Inclusão

Clara Ant relata perseguição ao Instituto Lula: "querem impedi-lo de fazer política"

Ao lado da ex-ministra Marcia Lopes, a conselheira do IL participou do programa Democracia em Rede, em Curitiba

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Militante histórica da esquerda brasileira, Clara Ant participa do programa Democracia em Rede
Militante histórica da esquerda brasileira, Clara Ant participa do programa Democracia em Rede - Foto: Joka Madruga

Uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos trabalhadores (CUT), a arquiteta Clara Ant é também uma das responsáveis pela criação do Instituto Lula. Juntamente com a ex-ministra da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Marcia Lopes, ela esteve presente, nesta quinta feira (10), na Casa da Democracia, em Curitiba, para falar sobre a ligação do Instituto e a criação de políticas públicas importantes que foram implementadas nos governos Lula e Dilma.

“A história do Instituto Lula começa logo após o segundo turno da eleição com o Collor, em 1989. Teve uma reunião no dia seguinte na casa de um simpatizante do PT, que convidou todo o palanque do segundo turno, vários candidatos. Nesta reunião, Lula fez uma proposta para que aquelas forças continuassem juntas para fazer uma oposição afirmativa. E ali começamos uma espécie de Governo Paralelo,” conta Clara, que na época era deputada e líder da bancada do PT.

O governo paralelo, na época, foi coordenado por Walter Barelli, que era também do Dieese. “Ele coordenava um grupo de estudiosos e o que chamamos de ministros paralelos, que eram pensadores de todas as áreas do governo,” continua Clara. Ela cita Cristovam Buarque como um dos integrantes deste governo paralelo e destaca a importância da participação de José Gomes, que foi um dos coordenadores do Primeiro Plano de Segurança Alimentar, que depois deu origem ao Fome Zero. “Desde então, as políticas sociais sobre moradia, saúde, fome vêm se desenvolvendo como reflexão. Era uma verdadeira usina de projetos.”

Caravanas e o Instituto Cidadania

Clara relembrou também o momento quando o grupo se organizou como Instituto Cidadania. “Então vem a ideia das Caravanas da Cidadania. Veio a ideia, o Lula gostou, porque queria escutar a população. O primeiro trajeto é o que Lula fez com sua família ao sair de Garanhuns e chegar em São Paulo, no bairro Vicente Carvalho, no Guarujá. Destas Caravanas, surgiu então a ideia do Instituto Cidadania, ainda com o mesmo propósito de formular políticas públicas.”

O primeiro debate realizado pela Caravana foi no Nordeste, no auditório do Sudene e o tema foi “O Futuro do Nordeste e da nação brasileira”, abordando a questão da fome e da pobreza. “Então, o Instituto Cidadania quis ampliar o espaço de contribuição para além do PT. Para vocês terem uma ideia, é neste momento que surgem projetos como o “Projeto Moradia”, que tem as linhas mestras do Programa Minha Casa Minha Vida,” explica Clara.

Atual fase do Instituto Lula

A ex-ministra da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, que integra o Instituto Lula, informou que apesar de toda as intempéries, o Instituto continua como um local de formulação de políticas. “O cotidiano do Presidente Lula no Instituto até meses atrás era receber inúmeras pessoas, coletivos, e gente de fora do Brasil, solicitando aconselhamento para projetos e afins”, disse Marcia.

Clara finaliza a história relatando que no dia seguinte à eleição de Dilma Rousseff, Lula anunciou que o Instituto receberia novo nome, Instituto Lula. “Depois que o Lula deixou o governo, lideranças internacionais que tinham trabalhado com ele, nos procuraram pedindo que o trabalho e o intercâmbio desenvolvidos durante seu governo, especialmente no combate à fome e redução da pobreza, fossem de alguma forma mantidos”, explica.

Criminalização e resistência

Clara, filha de sobreviventes do nazismo, disse que nunca imaginou viver para ver voltarem com força discursos fascistas e de ódio. Liga a isso também a criminalização de um homem que sempre insistiu na melhoria da vida do povo brasileiro e a solidariedade com outros povos. Ao responder sobre os processos de investigação e embargo ao Instituto, sintetiza que “é um movimento para impedir que Lula continue fazendo política.”

Sobre o embargo às atividades do Instituto Lula, Clara relatou caso que envolveu uma parceria com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a União Africana para a criação de um projeto de erradicação da fome na África. “Fizeram um piloto para aplicar algumas das políticas criadas pelo presidente Lula. Em janeiro deste ano, de 2018, teve um encontro na Etiópia para avaliação desta primeira fase. Lula foi convidado para ser o orador. E foi antes desta viagem que o judiciário, por meio de um juiz de Brasília que sabia que estava fazendo coisa errada, confiscou o passaporte do presidente”.As Conselheiras do Instituto Lula passaram o dia em Curitiba, nas atividades da Vigilia Lula Livre. Clara participou dos momentos de Bom Dia e Boa Note, que acontecem todos os dias. A ex-ministra Marcia participou do debate Plano de Governo: Desigualdades Sociais.

Edição: Diego Sartorato