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Como o governo pode ajudar a reduzir as taxas de suicídio?

Roberto Tykanori, médico da Prefeitura Municipal de Santos e professor da Unifesp, responde à pergunta no quadro Fala Aí

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Mundialmente, a taxa de mortes por suicídio é de 11,4 pessoas para cada 100 mil
Mundialmente, a taxa de mortes por suicídio é de 11,4 pessoas para cada 100 mil - Pixabay/Pexels
Roberto Tykanori, médico da Prefeitura Municipal de Santos e professor da Unifesp, responde à pergunta no quadro Fala Aí

No Brasil, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos e, no total, cerca de 11 mil brasileiros tiram a própria vida a cada ano. O Centro de Valorização a Vida (CVV) promove a campanha Setembro Amarelo para estimular a prevenção ao suicídio e sensibilizar a sociedade para tratar do assunto como saúde pública.

No mundo, são cerca de 800 mil suicídios por ano, de acordo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A taxa de mortes por suicídio é de 11,4 pessoas para cada 100 mil.

Guilherme Thierry, jovem de 19 anos, quer saber quais medidas os governos tomam para prevenir o suicídio. 

"Meu nome é Guilherme Thierry, eu tenho 19 anos. Em relação a suicídios, eu gostaria de saber como países desenvolvidos, com os maiores IDH do planeta, por exemplo a Suécia e a Islândia, se previnem contra suicídios, porque eles tem as maiores taxas. Como o governo reage em relação a isso?"

Roberto Tykanori, médico da Prefeitura Municipal de Santos, com experiencia na área de saúde mental e professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo, responde:

"Obrigado Guilherme pela pergunta. Meu nome é Roberto Tykanori, sou psiquiatra, sou professor do eixo trabalho e saúde na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) da baixada santista. É importante essa questão do suicídio nos países mais desenvolvidos. Existem alguns consensos de como agir na questão do suicídio, e isso envolve tanto países mais desenvolvidos, quanto são indicações para o resto dos países do mundo. Existe uma questão central na estratégia da prevenção do suicídio que é a coordenação e o consenso entre governo e sociedade que precisam tomar medidas conjuntas. Não se trata apenas de uma medida da parte dos governos.

O governo tem papel fundamental em conseguir criar as alianças, criar suportadores dessas ações, para que essas ações sejam consistentes, com participação da própria sociedade. É importante a divulgação e a conscientização do fenômeno do suicídio, é importante que este processo seja feito com bastante consciência dos possíveis riscos que os meios e os modos de fazer a divulgação podem acarretar. Então, alguns tópicos são bastante importantes: que a difusão da informação não se centre, por exemplo, nos métodos de conseguir fazer suicídio; que também não glamourise, não torne as situações excessivamente dramáticas, mas que possam ser de tal forma dramáticas que se tornem atraentes. A ideia da conscientização do suicídio deve estar muito focada em difundir a informação de que é possível as pessoas buscarem e encontrarem apoio, cuidado e suporte nas situações de maior dificuldade. Difundir a ideia de que com a colaboração de outras pessoas as coisas podem se transformar. E assim, facilitar o acesso das pessoas à serviços de saúde é um segundo ponto extremamente importante.

Em relação à questão dos países desenvolvidos: o Japão tem uma experiência recente, a partir de 2006. O Japão trouxe a público a questão do suicídio, era um dos países que tinha uma das taxas mais altas de suicídio no mundo. O Japão elaborou, inclusive, uma lei especial de prevenção do suicídio. Do ponto de vista cultural, houve uma ruptura com uma lei do silêncio, um certo tabu  em torno da questão do suicídio e iniciou-se a criação de espaços de diálogo, espaços de conversação, tanto para as pessoas que tentaram suicídio, quanto para as famílias que restaram após a perda de seus parentes. Essas ações foram difundidas no conjunto do país e eles conseguiram reduzir bastante o índice de suicídio da população japonesa. Guilherme, obrigado pela pergunta, espero que eu possa ter ajudado você."

Edição: Júlia Rohden