Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • TV BdF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • I
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Opinião
  • DOC BDF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Geral

EPIDEMIA

“É preciso eliminar os criadouros através do saneamento básico”, afirma pesquisadora

Constancia Ayres é a pesquisadora que descobriu que o pernilongo comum também transmite Zika

07.out.2016 às 15h08
Recife (PE)
Alan Tygel
De acordo com Constancia Ayres, a única forma de impedir a propagação da zika e da microcefalia é investindo em saneamento.

De acordo com Constancia Ayres, a única forma de impedir a propagação da zika e da microcefalia é investindo em saneamento. - De acordo com Constancia Ayres, a única forma de impedir a propagação da zika e da microcefalia é investindo em saneamento.

Uma nova descoberta científica pode alterar toda a estratégia do controle do vírus da Zika no Brasil. Estudos realizados no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz, em Recife, mostram que o mosquito Culex, conhecido como pernilongo ou muriçoca, também transmite o vírus da Zika, responsável pelos casos de microcefalia. Com isso, todas as estratégias de baseadas no uso de agrotóxicos inseticidas ou mosquitos modificados ficam sem sentido, e o saneamento básico passa a ser a única opção.

O Brasil de Fato entrevistou Constancia Ayres, coordenadora desta pesquisa, para entender porque esta descoberta é tão importante, e porque tem havido um grande bloqueio nas revistas científicas à divulgação destes resultados. Constancia Ayres é pesquisadora titular do Departamento de Entomologia (estudo de insetos) do CpqAM/Fiocruz/PE, atualmente no cargo de vice-diretora de ensino.

Brasil de Fato –  O que fez você suspeitar que o mosquito Culex, também conhecido como pernilongo ou muriçoca, poderia transmitir o vírus da Zika?

Constancia Ayres – Quando a epidemia começou, aqui em Recife, o padrão de transmissão e a rapidez com que o vírus estava se dispersando me chamou a atenção. Para ser um vírus transmitido exclusivamente pelo Aedes Aegypti, estava fugindo do padrão observado em outros arbovírus (vírus transmitidos por mosquitos) que tem o Aedes como vetor principal, como a Dengue a Chikungunya. Um número alto de casos estava acontecendo num espaço muito curto de tempo.

Então eu fiquei intrigada com essa questão e resolvi ler um pouco a literatura sobre o processo de incriminação do Aedes Aegypti como vetor principal da Zika. Eu queria saber quais eram as provas que se tinha de que realmente era o Aedes Aegypti. E quando eu comecei a ler, percebi que de fato as evidências não existiam. Pelo menos não da forma como a gente espera dentro do método científico, seguindo todos os critérios.

Na Micronésia, onde ocorreu a primeira epidemia de Zika em ambiente urbano, eles tentaram identificar o vetor, e o Aedes Aegypti é ausente naquela região. Em algumas ilhas da Micronésia ele era completamente ausente, e nas ilhas em que ele existia, era extremamento raro. Então ele não poderia ser o responsável pela infecção de 70% da população humana, como ocorreu. Eles tinham outras espécies de Aedes, mas viram que todas as amostras que eles analisaram eram negativas. Então não foi achado o vírus no vetor. E isso é um dos requisitos que você precisa ter para incriminar a espécie como vetor.

A segunda epidemia foi na Polinésia Francesa, e ocorreu a mesma coisa. Os pesquisadores coletaram  amostrar de Aedes, e não acharam na verdade nenhum positivo, quando 90% da população estava infectada. Então como é possível, no meio de uma epidemia, não achar o vetor com vírus?

Cheguei à conclusão de que na verdade outras  espécies poderiam estar implicadas na transmissão, e que essas espécies haviam sido negligenciadas ao longo da história do conhecimento de Zika.

O Culex é uma espécie abundante em praticamente todas as áreas do globo, inclusive Polinésia e na Micronésia, mas ele não foi investigado. E aqui em Recife o que a gente mais tem? Culex! Inclusive muito mais do que Aedes. Então eu passei a querer investigar essa possibilidade.

A outra questão é que o Culex já é vetor de outros arbovírus, como o Vírus do oeste do Nilo, o Vírus da Encefalite Japonesa, o Vírus da Encefalite Equina, que são vírus neurotrópicos, que causam manifestações neurológicas, assim como o Zika.

O Aedes transmite mais vírus hemorrágicos, como a dengue e a febre amarela. Então o Zika é mais próximo filogeneticamente dos vírus que o Culex transmite do que dos vírus que o Aedes transmite. Foram muitas sugestões, e eu resolvi investigar.

