Batalha

Fronteira da Venezuela com a Colômbia se prepara para embate

Entre shows nos dois extremos de uma ponte fechada e fluxo de pedestres em uma outra ponte aberta, tensão marca divisa

San António de Táchira (Venezuela) |
Governo colombiano arma palco a poucos metros da fronteira com a Venezuela
Governo colombiano arma palco a poucos metros da fronteira com a Venezuela - Fania Rodrigues

Dois palcos de shows estão sendo montados na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, um de cada lado. O que poderia ser apenas uma competição cultural e musical, na verdade, representa extremos de uma disputa política internacional. Está marcada para este sábado (23) a tentativa de entrada à força, em território venezuelano, de "ajuda humanitária" enviada pelos EUA e países aliados, por meio das fronteiras com a Colômbia e com o Brasil, e pelo mar do Caribe, com frota vinda de ilhas como a de Curaçao. O governo venezuelano rechaça esta interferência estrangeira e denuncia que isso é uma forma de ameaçar e desestabilizar o país.

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Na cidade de Cúcuta, o governo colombiano montou um palco na entrada da ponte internacional Las Tienditas, onde se apresentarão cantores estrangeiros, nessa sexta-feira (22). Do lado venezuelano, no sentido oposto da mesma ponte, músicos nacionais participarão do que foi chamado de "Show pela Paz", que terá duração de três dias, entre 22 e 24 de fevereiro. O governo do presidente Nicolás Maduro anunciou que será uma "ocupação cultural" com artistas venezuelanos nas cidades fronteiriças de San Antonio del Táchira e Ureña.

::: O que está acontecendo na Venezuela? :::

O megashow do lado colombiano é organizado pelo empresário e magnata britânico Richard Branson. Entre os artistas anunciados estão Maluma, Maná, Chyno, Nacho, Juanes, Alejandro Sanz. A brasileira Anitta chegou a ser anunciada pelo empresário, mas sua assessoria negou sua participação.

Além do show, o magnata também organizou uma página web do Venezuela Aid Live com o objetivo de arrecadar 100 milhões de dólares em um prazo de 60 dias para "ajuda humanitária" ao país.

Já o "Show pela Paz" contará com 44 artistas venezuelanos, muios deles famosos em todo o país e outros que são expressão da música folclórica tradicional.

O que pensa a população?

Enquanto a ponte Las Tienditas é fechada para passagem, a Ponte Internacional Simón Bolívar tem um fluxo diário de 30 a 35 mil pessoas por dia entre venezuelanos e colombianos. No local, o Brasil de Fato entrevistou moradores para saber como interpretam o momento atual.

Em meio ao conflito, a maioria da população de San Antonio, na Venezuela, e de Cúcuta, na Colômbia, mantém uma vida normal, porém, com certa preocupação em relação ao desenrolar desse estado de tensão que ronda a fronteira, como conta a cozinheira venezuelana Rosa del Rio.

"Nós, os cidadãos temos que ser vigilantes desse processo. Colombianos e venezuelanos temos que conviver. Agora, trata-se de subsistência. Aqui não existe guerra, a guerra é entre os poderes. Entre os cidadãos não há guerra. Com cada pessoa que falo tem algo a contar sobre como essa dificuldade entre os dois países nos afetam", afirma Rosa, que também é vendedora de doces.

Se depender do fabricante de sabão artesanal, Luis Mujica, também não haverá enfrentamentos entre colombianos e venezuelanos. "O povo da Venezuela é um povo que gosta da paz. Não acredito que ninguém esteja disposto a criar distúrbios. Mas para ninguém é um segredo que essa é uma zona em que operam 'autoridades paralelas', para não chamá-los de outro nome. Eles possuem sua própria lei. Isso escapa a vontade de um governo. Isso é como um estado dentro de um Estado", diz o trabalhador venezuelano.

Mujica, que frequentemente vai até o lado colombiano da fronteira para comprar insumos para seu trabalho, acredita na paz neste momento, mas teme por ações de paramilitares colombianos, atuando como forças desestabilizadoras e criando os chamados "falsos positivos", atentados para culpar o lado contrário do conflito. "Isso pode ocorrer aqui. É que esses eventos se prestam a isso. O temor é que haja um do lado colombiano e outro do lado venezuelano, simultaneamente".

Os militares que fazem a segurança da ponte internacional Simón Bolivar informaram ao Brasil de Fato que o trânsito da via será mantido normalmente todos os dias.

Venezuelanos e colombianos circulam normalmente na Ponte Internacional Simón Bolívar, entre a Venezuela e a Colômbia | Foto: Fania Rodrigues

Edição: Vivian Fernandes