VIOLÊNCIA POLICIAL

Moradores da favela Chapéu-Mangueira afirmam que PMs executaram jovem

Relatos de testemunhas ainda apontam omissão de socorro por parte dos policiais

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Jonas, de 20 anos, deixou um filho de 1 ano de idade
Jonas, de 20 anos, deixou um filho de 1 ano de idade - Divulgação/Mídia1508

Moradores da favela Chapéu-Mangueira, no Leme (zona sul), acusam policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de atirar e matar um jovem identificado como Jonas, de 20 anos, que estava saindo de casa no momento em que a Polícia Militar (PM) realizava uma operação na favela. O rapaz estava desarmado e recebeu cinco tiros, segundo relatos dos moradores. Jonas deixou um filho de 1 ano de idade.

Vídeos divulgados nas redes sociais na noite de ontem mostram dezenas de pessoas protestando contra os policiais na noite de segunda-feira (31). “O carro da PM saiu e não prestou socorro ao garoto”, afirma uma moradora em um dos vídeos.

“Ele ficou agonizando e os policiais se recusaram a prestar socorro. Também não deixavam ninguém chegar perto para ajudar e só depois de quase meia hora, debaixo de muita pressão e vaias, eles saíram com o menino dentro de um lençol”, relatou outra testemunha.

“A revolta aumentou quando os policiais colocaram Jonas no carro e saíram com a viatura de porta aberta, o corpo do jovem foi arrastado até cair no chão”, conta um morador que também testemunhou os fatos. Um dos vídeos mostra o carro da PM arrancando com a porta de trás aberta e o corpo dentro da viatura. Segundo notícias publicadas nessa terça-feira (1), depois disso o rapaz teria sido socorrido por um ônibus público, parado na rua pelos moradores.

Uma página de midiativistas da comunidade publicou um texto em que afirma que na versão da polícia Jonas era traficante. “A PM apresentou um verdadeiro arsenal como se fosse de Jonas, mas não há qualquer prova que ligue o jovem ao material. A não ser, a versão policial. Os moradores afirmam que Jonas é inocente e que a polícia está mentindo”, consta em texto publicado na página Mídia1508. Vizinhos do rapaz informaram que ele não tem envolvimento com o narcotráfico.

A atriz e dramaturga Clarice Lissovsky, que estava no Leme e acompanhou parte dos acontecimentos, denunciou a versão das notícias publicadas na grande mídia. “Todas as matérias são sobre o confronto da polícia com traficantes, apreensão de drogas, o policial que levou uma pedrada durante a manifestação dos moradores, a depredação de um ônibus”, apontou Clarice.

E relatou o que viu. “Nenhuma matéria fala que a UPP não prestou socorro. Que os moradores bateram no ônibus, para que ele parasse para levar um ferido para o hospital, já que a polícia fugiu. Que a polícia dispersou os manifestantes com tiros para o alto e que a grande maioria das pessoas eram mulheres gritando e chorando. Que apontaram fuzil na cara de menina de 13 anos”, relatou Clarice.

Militarização da favela

André Constantine, presidente da Associação de Moradores da Babilônia, que fica ao lado do Chapéu-Mangueira, criticou a política de segurança para as favelas cariocas. “As UPPs fazem parte de um projeto de cidade que é bom para os investidores, para os empresários, mas muito ruim para os cidadãos. As invasões da PM nos morros vinham com a promessa de acabar com a violência e integrar favela e asfalto. Isso não aconteceu”, afirma o líder comunitário.

De acordo com sua avaliação, a chegada da PM não mudou a rotina de violência das favelas. “O comércio de drogas continuam existindo. A distribuição de correspondência ainda está sob a responsabilidade da associação de moradores porque os carteiros ainda têm medo de subir o morro. E mesmo com seis anos de UPP as favelas continuam à margem da cidade”, destaca.

Para Constatine, o combate à violência e ao comércio ilegal de drogas nunca será resolvido com a militarização. “Violência se combate com a legalização das drogas. A classe média branca vai continuar consumindo drogas à custa do sangre negro que corre nas favelas”, critica a liderança.

Versão da UPP

Segundo a PM, o homem identificado como Jonas é suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas na comunidade Chapéu Mangueira e foi encontrado com um tiro na cabeça. Ele chegou a ser levado para o Hospital Rocha Maia, em Botafogo, mas já chegou morto. A polícia disse que foi recebida a tiros, ao conferir uma denúncia sobre um traficante.  E que, logo depois, encontrou um suspeito ferido. Ainda segundo a PM, com Jonas havia uma pistola, munição, granadas, drogas, rádios transmissores e mais de R$ 1 mil.

Edição: Vivian Virissimo

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