Privataria

Temer aponta nomes da Shell ao conselho da Petrobras; privatização iminente preocupa

Três novos integrantes do conselho de administração têm passagem pela concorrente e subcontratadas da estatal

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Afundamento da plataforma P-36, em 2001, que deixou 11 mortos, foi causado pela terceirização de serviços de manutenção
Afundamento da plataforma P-36, em 2001, que deixou 11 mortos, foi causado pela terceirização de serviços de manutenção - Sindipetro

Os acionistas da Petrobras aprovaram, nesta quinta-feira (25), a nova composição do Conselho de Administração da empresa, principal órgão decisório da estatal. Das 11 cadeiras, oito foram indicadas pelo governo Michel Temer. Cinco delas continuarão ocupadas por nomes que já compunham o conselho, e outras três foram destinadas a pessoas com larga trajetória em empresas privadas do setor de óleo e gás, concorrentes da Petrobras. Para especialistas, essa é uma sinalização de que o processo de privatização da companhia será acelerado.

Os três novos conselheiros são José Alberto de Paula, que desde 1989 ocupa altos postos de gerência na Shell; Clarissa de Araújo Lins, ex-presidente do comitê externo independente da Shell e atual diretora do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), organização patronal que articula a indústria petrolífera no Brasil; e Ana Lúcia Poças Zambelli, com passagem em cargos de comando da Schlumberger Brasil, Transocean América do Sul e Maersk Drilling, três empresas que mantém contratos estratégicos com a Petrobras.

O coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, explica que, historicamente, as indicações de governo para o conselho incluíam ministros de Estado e representantes das Forças Armadas, dado o peso estratégico que a Petrobras tem para o país. Porém, desde as indicações feitas para a gestão anterior do órgão, ainda na gestão Aldemir Bendine, o setor privado, especialmente o financeiro, ganharam espaço.

À época, as indicações incluíram nomes oriundos da BMF-Bovespa, Citibank, BTG Pactual e Associação Brasileira de Mercado de Capitais, todos mantidos na nova composição do órgão. Para Rangel, a experiência da gestão anterior indica como será a próxima.

“Quando o conselho de administração tinha um viés mais de mercado financeiro, só no ano passado, a Petrobras destinou aos bancos R$ 137 bilhões. Só no ano passado com pagamento de juros e amortização de dívidas, antecipando dívidas que iriam vencer em 2020 e alongando essas dívidas. Seguindo essa mesma linha, quando ela traz pra dentro do conselho pessoas ligadas ao setor de óleo e gás, na nossa avaliação, ela vai aprofundar o processo de privatização da empresa, que já está em curso”, opina. 

Para o professor de ciência política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos do Setor de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP), William Nozaki, o novo conselho da Petrobras dá continuidade ao processo no qual os interesses da financeirazação e da desnacionalização, que antes orbitavam ao redor da empresa, agora estão dentro dela. 

Para Nozaki, está claro que o movimento do governo, que termina no final do ano, pretende acelerar a venda de ativos da empresa. 

“O movimento do governo pode ser entendido como uma combinação da própria ida do Moreira Franco para o ministério de Minas e Energia, que também está diretamente relacionada com uma tentativa do governo de garantir que, nesses últimos meses, vão acontecer de maneira célere o que eles apontaram como a venda de ativos da Petrobras. É um jogo casado, a mudança ministerial também está articulada com essa recomposição do conselho”, salienta.

O coordenador geral FUP destacou que, a partir do próximo dia 30 até 12 de maio, os petroleiros farão assembleias em todo o país para deliberaram sobre a realização de uma greve contra da privatização da Petrobras. 

Edição: Diego Sartorato