto do governo golpista. "Não só pelos 40 milhões retirados na linha da miséria, mas por ter mexido um pouco na política brasileira", defende. A senadora aponta o marco do petróleo como uma das conquistas mais importantes e decisivas do governo PT, seriamente ameaçados pelo ministro interino das Relações Exteriores, José Serra. "Serra está fazendo mudanças estruturais sem ter sido eleitos pelo povo".

Precarização do trabalho

O terceiro tripé do que Requião chama de "precarização" promovida pelo capital é a do trabalho, caminho que quebrou a economia do mundo inteiro. "A Grécia tinha dívida pública de 104%, chegaram os ‘Meireles’ por lá e influenciaram. Em 2015, a Grécia acabou com saúde pública, com salário, com previdência. Houve também a privatização das empresas públicas (…) Isso quebrou a Grécia”, aponta Requião.

Plebiscito

Requião e Graziottin também defendem um plebiscito para definição popular. Para Requião, não há mais condições de governabilidade no caso de um possível retorno de Dilma, dado o caráter fisiológico e fragmentado dos partidos. Segundo ele, o plebiscito deve debater a permanência ou não de Dilma. Defende também que Dilma realize um "ministério de composição nacional".

Segundo os cálculos apresentados por Graziottin, falta o apoio de quatro senadores para que seja possível segurar o impeachment. "São quatro figuras da república que podem decidir o destino no país". Segundo a senadora, caso seja consumado o golpe, haverá repressão a quem se opor às políticas de retrocesso do governo Temer: "Nenhum governo que entra pela porta dos fundo, ferindo a democracia, vai ser um governo democrático", afirmando que haverá acirramento das práticas antidemocráticas e de repressão aos movimentos populares e de quem se colocar contra o governo golpista.

"Nós precisamos resistir e derrotar esse golpe. O único sentimento que não podemos deixar que tome conta da gente é o de que não tem mais jeito", sugere a senadora.

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