FEMINISMO

Mulheres do Semiárido se articulam na luta por direitos

Cerca de 120 mulheres de todo o Semiárido estão reunidas em Natal para fortalecerem processos de auto-organização

Natal, Rio Grande do Norte |
“Encontro Mulheres do Semiárido: e a construção de tecnologias sociais de convivência” segue até esta quarta-feira
“Encontro Mulheres do Semiárido: e a construção de tecnologias sociais de convivência” segue até esta quarta-feira - Fotos: Isadora Mendes

“As mulheres são a resistência,
sem feminismo não há convivência

A população brasileira tem passado por uma série de ataques aos direitos conquistados até então no último ano após o golpe. E os movimentos de mulheres rurais têm sido um forte sujeito na denúncia e resistência a esse processo, antes mesmo dele ser consolidado. “Na Marcha das Margaridas, em 2015, quando ficamos de costas para o Palácio do Planalto e que gritamos ‘Fora Cunha’, ali se construiu o início da resistência ao golpe, ali se construiu a primavera feminista, a denúncia contra as reformas e o impacto delas na vida das mulheres”, relembra Andrea Butto, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Para ela, neste momento a necessidade de reforçar espaços de articulação das mulheres continua mais forte diante do atual contexto. “Não estamos mais no tempo das políticas públicas. O Estado está aí hoje para ser denunciado e não para oferecer alternativas porque desse governo não virá. Nós temos que defender a luta pelas direitas já, lutar contra o golpe e reforçar a resistência”, pontuou.

Andrea foi uma das convidadas do “Encontro Mulheres do Semiárido: e a construção de tecnologias sociais de convivência”, que reúne cerca de 120 mulheres e acontece em Natal (RN), para discutir a importância da auto-organização das mulheres no Semiárido brasileiro e suas estratégias de convivência com a região. Para Verônica Santana, integrante do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE) o debate de auto-organização junto às mulheres passa pela necessidade de dialogar com necessidades concretas. “Precisamos perceber como a dominação se dá em nossas vidas de forma prática. E perceber que já construímos estratégias de resistência e de como transformar essas minhas estratégias individuais em estratégias coletivas e construir um projeto político a partir disso”, disse. 

Na Paraíba, outro processo auto-organizativo protagonizado por mulheres rurais têm expressado força, neste caso na denúncia dos casos de violência, a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que este ano chegou em sua oitava edição. A marcha é realizada pelo Polo Sindical da Borborema, formado por 14 sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais mais associações de agricultoras e agricultores da região. Só este ano, reuniu cerca de 6 mil mulheres, no município de Alagoa Nova, no Brejo paraibano. “A marcha é hoje um movimento que denuncia publicamente a violência, pois as mulheres não podem mais conviver com esse problema da que é sociedade. A violência não é um problema que as mulheres têm que resolver por si só”, explica Roselita Vitor, assentada e integrante do Polo Sindical da Borborema.

A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia faz parte de um processo de auto-organização das mulheres do Polo da Borborema, que vem articulando há anos uma organização da Rede de Mulheres Agricultores Experimentadoras. “A proposta parte da valorização do conhecimento das agricultoras, e de uma leitura da realidade que é a invisibilidade dos espaços de inserção produtiva e econômica das mulheres”, explica Roselita, expressando a necessidade que as mulheres perceberam que precisavam enfrentar para que seu trabalho tivesse visibilidade e para também romper com a falta de participação política das mulheres. A rede hoje tem mais de 1.300 mulheres, de mais de 60 comunidades em 10 municípios organizadas nas diversas ações do Polo da Borborema.

Para Lilian Teles, integrante do Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a violência precisa contra a mulher precisa ser abolida. E para isso a discussão precisa perpassar também pelas discussões dos movimentos populares e que as mulheres do movimento agroecológico tem pautado essa questão.“Você pode ter uma horta agroecológica, sem usar veneno, mas se não tiver uma relação dentro de casa que seja respeitosa entre as pessoas, para a gente isso não é agroecologia”, disse. 

O Encontro Mulheres do Semiárido é uma realização do Centro Feminista 8 de Março e da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e segue até esta quarta-feira (8).

Edição: Vinícius Sobreira