Caravana

No Recife, “era Lula” teve suas primeiras marcas em Brasília Teimosa

Bairro com histórico ligado à atividade pesqueira foi o primeiro a receber Lula como presidente

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Píer para a comunidade pesqueira é uma das obras prometidas por Lula na semana em que assumiu como Presidente da República
Píer para a comunidade pesqueira é uma das obras prometidas por Lula na semana em que assumiu como Presidente da República - Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

Na manhã deste sábado (26) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita o bairro de Brasília Teimosa, na zona sul do Recife. A comunidade guarda as primeiras marcas da “era Lula” em Pernambuco e foi literalmente transformada a partir do primeiro mandato do petista na Presidência da República. No dia 5 de janeiro de 2003, poucos dias após tomar posse como presidente, Lula embarcou para o Recife para conhecer o bairro que se ergue entre o rio Capibaribe e o oceano Atlântico.

O então prefeito do Recife era o petista João Paulo, com apenas dois anos de experiência a frente do executivo municipal. A pobre Brasília Teimosa tinha centenas de seus moradores vivendo em palafitas dentro do mar. Após ver de perto a situação, teve início o processo de cadastramento dessas famílias para serem indenizadas e transferidas para residências. E no ano seguinte à visita de Lula foi realizada a principal obra na Brasília: a retirada das palafitas e urbanização da orla oceânica do bairro.

Mas neste sábado Lula quer conhecer a fábrica de gelo do bairro. É que na referida visita do dia 5 de janeiro de 2003, um pescador chamado Edvaldo colocou no bolso do presidente uma carta em que pedia uma fábrica de gelo para ajudar os pescadores. E em 2005, após o Governo Federal repassar a verba para a Prefeitura do Recife, a obra foi realizada e entrava em funcionamento a máquina de fazer gelo da Associação dos Pescadores de Pernambuco.

“Foi luta nossa. Essa fábrica é muito importante para nós, pescadores. Sem ela o nosso trabalho não seria tranquilo”, avalia José Carlos, o “Mama”, 54, atual presidente da Associação. Os pescadores precisam de toneladas de gelo para levarem para alto mar, para manter conservados os peixes que capturarem nos dias de trabalho. Antes eles precisavam comprar gelo noutras fábricas, com custo mais alto para o trabalhador. “Aqui, hoje, eles podem abastecer de gelo por um preço baixo e ainda damos água potável”, afirma Mama, que diz só não ter óleo diesel para abastecer os barcos.

A fábrica da Associação produz entre 6 e 7 toneladas de gelo diariamente, o que é insuficiente para a demanda dos pescadores. Cada barco, a depender do seu tamanho, pode pegar três, quatro ou cinco toneladas de gelo. Em tempos de pesca de lagosta os pescadores passam mais tempo em alto mar e precisam de ainda mais gelo. E, de acordo com a Associação, só no Recife há aproximadamente 2 mil pescadores, sem contar os de cidades vizinhas que também abastecem de gelo em Brasília Teimosa.

“Ligamos a máquina de domingo a domingo, das 21h às 17h do dia seguinte. Mas ainda assim não temos gelo o suficiente para atender a comunidade pesqueira”, informa o presidente da Associação. A tonelada de gelo custa R$ 180. “O recurso arrecadado com a venda de gelo nos permite manter as contas em dia e ter quatro funcionários de carteira assinada”, se orgulha Mama. Segundo ele, a Associação ainda atende algumas “emergências” de famílias de pescadores enquanto os homens estão no mar. A fábrica, segundo Mama, “fortaleceu os pescadores e a associação”.

Além da fábrica de gelo, a Associação já está toda estruturada para abrigar uma unidade de beneficiamento de pescado. Se estivesse funcionando, a unidade compraria os peixes trazidos pelos pescadores, pagando a estes 95% do preço de mercado, para em seguida produzir derivados para serem comercializados. “Compramos o peixe e transformamos em hambúrguer de peixe, por exemplo, ou poderia produzir algo que o poder público quisesse usar na merenda escolar”, ilustra Mama.

Ele destaca a importância de apontar caminhos para que os pescadores saiam da situação em que estão, muitos “amarrados a atravessadores”. Muitos pescadores não têm recurso para abastecer seu barco. E recorrem aos chamados “atravessadores”, uma espécie de agiota, que empresta dinheiro para os pescadores abastecerem os barcos, mas exigem como pagamento parte do produto, mas pagando sempre um preço muito abaixo do preço de mercado. “Precisamos tirar o pescador das mãos do atravessador”, afirma Mama.

A unidade foi construída após um incidente negativo. Uma empresa contratada pela Petrobras para realizar pesquisas sísmicas pelo litoral pernambucano não respeitou as medidas do Ibama ou os pescadores. Os trabalhadores por mais de uma vez foram obrigados a sair de seus locais no meio de uma pesca, sob o risco de serem atingidos pelo barco maior, da pesquisa. Isso se deu justamente num período em que estavam pescando sirigado, um peixe muito valorizado no mercado. “É a 'picanha do mar'. A costa de Pernambuco inteira foi prejudicada com esses incidentes”, recorda o pescador.

A perda financeira levou as organizações de trabalhadores, amparadas pela universidade e apoiadas pelos movimentos sociais, a entrarem com ação no Ministério Público pedindo reparação dos danos financeiros. Assim a Associação conquistou a unidade de beneficiamento.

Píer

Mais rápido e menos conhecido que outras obras no bairro, o píer está localizado atrás da Associação de Pescadores. Construída em 2003, a estrutura de cimento e madeira fica sobre o rio Capibaribe, voltada para o Cais José Estelita, e também foi uma obra para a comunidade pesqueira. “Quando não tinha esse píer, não havia onde os barcos encostarem para abastecer ou descarregar o barco”, explica Mama.

Edição: Monyse Ravena