ANÁLISE

Nove razões pelas quais os EUA perseguem o governo da Venezuela

Entre os interesses estadunidenses estão os recursos naturais, principalmente o petróleo, e o fim de acordos regionais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cartaz contra Trump em uma manifestação realizada em Caracas, capital da Venezuela, na última segunda-feira (04)
Cartaz contra Trump em uma manifestação realizada em Caracas, capital da Venezuela, na última segunda-feira (04) - Foto: Federico Parra/AFP

A tensão em torno da Venezuela vem dominando o noticiário de todo o mundo. Cada vez mais em confronto direto com o governo do presidente eleito Nicolás Maduro, Donald Trump tem dado muita atenção a esse país sul-americano, inclusive apoiando um deputado opositor autoproclamado presidente do país em janeiro, Juan Guaidó, processo este que muitos analistas internacionais e políticos de outras nações vêm chamando de tentativa de golpe de Estado.

Mas por que os Estados Unidos têm tanto interesse pela Venezuela e realizam ataques contra o país? A cientista política Nazanín Armanian, colunista do jornal espanhol Público, fez uma lista das nove "razões" pelas quais o país norte-americano tem atacado a soberana nação latino-americana.

::: O que está acontecendo na Venezuela? :::

1. Recursos naturais

A Venezuela possui uma grande quantidade de jazidas de diamante, ferro, cobre, alumínio, bauxita, coltan, urânio e gás natural, além de ter uma das maiores reservas de ouro do mundo. Além dessa diversidade, sua maior joia natural é o petróleo. O país é dono de 24% das reservas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), mais do que a Arábia Saudita, que possui 21%. Atualmente, a Venezuela produz mais de 1 milhão de barris por dia (em 2000, eram mais de 3 milhões); desses, 600 mil eram enviados para os Estados Unidos, cuja produção nacional está em queda.

2. A presença da Rússia e da China

Outro motivo são os laços econômicos da região com a China, sua principal credora, à frente dos EUA e da Grã-Bretanha. Os bancos chineses estão emprestando mais dinheiro para os países latino-americanos do que o Banco Mundial. Está nos planos do governo chinês investir 40 bilhões de dólares em petróleo, mineração, alta tecnologia, entre outros. 

A empresa estatal Sinopec (Companhia Petroquímica da China) planeja investir 14 milhões de dólares na faixa petrolífera de Orinoco, localizada no noroeste da Venezuela, em cooperação com a russa Rosneft e a espanhola Repsol.

A Rússia também tem acordos de cooperação militar, econômica e cultural (como o meio de comunicação RT em espanhol) com a Venezuela. Tanto Beijing quanto Moscou assinaram acordos estratégicos de longo prazo com o país sul-americano. A estatal russa Rosfnet, que produz 8% do petróleo venezuelano, assinou, em 2017, um acordo de exploração de gás por 30 anos. 

Para a analista Nazanín Armanian, a relação estratégica de Rússia e China com a Venezuela também está relacionada com o Brasil, pois o golpe de Estado brasileiro de 2016 enfraqueceu a cooperação Sul-Sul proposta no bloco econômico dos BRICS (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Assim, russos e chineses recorrem a outras alianças na região.

3. Fracassos no Oriente Médio e retorno à América

Apesar dos intensos ataques militares dos Estados Unidos e seus aliados, que destruíram a vida de aproximadamente 100 milhões de pessoas no Oriente Médio, a Casa Branca não conseguiu controlar os territórios do Iraque, Afeganistão, Iêmen, Líbia, Sudão e Síria, devido à presença de outros atores mundiais e regionais na região. Neste cenário, para a cientista política, a intenção da Doutrina Monroe é recuperar a América Latina, afastando as forças de esquerda e progressistas em países como Equador, Venezuela, Argentina, Bolívia, Nicarágua, Brasil e México, por meio de operações veladas, sanções econômicas e ameaças militares.

4. Acabar com o projeto de integração econômica do Mercosul

5. Desmantelar a Petrocaribe

A Petrocaribe, iniciativa da Venezuela lançada nos anos 2000 para administrar a venda de petróleo aos países caribenhos com condições preferenciais, representa uma ameaça à política petrolífera de Trump, que quer que os EUA tenham controle do mercado internacional.

6. Enfraquecer o Tratado de Comércio dos Povos (TCP-Alba)

A aliança encabeçada por Bolívia, Cuba e Venezuela, criada em 2006, representa uma alternativa aos tratados de livre-comércio promovidos pelos EUA na América Latina. Portanto, enfraquecer o Tratado de Comércio dos Povos também estaria entre os objetivos de Trump.

7. Evitar mais golpes ao petrodólar

A Venezuela já comercializa seu petróleo em renminbi (moeda chinesa), euro e também em rúpia indiana. A desdolarização do comércio mundial enfraquece a hegemonia financeira dos EUA.

8. A necessidade de Trump de ter sua própria guerra

Todos os presidentes dos EUA devem ter pelo menos uma guerra no currículo, e com Donald Trump não será diferente. Já que o atual presidente estadunidense não entrou na história pelo “seu muro” na fronteira com o México, talvez o faça pela Venezuela, já que neste caso não está sozinho e conta com o apoio do Partido Democrata, da Europa e de grande parte dos regimes da América do Sul.

9. A pressão do lobby pró-Israel na América Latina contra a presença do Irã

Após a reimposição das sanções dos Estados Unidos contra o Irã em 2018, que limitam a exportação de petróleo, o governo da República Islâmica busca aproximar-se da Venezuela de um modo pragmático, anunciando inclusive o envio de navios de guerra às águas do país hermano. Por sua vez, a CIA, e também a Confederação de Associações Israelitas da Venezuela, acusam Maduro de enviar urânio ao Irã, abrigar membros do Hezbollah e da Força Quds (a tropa de elite do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica do Irã) para treinar as supostas guerrilhas do país. Deste modo, para a cientista política, tanto a CIA quanto Israel poderiam vincular o presidente venezuelano com o terrorismo internacional e enviá-lo a Guantánamo.

Edição: Luiza Mançano