Brasil de Fato –  Como foi então o processo de pesquisa?

A gente coletou o Culex, e começou a fazer infecção artificial em laboratório para ver a suscetibilidade do mosquito ao vírus. E comprovamos em laboratório que o Culex tem a mesma capacidade que o Aedes de transmitir o vírus. Os dois apresentam competência vetorial. Mas para comprovar que o Culex é vetor, ainda era necessário achar ele em campo infectado, e conseguimos.

A gente foi a campo, na casa das pessoas que estavam notificando casos de Zika. A Secretaria de Saúde coletou amostras e mandou pra gente, e de fato conseguimos identificar o vírus em amostras de Culex de campo. Isso fecha o ciclo que mostra que ele é vetor.

Para comprovar isso, é necessário ter repetidas provas da associação dos casos clínicos com o vetor infectado no ambiente. Até agora conseguimos achar aqui em Recife e no Espírito Santo. Mas já há relatos no Equador, e mais pesquisas estão sendo feitas.

Brasil de Fato –  Recentemente saíram pesquisas dizendo justamente o contrário do seu estudo, ou seja, que o Culex não transmite a Zika…

Quando a gente começou a levantar nossa hipótese, outros grupos começaram a investigar e mostraram em laboratório que o Culex não tem competência para transmitir a Zika. Nesse meio tempo a China publicou um artigo em que mostram que conseguiram infectar o mosquito Culex com o Zika, e botaram esse mosquito infectado para se alimentar em camundongos, e os camundongos adoeceram. Então, isso comprova que o Culex de fato consegue transmitir.

Cinco ou seis trabalhos foram publicados de forma muito rápida, mostrando resultados negativos. A única conclusão que eu posso chegar é que ou eles utilizaram metodologias diferentes, que podem dar resultados diferentes, ou a linhagem de vírus que eles utilizaram, com a combinação da colônia de mosquitos que eles usaram não apresente uma boa combinação que propicie a transmissão.

Agora, na ciência, resultado negativo significa o quê? Pode significar mil coisas! Que você não utilizou um método adequado, ou que você não analisou amostras suficientes, ou que utilizou um material diferente… Já um resultado positivo ele é comprovação, é você demonstrar o fenômeno que ele é possível.

Eu não teria coragem de, com um resultado negativo, dizer: é impossível que Culex transmita. Mas quando eu tenho um resultado positivo, eu digo que é possível. Porque aconteceu. Então essa questão dos resultados conflitantes merece especial atenção, porque eles estão dando pesos iguais, quando o resultado positivo é que tem que ter um impacto maior.

Brasil de Fato –  Mas qual é a diferença tão grande entre os dois mosquitos, que torna este resultado tão relevante?

É revelante porque hoje não existe nada no Brasil para controle de Culex. Aqui em Recife até existe um programa de controle por conta da filariose, doença cujo Culex é vetor, e é bem focal e pouco distribuída. Mas no Brasil todo não existe.

Então se a gente diz que não é só o Aedes que transmite Zika, existe alguma outra coisa a mais que precisa ser controlada, em termos de gasto público. Para se construir um programa do zero, tem um impacto absurdo.

Em segundo lugar, o Culex tem um hábito diferente do Aedes. O Culex põe os ovos em água preferencialmente muito poluída, que são as fossas e os esgotos. Isso significa que o governo teria que fazer saneamento básico, que é um problema negligenciado historicamente no nosso país.

Brasil de Fato –  Hoje em dia, o controle do Aedes é feito em grande medida com uso de agrotóxicos, inclusive o Malathion, considerado provavelmente cancerígeno. Esses venenos teriam efeito no Culex?

Manter o Aedes como vetor exclusivo da arbovirose é confortável. Assim a gente alimenta a indústria desses inseticidas químicos, e várias outras como a dos mosquitos transgênicos, mosquitos infectados com Wolbachia, mosquito estéril… Há toda uma estratégia que hoje é desenvolvida para o Aedes.

Mas não tem nada voltado para o Culex. Então teria que desviar os recursos que são investidos para esse tipo de projeto de estratégia…

É aquilo que eu estou cansada de dizer: o mosquito está no ambiente por uma única razão: o ambiente propicia condições favoráveis para o mosquito se reproduzir. Então a gente não tem que atacar o mosquito, devemos cuidar do ambiente.

É um absurdo pulverizar agrotóxicos. É preciso eliminar os criadouros através do saneamento básico.

Brasil de Fato –  O estudo tem implicações em reação à dengue?

