Eleições

'Nordeste coloca PT no segundo turno', diz cientista político

Alberto Carlos Almeida aposta que 2018 terá novamente segundo turno entre petistas e tucanos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Visita a Museu dedicado a Luiz Gonzaga, durante Caravana. Analista defende que intenções de voto são fruto de comparação entre Lula e Temer
Visita a Museu dedicado a Luiz Gonzaga, durante Caravana. Analista defende que intenções de voto são fruto de comparação entre Lula e Temer - Ricardo Stuckert

O cientista político Alberto Carlos Almeida tem se dedicado a apresentar, ao grande público, obras que abordam os meandros das pesquisas de opinião e teorias sobre comportamento eleitoral. Em best-sellers como "A cabeça do brasileiro" e "A cabeça do eleitor", apresenta de forma simples o complexo pensamento da população brasileira. 

Sua nova obra - "O voto do brasileiro" - comenta a hipótese de que 2018 terá um segundo turno igual ao das eleições passadas, com um candidato petista e outro tucano. Ao Brasil de Fato, ele afirma que o “nordeste coloca o PT no segundo turno”, mesmo que a legenda opte por um outro nome, em caso de Luiz Inácio Lula da Silva ser impugnado, e reitera que não crê em Jair Bolsonaro (PSL) na última etapa eleitoral.

Confira a entrevista: 

 

Brasil de Fato: Em seu novo livro, você sustenta que o segundo turno de 2018 reviverá uma conhecida polarização entre PT e PSDB. Não há indícios que isso pode não ocorrer?

Alberto Carlos Almeida: Toda previsão na área política e econômica é probabilística. Elas erram, são atualizadas. 

Você está vendo que não está acontecendo [a possibilidade de um realinhamento eleitoral]. A votação em Lula é um indicador do potencial de votos que o PT pode obter. Do outro lado do espectro político, há a soma das votações de Bolsonaro e Alckmin. Esquece Marina, Ciro; eles não têm a menor chance de ir para o segundo turno. Vai haver uma transferência de voto rápida e intensa de Lula para Haddad, no caso do primeiro realmente não ser o candidato.  Haddad irá para segundo turno contra Alckmin ou Bolsonaro. Nordeste coloca o PT no segundo turno. Eu continuo achando que quem tem mais chance de ir para o segundo turno é o Alckmin. 

A polarização entre PT e PSDB nunca se refletiu na preferência partidária, só no caso do PT. Na verdade, a polarização não é entre PT e anti-petistas? Isso não pode colocar Bolsonaro no segundo turno?

A resposta é sim, pode colocar. A forma como você colocou é boa: de um lado há o petismo e do outro o anti-petismo. Acabou de sair a simpatia partidária em relação ao PT. Está em 29%. É uma das maiores da série. Aí tem o antipetismo. Se você perguntar quem odeia o PT vai dar também um percentual grande. Isso ia mais para o PSDB, não há a menor dúvida. O Bolsonaro está captando isto do PSDB. Este é o grande problema do PSDB hoje. Por isso que o Alckmin terá que bater no Bolsonaro. 

Nesse objetivo, a aliança de Alckmin com o chamado centrão, garantindo o maior tempo de TV é realmente central?

O tempo do Alckmin com o tempo do Bolsonaro é 'muito tempo contra nada'. Uma coisa é o Alckmin comparado com o PT. É 'muito' contra um tempo bom do PT. 

O Bolsonaro vai sumir do dia-a-dia dos eleitores. Aliás, ele vai aparecer, levando pancada do Alckmin. Se você olhar hoje, a rejeição do Bolsonaro subiu 7 pontos. Saiu de 32 para 39. Isso dá oito milhões de eleitores. Oito milhões nos últimos dois meses passaram a dizer que não votariam de jeito nenhum. Esse pessoal vai conversar com quem vota no Bolsonaro.

Mas o Bolsonaro não mobiliza uma base de extrema-direita e já consolidou seu voto entre essas pessoas?

Sim, mas é uma proporção, não é tudo. O Bolsonaro está com 18 [pontos]. Se o Alckmin tirar seis pontos percentuais, e puxar para ele esses seis, ele empata com o Bolsonaro. Não pode bater [no Bolsonaro] e [o voto] ir para outro. 

Seis pontos é muito? Depende de como você analisa. Seis pontos é muito, mas há como [reverter]. Em 19 de setembro de 2014, a Marina estava 13 pontos à frente de Aécio [Neves]. É muita coisa, mas o Aécio acabou indo. 

Ele vai ter que pegar o [eleitor] menos radical do Bolsonaro. É esse que pode ir para ele. Divide por três o eleitorado do Bolsonaro. Deve ter uns seis pontos percentuais muito radicais, uns seis intermediários e uns seis mais moderados. 

A participação e o desempenho em debates dos candidatos pesa na opção de voto?

Tudo tem algum peso. Uma gafe tem algum peso. mas não existe um momento mágico. A rejeição do Bolsonaro aumentou. Por que? Porque ele colocou a colinha na mão no debate, as pessoas viram, apareceu nos principais portais. Os portais de notícia quando repercutem [alguma gafe] pioram a vida do candidato.

Nas pesquisas, ainda há eleitores de Lula que, em caso de impugnação, podem migrar para Ciro e para Marina, candidatos que aparentemente são vistos como próximos ao PT. Você crê que isso não vai acontecer?

Hoje [a candidata da Rede é vista como alternativa a Lula], porque na eleição passada a Marina era uma candidatura anti-PT. Com a simulação do [Instituto] DataFolha, com Lula na cédula, Marina e Ciro têm menos de dez [pontos]. Ciro desaparece praticamente. Haddad vai caminhar para uma votação semelhante a do Lula. Ele vai ficar entre o que ele tem hoje e o que Lula tem, mais próximo do Lula do que ele tem hoje. Ele vai subir.

Como é possível entender, com toda a situação pela qual está passando, o percentual de intenção de votos de Lula?

É o governo Lula. As pessoas justificam o voto de uma maneira muito pragmática. O governo Lula foi o responsável pela melhoria da vida da pessoa. Não pode separar disso. Tanto é que em 2016 o Lula estava muito mal, porque era um dos responsáveis pelo governo Dilma. Passado isso, o Lula voltou a ficar bem. Por que? Porque ele é responsável pela melhoria de vida do sujeito.

O eleitor faz uma comparação com o governo Temer?

O tempo inteiro. Isso foi fundamental. Sem o impeachment, se hoje estivesse a Dilma [no governo], ninguém estaria falando do Lula. 

Do outro lado, o embarque do PSDB no governo Temer não é um obstáculo para Alckmin chegar ao segundo turno?

Sem dúvida. É o que mais prejudica. É exatamente isso. Movimentos geológicos: o PT estava no governo em 2016. Tiraram. O eleitorado olha aquilo: PT e Dilma eram governo. Agora o PT não está mais no governo. Quem está? PMDB, PSDB, enfim, quem é contra o PT. Pronto, é isso. Uma placa tectônica que se mexeu. 

Neste sentido, um levantamento apontou que parte da população associa Moro a Temer. A leitura de que houve um golpe político em 2016 se consolidou entre a população?

Eu não diria que foi a ideia de "golpe", que é uma terminologia mais política. Para o povo é o seguinte: toda vez que alguém faz pelos pobres, se dá mal. Golpe é um terminologia muito de militante, não do conjunto da população. 

Edição: Cecília Figueiredo