Pacote de maldades

Análise | Aumento do Bilhete Único compromete direito de ir e vir no Rio

Para assistente social, reajuste vai agravar quadro de pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro

Rio de Janeiro (RJ) |
Valor gasto com transporte público que liga a região metropolitana ao Rio passará de R$ 260 para R$ 320
Valor gasto com transporte público que liga a região metropolitana ao Rio passará de R$ 260 para R$ 320 - Pablo Vergara | Arquivo

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, no último dia 8 de dezembro, uma mudança no Bilhete Único Intermunicipal que passará a valer a partir de janeiro de 2017. Essa medida terá impacto direto nas condições de vida da população mais pobre.

Isso limita inclusive o direito de ir e vir estabelecido pela Constituição de 1988. A verdade é que na prática, uns são mais livres do que outros no capitalismo. Isso não é novidade para os moradores de favelas e de periferias que vivem em uma espécie de permanente “toque de recolher”. Ou para os jovens pobres e negros dessas mesmas regiões que são “menos livres” para ir às praias no verão.

O “pacote de maldades” do governador Luiz Fernando Pezão e do seu vice, Francisco Dornelles prevê, dentre outras coisas, um aumento de 15,68% no valor da tarifa do Bilhete Único. Ou seja, antes, o valor de R$ 6,50 dava direito a duas passagens. E o governo estadual do PMDB quer colocar o prejuízo, mais uma vez, na conta dos trabalhadores.

Pode parecer pouco, mas não é para quem já ganha mal. Esse aumento no valor do “direito” de ir e vir da população terá graves reflexos sociais, como por exemplo, o agravamento do quadro de pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro. Pois, dormir debaixo de marquises passará a ser uma alternativa mais viável do que usar o transporte público da casa para o trabalho, todos os dias. Para parte dos trabalhadores, trata-se de fazer uma escolha em um mundo sem opções.

A atual lei do Bilhete Único não permite um reajuste tão grande. Por isso precisou ser modificada pela Alerj. Acontece que os cidadãos que quiseram entrar na Assembleia Legislativa, no dia da votação, para reivindicar seus direitos deu de cara com grades de ferro e uma centena de policiais que impediam a entrada do povo na Casa do Povo. Por isso é válido dizer que nós, trabalhadores, somos tão livres quanto pássaros em gaiolas.

Felipe Moreira é professor da Faculdade de Serviço Social da UERJ e diretor do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS-RJ)

 

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