Rio Grande do Sul

Plataforma da Petrobras é lançada em meio a incertezas quanto ao futuro da estatal

Mais de 2.400 trabalhadores foram dispensados no RS e não há expectativa de novos projetos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Estrutura operará no campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos
Estrutura operará no campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos - Sadi Machado/Divulgação

O lançamento da plataforma P-74 da Petrobras, ocorrido na última sexta-feira (23), deixou um clima que misturava alegria e tristeza entre os trabalhadores do estaleiro EBR, em São José do Norte, no Rio Grande do Sul. 

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Segundo Sadi Machado, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de Rio Grande e São José do Norte (Stimmmerg), a alegria é pelo trabalho concluído e a tristeza pela não continuidade de novos projetos.  A P-74 é um “dos últimos exemplos” de plataforma construída em solo nacional. 

“Era para ser um dia de festa e celebração por mais um empreendimento entregue. Mas, na verdade, a gente vê com tristeza. Pela falta de planejamento, pelo governo e a Petrobras dizerem que 'hoje dá muito mais resultado construir fora do país'. Estamos mais de dois mil e quatrocentos trabalhadores, pais e mães de família, desempregados”, critica. 

Machado atribui a responsabilidade ao “descaso do governo federal” e à “omissão do governo estadual”. Para ele, Michel Temer e Pedro Parente, atual presidente da Petrobras, erraram ao diminuir a exigência de que a maior parte do maquinário usado na exploração petrolífera seja produzido no Brasil.

"A política de conteúdo local era de 75%. Hoje não chega a 10%. É possível cumprir o conteúdo local indo na venda do Zézinho e comprando três parafusos. Cadê a geração de emprego, a circulação de renda nos municípios, que gera tributo, que agrega valor? Nossos governantes não estão interessado em agregar valor para o povo brasileiro”, aponta. 

Machado afirma que todo investimento tecnológico nacional para a exploração do pré-sal está sendo entregue a empresas estrangeiras junto com o próprio petróleo brasileiro. Ele diz também que no Rio Grande do Sul foram produzidas oito plataformas nos últimos nove anos e que, por conta da nova política adotada na Petrobras, não há previsão de outras construções no futuro. 

Segundo Tadeu Porto, integrante da diretoria da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o sentimento entre a categoria é o mesmo dos metalúrgicos gaúchos. Ele afirma que o fim da política de conteúdo nacional retira da Petrobras a capacidade de protagonizar o desenvolvimento industrial brasileiro.

“A gente vê o fim do conteúdo local como mais uma fatura do golpe. Nos documentos que vazaram do Wikileaks em 2009, uma diretora da Exxon afirma que se a política de conteúdo permanecesse, os fornecedores americanos ficariam prejudicados. A agenda do governo não contempla uma indústria nacional forte”, diz. 

Além da EBR, o polo naval gaúcho conta com o estaleiro QGI, com 500 funcionários trabalhando nas P-75 e P-77,  e com a Ecovix, que se encontra ociosa e empregando apenas 70 pessoas. Em 2013, a última chegou a contratar dez mil. Ambas se localizam no município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.  

A P-74, que acabou de ser construída, será usada no campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos, a 200 km da costa do Rio de Janeiro.

A reportagem entrou em contato com a Petrobras para que esta pudesse comentar as críticas feitas às mudanças na política de conteúdo local. Até o fechamento desta edição, não houve retorno. 

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Leia esta notícia em espanhol.

Edição: Juca Guimarães