CONSEQUÊNCIAS

Na fronteira com a Venezuela, Roraima será prejudicada com possível guerra

Energia quatro vezes mais cara, aumento da imigração e problemas na agricultura serão alguns dos efeitos

Brasil de Fato | Pacaraima (RR) |
Com a fronteira fechada desde a última quinta-feira (21), os problemas já começam a aparecer como a falta de combustível para veículos
Com a fronteira fechada desde a última quinta-feira (21), os problemas já começam a aparecer como a falta de combustível para veículos - Nelson Almeida/ AFP

Na fronteira com a Venezuela, Roraima é o único estado brasileiro que não está interligado ao sistema elétrico nacional e parte da energia utilizada pela população local vem do país vizinho. Com o cenário de uma guerra promovida pelos Estados Unidos e seus aliados contra a Venezuela, a possibilidade de corte de energia é real, segundo especialistas. Com isso cidades como a capital Boa Vista podem ser obrigadas a racionar energia ou até mesmo ficarão às escuras.

Presidente do Sindicato dos Urbanitários de Roraima, Gisselio Cunha Lima, afirma que 80% da energia consumida no estado vem da Venezuela e que somente 20% é produzida localmente. Representante dos trabalhadores do sistema elétrico no estado, Gisselio calcula que sem a energia que vem Venezuela a conta de luz para o povo de Roraima aumentaria em quatro vezes, já que para a produção por meio de usinas termelétricas é de R$ 100 milhões por mês. Assim mesmo, ele questiona a capacidade do estado garantir o serviço. “Se o fornecimento for cortado não acredito que na capacidade produzir energia durante as 24 horas do dia”, alerta.

Três milhões de imigrantes

Na última sexta-feira (22) diferentes entidades lançaram na capital Boa Vista o “Manifesto Pela Paz na Venezuela”, que além de condenar as ameaças de guerra ao país vizinho por parte dos Estados Unidos, alerta para as consequências que o confronto pode trazer. Entre os pontos está o aumento da imigração em caso de intervenção militar. Segundo as entidades, dos 180 mil venezuelanos que entraram no estado, 35 mil continuam vivemos em território roraimense. Desses 8 mil estão em abrigos.

Além de denunciar a exploração dos trabalhadores venezuelanos que chegam à Roraima, as entidades ainda alertam que a imigração deve aumentar significativamente. “Aqui para Roraima pensamos que outras três milhões de pessoas podem sair da Venezuela fugindo da guerra através de nossa fronteira”, alerta Geomar Vilela, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Nossa angústia é pensar: será que a população de Roraima tem ideia do que está para acontecer?”, complementa o vice-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado, Titonho Bezerra.

Agricultura e desabastecimento

Com a fronteira fechada desde a última quinta-feira (21), os problemas já começam a aparecer. Dependente do posto de gasolina do lado venezuelano, os motoristas de Pacaraima devem seguir 300 km até Boa Vista para abastecer os veículos ou optar pelo abastecimento clandestino na cidade. Sem combustível, existe o risco de desabastecimento do lado brasileiro segundo afirmou recentemente o governador Antônio Denarium (PSL) em declarações à imprensa durante sua passagem por Brasília no dia 21 deste mês.

A visita de Denarium ao governo federal também serviu para pedir ajuda para as questões relacionadas ao problema de corte no fornecimento energia que pode ocorrer no estado e que, segundo ele, atualmente, diferente da afirmação do representante dos trabalhadores do setor elétrico de Roraima, depende de 50% da Venezuela. O governador também chamou atenção para os problemas trazidos para a agricultura com o fechamento da fronteira. "Nós somos importadores de fertilizantes, de calcário da Venezuela, o que pode atrapalhar também o abastecimento de calcário para a nossa próxima safra e nosso próximo plantio que se inicia agora no mês de maio e junho", declarou em conversa com diferentes veículos de comunicação durante sua passagem pela capital federal.

Edição: Mariana Pitasse