Coluna

A democracia na ponta da bala

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Ex-presidente em ato público na cidade de Palmeiras das Missões, Rio Grande do Sul, durante Caravana
Ex-presidente em ato público na cidade de Palmeiras das Missões, Rio Grande do Sul, durante Caravana - Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Passo a passo, o país está caminhando para um período tenebroso

Vivemos um momento estarrecedor. Passo a passo, o país está seguindo para um período tenebroso com limitações graves no que nos acostumamos chamar de liberdades democráticas. Em outras palavras, estamos caminhando para um período antidemocrático com graves consequências.

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Chamo atenção desta forma, porque acho que já cruzamos este limite há muito tempo. A forma como se deu o impeachment de Dilma, por exemplo, ou, mais recentemente, a forma como se estabeleceu a intervenção militar no Rio de Janeiro, por parte do governo Temer e do exército, são exemplos claros disso. Apesar dos fatos, há quem discorde. E nem quero tratar disto, por ora.

O grande absurdo do momento foi o atentado a tiros contra o ex-presidente Lula na tarde desta terça-feira (27), ocorrido no Paraná. Isso mesmo. O ex-presidente Lula sofreu um atentado a tiros. E é possível que você, leitor ou leitora, nem tenha tido notícia de tal fato. Provavelmente porque a grande imprensa parece não ter percebido a relevância da situação. Ou, o que seria pior, parece não querer falar sobre o assunto.

A verdade é que estamos diante de um perigoso problema que não pode ser tratado apenas como um breve informe ou uma nota de rodapé. E assim como a grande imprensa não pode ignorar a gravidade desta questão, a mesma reflexão deve ser colocada para os setores da sociedade que não têm simpatia ou não concordam com as ideias propagadas pelo ex-presidente Lula. Uma coisa é você não concordar e querer combater democraticamente uma ideia ou uma linha de pensamento. E aí pode partir para debates, discussões, eleições, manifestações etc. Tudo isso faz parte dos chamados ritos democráticos. Porém, outra coisa bem diferente são as ameaças e atentados contra qualquer um que seja.

E aí proponho um desafio: imagine um atentado como este realizado em outro país contra um ex-presidente que lidera as pesquisas? Ou até mesmo se o atentado fosse contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os suspeitos fossem militantes de algum movimento social deste país? Certamente a imprensa estaria estarrecida e viveríamos um grande clima de terror no Brasil.

Conclamo a todas e todos que não ignoremos este fato. Que até os setores de oposição ao ex-presidente Lula acordem para a gravidade do momento que vivemos. Se calar num momento em que um opositor sofre com algo do tipo pode parecer cômodo, mas amanhã a situação pode ser outra. Se até um ex-presidente da República sofre com isso, ninguém está a salvo.

Apesar de toda golpeada e cambaleante, ainda é possível recuperar a democracia e a estabilidade em nosso país. No rumo que vamos, já sabemos onde o Brasil pode parar. Não podemos voltar a viver como nos tempos de chumbo. Toda e qualquer pessoa que se considere democrática deve denunciar, se manifestar e lutar contra o crescimento do fascismo. Nossa sociedade poderá pagar muito caro pelo silêncio neste momento.

Edição: Monyse Ravena