VENEZUELA REAL

Feira do Livro agita Caracas em meio à crise e encanta turistas europeus: "Chocante"

Durante 10 dias, praças e ruas do centro histórico da capital venezuelana foram tomadas por manifestações culturais

Caracas |
Venezuelanos participam de festa literária ocupando praças e ruas, revelando um país deferente daquele retratado pela mídia no exterior
Venezuelanos participam de festa literária ocupando praças e ruas, revelando um país deferente daquele retratado pela mídia no exterior - Fotos: Ministério da Cultura

O centro nervoso de Caracas, onde funciona a maioria das instituições do Estado venezuelano, incluindo o Palácio Presidencial de Miraflores, ganhou novas cores e ritmos em novembro, em meio à Feira Internacional do Livro. Os leitores tomaram as principais praças e ruas da capital entre os dias 8 e 18, e fizeram uma festa que surpreendeu os turistas estrangeiros -- acostumados a receber notícias negativas sobre o país, em plena crise econômica.

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Nas estantes das livrarias, havia filas gigantes para comprar. O governo mantém uma política de subsídios para a venda de livros, e a maioria das publicações custa menos de dois dólares (R$ 7, 50). No último dia da feira, uma fila maior do que todas as outras se formou em plena Praça Bolívar, ponto central do evento e referência histórica da cidade. A razão da fila era a distribuição gratuita de um livro sobre a Revolução Russa.

Segundo informações divulgadas pelo ministro da Cultura da Venezuela, Ernesto Villegas, cerca de 650 mil pessoas participaram dos espaços culturais da Feira Internacional do Livro. "Isso é como míssil contra o pessimismo”, diz o ministro em publicação nas suas redes sociais.

Turistas estrangeiros que passavam pela feira ficaram surpresos com o que viram na Venezuela. “Foi muito importante ter feito essa viagem, por duas razões: primeiro, porque fiquei mais tranquilo ao ver que a realidade não é aquela que nos passam os meios internacionais de notícias. Existe uma crise, evidentemente, mas não é uma crise humanitária. Agora, por exemplo, tem música ao vivo, as pessoas estão em festa, estão nos bares, nos restaurantes”, afirmou o turista português, Bruno Carvalho.

A jornalista Teresa Camarão foi passar férias nas praias do caribe venezuelano e aproveitou para passar na Feira Internacional do Livro. Ela se diz chocada com o que viu. “Chegar aqui e ver que toda a informação que eu recebia em Portugal era falsa foi chocante. Por mais que eu tivesse a desconfiança de que ela não era totalmente correta, não imaginava que iria chegar aqui e ver essa multiplicidade cultural, os venezuelanos sorrindo, nos estendendo a mão”, relatou a turista portuguesa.

“Para mim foi bastante impressionante, porque sou jornalista e em Portugal trabalho para um canal que está mais relacionado com a direita. Então, a informação que divulgamos nesse canal é que na Venezuela todas as pessoas passam fome, que na Venezuela não há liberdade, que todas as pessoas estão passando mal e querem sair daqui", acrescentou. "Quando cheguei, vi que não era bem assim, apesar das dificuldades que são provocadas por uma crise econômica. Mas também percebi que essa é uma crise econômica induzidas por outros países e pelas sanções dos Estados Unidos”, finalizou Teresa, levando consigo vários livros comprados na feira literária.

Participaram do evento escritores de referência como Alicia Jrapko, Felipe Martínez Pinzón, Luisa Campusano, Matías Segreti, Albino Chacón, Luis Bilbao, Hernando Calvo, Claudio Maldonado, Rita Martufi, Luis Melgar Brizuela e Vicente Battista. A feira foi dedicada à poeta Ana Enriqueta Terán e às comunidades migrantes na Venezuela.

Edição: Daniel Giovanaz