A gente sabe que o Aedes é o principal vetor de dengue, mas existem trabalhos que mostram o Culex carregando o vírus. Se isso é possível de acontecer no ambiente natural, a gente não sabe. Não foi investigado. Muito possivelmente não, porque os estudos iniciais, eu acredito que devem ter testado o Culex também.

Mas o vírus é um organismo extremamente mutante, se adapta, então tem que ser levado em conta constantemente essas possibilidade.

O Zika já mostrou que pode ser transmitido por via sexual, da mãe para o filho, leite materno, transfusão sanguínea, então é um vírus altamente mutante e se adapta muito rápido. Não podemos nos acomodar e ficar presos a modelos antigos, de dizer que é só um mosquito, é um só vetor, e só ele transmite e só existe essa forma de transmissão. Senão teremos esse impacto de forma drástica, como aconteceu a epidemia de microcefalia.

Brasil de Fato –   Como é a estrutura disponível para sua pesquisa?

Aqui no CPqAM/Fiocruz temos uma infraestrutura muito boa, e uma equipe muito boa. Mas trabalhar com esse vírus requer recursos, precisamos comprar kits que são extremamente caros, para extração de RNA, detecção da presença do vírus, sequenciamento do genoma, e isso realmente atrasou bastante a nossa pesquisa.

Brasil de Fato –  Como tem sido a divulgação da sua pesquisa?

Eu sempre tive muita aversão à mídia. Acho que todo cientista tem um pouco de medo. Por conta de estar em evidência, de divulgar a pesquisa e de ser mal entendido e mal interpretado. Quase sempre a mídia quer que a notícia que seja polêmica, interessante, e nem sempre diz aquilo que a gente repassou.

Mas nesse caso eu tenho que admitir que a mídia trabalhou como uma parceira, porque ajudou a divulgar de forma mais rápido o trabalho, e ajudou a levantar essa hipótese.

No meio científico, o artigo não foi publicado, não foi aceito. Estamos sofrendo bastante resistência em relação a isso, apesar de não ter nenhuma crítica técnica ao trabalho.

Brasil de Fato –  Mas então por que foi rejeitado?

(risos) Interesses, eu acredito. Não sei, não teve até agora nenhuma crítica à parte técnica, à parte científica. As revistas disseram: “a gente não tem interesse”, “a gente não quer”, “não tem espaço”, assim por diante. Ao mesmo tempo, esses outros artigos que mostram que o Culex não é vetor foram publicados de forma extremamente rápida. Existe de fato um interesse em querer divulgar notícias que corroboram a hipótese de que o Aedes é vetor exclusivo, o que pra mim é uma hipótese simplista para um vírus tão poderoso como a gente está vendo aí.

Brasil de Fato –  O Brasil está investindo em construir uma fábrica de mosquitos infectados com uma bactéria que impede a contaminação com o vírus. Qual sua opinião em relação a isso?

É uma estratégia altamente tecnológica, sem levar em conta as condições ecológicas, as condições ambientais sociais, que pra mim são determinantes na transmissão dessas doenças. A gente vê inclusive pela que os casos de microcefalia estão concentrados em uma população bastante carente, onde não tem saneamento básico.

Em vez da gente tratar o ambiente, que melhoraria a qualidade de vida dessas pessoas, a gente trata o mosquito, e investe milhões em estratégias que, desde que se faz controle aqui no Brasil pra Aedes, não têm sucesso. Tanto é que os casos de dengue só aumentam.

Eu visitei uma cidade Tocantis chamada Gurupi, que fica a 300km da capital Palmas. O município é totalmente saneado, a população toda tem acesso à água, e não chove, e eles tem zero casos de Zika, Chikungunya, de Dengue, essas doenças todas, por conta da ausência dos criadouros. São eles que propiciam a proliferação do mosquito. Obviamente fica claro que se a gente tratar o ambiente, a não tem essas doenças. Não precisa investir nessas estrategias mirabolantes pra controle do mosquito.

Editado por: Redação
Tags: fiocruzzika
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja assinar*
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

LUTA FEMINISTA

Congresso da UBM-RS defende radicalização da democracia como caminho para a emancipação das mulheres

MC não é bandido

A criminalização de MC Poze e a longa história de silenciamento da arte negra no Brasil

Flotilha Liberdade

Ataque israelense a navio com alimentos reforça uso da fome como arma de guerra, afirma Fepal

Tentativa de golpe

Julgamento de réus no STF marca fase decisiva para futuro da direita, avalia cientista político

FAROL DE REFERÊNCIA

A revolução da simplicidade

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.