36 anos preso

“Não se resignar; a lutar, a não se conformar”, diz líder popular porto-riquenho

Rivera foi condenado pela Justiça norte-americana em 1981 a 55 anos de prisão por conspiração

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Mural dedicado a Oscar Lópex Rivera em Porto Rico
Mural dedicado a Oscar Lópex Rivera em Porto Rico - Divulgação

O independentista porto-riquenho Oscar López Rivera, que passou 36 anos na prisão nos Estados Unidos, assinou sua libertação definitiva nessa quarta-feira (17) em um tribunal federal norte-americano em San Juan, capital de Porto Rico. Momentos antes de entrar no tribunal, Rivera instou a população porto-riquenha a “não se resignar, a lutar, a não se conformar”, em relação à dominação norte-americana sobre a ilha caribenha, oficialmente um Estado Livre Associado aos EUA.

Rivera, de 74 anos de idade, foi um dos 209 presos a terem sua pena comutada pelo então presidente Barack Obama em janeiro. Assim como o estadunidense Chelsea Manning, o independentista foi libertado definitivamente, embora já estivesse em prisão domiciliar na casa de sua filha, em San Juan, desde fevereiro.

“Podemos superar tudo o que está acontecendo, nunca vamos nos render e se amamos esta pátria temos a obrigação de defendê-la”, disse o ativista, que passou 12 de seus 36 anos de prisão em uma cela solitária e sem contato com seus familiares.

Nascido em San Sebastián, no Porto Rico, em 1943, Oscar López Rivera foi veterano de guerra do Vietnã, pela qual foi condecorado com a Estrela de Bronze. Em Chicago, onde vivia, participou de movimentos pela defesa dos direitos dos porto-riquenhos, e em 1976 passou a ser membro das FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional), movimento a favor da independência do Porto Rico, colônia dos EUA desde 1898.

A Justiça norte-americana condenou Rivera em 1981 a 55 anos de prisão por "conspiração sediciosa" contra os EUA, aos quais foram adicionados outros 15 anos em 1988 após uma suposta tentativa de fuga.

“Posso afirmar que meu espírito, minha dignidade e minha honra estão incólumes”, disse Rivera a jornalistas após sua libertação.

Ele criticou as privatizações de entidades estatais que têm ocorrido em Porto Rico e acusou o governo “colonialista” da ilha de colocar em prática políticas impostas por Washington.

“A política de privatizações que tem sido promovida em Porto Rico por quase três décadas provocou a maior fuga de cérebros da história” e está “destruindo a economia” da ilha, afirmou.

Ele também condenou a decisão da Secretaria de Educação de Porto Rico de fechar 179 escolas públicas com o objetivo de poupar 7,7 milhões de dólares, a serem aplicados no pagamento da dívida pública da ilha, que chega a 70 bilhões de dólares.

Rivera classificou a Junta de Supervisão Fiscal, entidade imposta pelos EUA para reestruturar a dívida de Porto Rico, como “criminosa” e “ameaça à pátria”.

“Gostaria que os EUA desistissem desse mau hábito de usar suas estruturas para chegar à população e criar um ambiente de hostilidade e violência”, disse em referência ao intervencionismo norte-americano na região, especialmente em relação à crise política na Venezuela.

Ele prometeu retomar seu ativismo pela independência de Porto Rico e visitar os 78 municípios da ilha para dialogar com a população.

Edição: Opera Mundi